Embora os avanços da agenda sustentável sejam um tema recorrente no setor privado, eles ainda não são convertidos no financiamento da descarbonização na iniciativa privada. Sete em cada dez líderes empresariais (73%) dizem não ter acesso a mecanismos de financiamento verdes, segundo o estudo “Finanças Sustentáveis” da Deloitte em parceria com a AYA Earth Partners. Atualmente, apenas 10% dos empresários acessam financiamentos deste tipo.
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O estudo, divulgado nesta terça-feira, 28, e obtido em primeira mão pelo Estadão, ainda demonstra que 10% sequer sabem onde encontrar estes investimentos no Brasil, demonstrando que mesmo com a crescente conscientização de agentes de mercado em torno da questão climática e o desenvolvimento de novas linhas de crédito verde feitas por instituições financeiras, ainda é preciso trabalhar na estruturação destas soluções.
Os investimentos nesta área ainda são pouco conhecidos pelas empresas responsáveis por fornecer esse tipo de financiamento, em especial dos gestores de fundos. A questão impacta não só o desenvolvimento sustentável das empresas, que têm dificuldades de encontrar incentivos, mas também a oferta de tecnologias de descarbonização.
Mais da metade (56%) dos empresários acredita que a oferta de tecnologias de descarbonização que possam ser aplicadas em seu setor é baixa ou nenhuma. Além disso, 63% dos executivos indicam que o grau de maturidade das tecnologias de baixo carbono disponíveis em seu segmento é “baixo” ou “muito baixo”.
Para o sócio da divisão de finanças da Deloitte, Luiz Paulo Assis, o estudo demonstra a necessidade de um engajamento maior de parte das instituições financeiras, organizações de mercado local e organismos multilaterais em direcionar o mercado a destravar o financiamento sustentável, considerado parte essencial para o desenvolvimento do Brasil rumo a uma economia de baixo carbono.
“Os investidores estão com cautela atualmente. Temos avanços nos estudos, mas sem escala nas ações práticas”, afirmou Assis durante o evento HSM+, realizado em São Paulo nesta terça-feira, 28.
Segundo o levantamento, um dos fatores que dificultam o acesso às linhas de financiamento sustentável seria a falta de regulação sobre créditos de carbono, embora os riscos climáticos e de transição energética já façam parte das avaliações de crédito de algumas instituições financeiras.
“A falta de sistemas para identificar e qualificar objetos de investimentos verdes também são um obstáculo”, afirma Assis, destacando que houve um avanço após o Governo Federal ter lançado uma consulta pública sobre esse assunto, mas é preciso mais. “Existem ideias, mas soluções práticas são poucas. O papel do governo ainda é baixo. Temos visto que ele tem feito ações, mas há necessidade de que os investidores e as empresas deem uma celeridade maior.”
Para Assis, o estudo demonstra que embora o ESG tenha ganhado atenção das empresas, ainda existem lacunas na estratégia e na gestação desta temática, reforçando a necessidade de uma participação de todas as partes para avanços efetivos nesta agenda.
“Superar obstáculos podem impulsionar o Brasil como um dos líderes globais na transição verde. Ficar para trás nesse processo significaria perder enormes oportunidades dentro e fora do País”, afirma Assis.
Falta de conhecimento
Outro ponto do estudo é a falta de conhecimento das empresas em relação ao seu papel na agenda de descarbonização brasileira. O estudo aponta que falta compreensão de líderes empresariais sobre questão climática nos negócios e qual o impacto do seu negócio no meio ambiente.
“Existe um interesse do mercado, mas há um desalinhamento de quais os gargalos e uma assimetria de informação importante que precisa ser trabalhada setorialmente para aumentar esse volume de investimentos”, explica o CEO da Aya Earth Partners, Eduardo Aranibar.
Essa falta de conhecimento impacta não só na quantidade de projetos desenvolvidos por essas empresas, mas também na utilização de mecanismos de compensação voluntária para mitigar os gases de efeito estufa gerados pelas empresas.
Apenas quatro em cada dez já utilizam ou estudam utilizar mecanismos de compensação voluntária de emissão de carbono (38%), tendo como principais obstáculos para ampliação a precariedade da infraestrutura amazônica, a falta de regulamentação no Brasil e os custos elevados de projetos de reflorestamento.
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