São Paulo - O setor supermercadista brasileiro atingiu um nível “razoável” em critérios de Responsabilidade Ambiental, Social e Governança (ESG, na sigla em inglês) em um estudo feito pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e a consultoria KPMG. Os outros conceitos possíveis para cada parâmetro do estudo eram: “excelente”, “muito bom”, e “requer atenção”. O patamar “razoável” indica que as práticas ESG são adotadas por 25% a 49% dos supermercadistas pesquisados. As melhores notas do setor apareceram na área social e as piores, nos critérios de governança.
No geral, as notas alcançadas foram consideradas melhores do que o esperado pela própria Abras, mas os organizadores reconhecem que esse foi um primeiro diagnóstico e que as próximas pesquisas têm pontos a serem aprofundados.
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Para Fernando Gambôa, sócio da KPMG responsável pelo estudo, é preciso levar em conta que a maior parte do setor é composta por empresas de porte médio, que não têm acesso a uma estrutura de governança que companhias listadas têm. Foram entrevistadas 350 empresas, que representam 46% do faturamento do setor, hoje estimado em R$ 611 bilhões por ano. Das pesquisadas, 17 estão entre as 25 maiores companhias do segmento.
Na parte Social, 81% das empresas tem projetos para público vulnerável, 71% tem indicadores e 52% têm metas. Na medição dessas práticas, o conhecimento e as iniciativas das empresas chegaram à nota “excelente” em questões voltadas para “contratação de pessoas das comunidades do entorno”, “saúde e segurança de terceiros nas operações”, por exemplo.
Já em critérios como diversidade de raça, gênero e de religião as notas ficaram no nível “muito bom”. No entanto, a pesquisa não aprofundou se esses níveis de diversidade se mantêm quando se avalia cargos de chefia e de alta chefia. “Podemos endereçar isso em uma próxima pesquisa, mas vale ressaltar que o varejo é uma porta de entrada para o primeiro emprego e, portanto, um agente de mobilidade social”, diz Gamboa.
Os supermercados ficaram no nível razoável, porém, no critério de “certificação social das instalações” e registraram níveis de atenção nas iniciativas e na maturidade da “certificação social dos fornecedores’'.
Na contagem geral, 69% dos respondentes têm projetos sobre diversidade de gênero, raça e inclusão da terceira idade nas operações; 72% têm projetos voltados à inclusão de pessoas com deficiência e 63% dispõem de projetos no campo da diversidade religiosa. No entanto, mais de 60% das empresas supermercadistas não publicam os dados de origem sobre os produtos comercializados (rastreabilidade).
No pilar ambiental, as melhores notas dos supermercados foram nos critérios de eficiência energética, gestão de resíduos e certificação ambiental das instalações. Todas essas linhas atingiram o nível “muito bom” na maior parte dos pontos analisados. O critério que mais acusou níveis preocupantes foi o de “redução de emissões de gases do efeito estufa na logística. Menos de 25% dos respondentes adotam práticas voltadas para combater esse problema.
Sobre o aspecto ambiental e a rastreabilidade da cadeia de produção daquilo que é vendido nos supermercados, João Galassi, presidente da Abras, diz que o setor é fiel à legislação e às normas das agências reguladoras responsáveis por certificar os produtos disponíveis em suas prateleiras. No entanto, ele diz que tem aprendido que “o que está na lei, não é prática ESG”, ou seja, as empresas têm de ir além. “Queremos elevar o nível dessas práticas”, diz. Ele pondera, no entanto, que redes menores compram boa parte dos produtos de distribuidores, o que dificulta o poder de pressão dessas empresas em grandes indústrias.
Governança
Os maiores problemas aparecem no pilar da governança. Só 16% das empresas pesquisadas têm “asseguração independente das divulgações de ESG”. Apenas 15% das empresas dão compensações financeiras para os profissionais que atingem metas ESG. Além disso, só 14% fazem divulgação do impacto das mudanças climáticas sobre suas operações. O estudo mostrou ainda que, de acordo com 59% dos respondentes, suas empresas não têm políticas que definam o comportamento das empresas e dos funcionários em relação às questões ambientais, sociais ou éticas.
Além do menor porte de muitas empresas do setor, o que dificulta o acesso a instituições independentes que certifiquem os dados de práticas sociais e ambientais dessas instituições, Gamboa lembra que os critérios de exigência para dizer se uma empresa atende ou não aos princípios ESG ainda não são claros como os parâmetros financeiros aos quais as companhias devem atender.
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