As empresas têm buscado diminuir os conselhos, estruturas que visam tratar estratégias a longo prazo e políticas para toda a companhia, e criar mais comitês, núcleos especializados para tratar de temas importantes, aponta pesquisa da ZRG Brasil, empresa de consultoria em lideranças, com companhias listadas na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo.
A tendência se refletiu no número total de integrantes de conselhos e comitês: nos conselhos, eram 1.719 membros em 2020, 1.700 em 2021 e 1.593 em 2022 - queda de 8% em dois anos. Já nos comitês, a evolução foi de 1.518 em 2020, saltando para 1.686 em 2021 e chegando a 1.973 em 2022 - subida de 29% no período. A situação deve ter efeito positivo na governança corporativa, avaliam os autores.
A pesquisa também demonstrou quais foram os temas que tiveram mais comitês criados. O líder absoluto foi o de Riscos, que passou de 75 para 134 (aumento de 78,6%). Na sequência, aparece os de Finanças e Fiscal, que foram de 118 para 169 (+43,2%); Investimentos, Fusões e Aquisições e Ativos, de 49 para 68 (+38,7%), Estratégia, Inovação e Novos Negócios, de 151 para 194 (+ 28,4%) e ESG, Ética e Governança, de 232 para 289 (+24,5%).
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Segundo os autores da pesquisa, a situação é positiva e deve levar a uma melhoria na governança corporativa, já que os comitês têm mais tempo para debater os assuntos e informar os conselhos sobre as medidas a serem tomadas. “Os comitês conseguem entrar em detalhes que os conselhos não teriam tempo para analisar”, explica Aline Larangeira, Sócia e líder da Prática de Avaliação de Conselhos na ZRG.
“O mundo ficou muito mais complicado. Se alguém disser que está entendendo o que acontece ao redor, está enganado”, comenta Darcio Crespi, sênior advisor da ZRG. “Os comitês estão aí para auxiliar no entendimento, cada vez mais especializados e por vezes com elementos externos”, reforça. Assim, os comitês se tornam um ponto de equilíbrio e garantem haver muito mais pessoas observando e buscando um determinado resultado.
Dinâmica
A interação entre as duas instâncias tem sido tranquila, através de uma dinâmica de reuniões de conselho ajustadas para trazer a participação dos comitês, que por sua vez tem mais interação com as diretorias e outras partes do nível operacional. “O comitê vai ter muito mais tempo para os assuntos específicos e pode se reunir mais vezes”, conta Larangeira.
“Quando um tema vai para o comitê, tem a obrigação de entrar no detalhe, e quando traz para o conselho, é de uma forma mais sumária, resumida. Assim se consegue trazer uma contextualização um pouco maior. E, como sempre foi, toda decisão é no conselho”, completa. A informação de qualidade é crucial, já que a possibilidade de responsabilização de conselheiros hoje é maior.
Crespi cita como exemplo os comitês de recursos humanos e gestão de pessoas de como funciona a dinâmica. “Por vezes, o assunto fica na rabeira da pauta e acaba tendo um tempo exíguo para ser apresentado. Algumas vezes nos últimos anos, vi como um dos primeiros três assuntos, mas no geral é um dos últimos, e não deveria ser”, comenta. É importante lembrar que temas como saúde mental e turnover, políticas de home office e remuneração e saúde física, que envolvem a empresa toda e se tornaram mais importantes durante a pandemia, estão sob a alçada da gestão de pessoas.
Riscos
O crescimento no número de comitês de riscos teria surgido, principalmente, por causa da pandemia de Covid-19. Durante a emergência sanitária, as companhias iniciaram a criação de comitês de crise e risco. Uma vez que os números da doença respiratória caíram, os comitês de risco foram mantidos, enquanto outros focados na estratégia foram criados ou permaneceram.
Temas como ESG (pauta ambiental, social e de governança corporativa) e tecnologia também passaram a ser mais presentes, mas ainda necessitam de mais prioridade. “Quando a empresa está em um momento melhor, começa a tratar do ESG com mais atenção. Mas temos visto uma pressão grande vinda dos investidores e de todos os lados para o amadurecimento nesses temas. As empresas começam de forma cética, mas depois genuinamente tem uma discussão mais madura”, avalia Larangeira.
Diversidade
A pesquisa também avaliou a divisão de gênero nos conselhos e comitês. Em três anos, o crescimento tem sido lento, mas gradativo em 2 pontos percentuais - saindo de 12% em 2020, para 14% em 2021 e 16% em 2022, nos boards. Nos comitês, subiu de 15% para 16% e agora está em 18%. Os números são considerados baixos e preocupantes.
“Ter pessoas diferentes ajuda a ter visão mais ampla, uma perspectiva maior, e enxergar outros riscos que ninguém estava encontrando. As empresas às vezes tem arrogância e ignoram muitas coisas”, afirma Larangeira. Contudo, ela relata que há um esforço para aumentar a diversidade de gênero e ter políticas para desenvolvimento de carreira. “Ainda é muito baixo, mas estamos no caminho certo”, conclui.
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