A sustentabilidade é vista por empresários brasileiros como um diferencial competitivo numa proporção duas vezes maior do que no resto do mundo, segundo uma pesquisa da companhia alemã de softwares de gestão de empresas SAP. O levantamento ouviu 4.750 líderes de negócios de empresas de grande e médio porte em 21 países, incluindo o Brasil.
O levantamento aponta que 53,8% dos líderes brasileiros enxergam uma forte correlação entre as ações de sustentabilidade e a lucratividade das empresas — aumentando sua competitividade no mercado. Essa percepção é duas vezes maior do que a média global, de 29,2%. Do total, apenas 2,6% dos entrevistados brasileiros veem a sustentabilidade como um impacto negativo para os negócios.
Para a presidente da SAP Brasil, Adriana Aroulho, os dados demonstram a posição de “vanguarda” que o País assumiu nos últimos anos em relação aos negócios sustentáveis. “Já superamos a etapa de convencer nossos empresários da vantagem competitiva que uma boa estratégia ESG pode trazer para as empresas” afirma.
A executiva ressalta que a abundância de recursos naturais e da biodiversidade presente no País são vistos como um importante diferencial competitivo no mercado internacional, colocando a pauta de sustentabilidade como um investimento que impacta positivamente o resultado financeiro das empresas.
O líder de finanças da empresa, Gustavo Conrado, destaca que o Brasil ainda não chegou ao patamar do mercado europeu, onde algumas práticas já são consolidadas, mas afirma que essa definitivamente se tornou uma pauta prioritária das empresas, inclusive para a área financeira. ”Pensando em longevidade financeira e reputacional, os diretores financeiros estão se movimentando.”
Impacto na rentabilidade
O levantamento da SAP aponta ainda que a grande maioria dos empresários brasileiros já enxerga a pauta como sinônimo de rentabilidade e lucro futuro.
Com essa perspectiva, 63,5% dos líderes brasileiros têm a intenção de aumentar os investimentos em sustentabilidade nos próximos três anos, aliando a estratégia a uma maior mensuração do impacto ambiental dentro do seu próprio negócio.
Em contrapartida, 25,2% das grandes empresas nacionais pretendem manter o nível atual de investimento, e 3% não têm planos de investimento de curto prazo em sustentabilidade. Na pesquisa, não foram mencionados quais seriam os valores destes investimentos.
O levantamento aponta que a expectativa dos empresários é que o retorno desses investimentos seja visto no curto prazo. Para 42,4% dos entrevistados, o impacto positivo será sentido de 1 a 3 anos, enquanto 44,2% avaliam que os impactos serão mensuráveis em 3 e 5 anos.
A percepção contraria a visão de muitos especialistas da área, que apontam que os investimentos atrelados à agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) poderão ser vistos apenas no médio e longo prazo — considerando que muitas das empresas devem passar por processos extremamente custosos e complexos para conseguir atingir os seus objetivos sustentáveis.
Cadeia de suprimentos
O levantamento ainda confirma uma tendência vista em diversas empresas: a exigência de boas práticas ambientais dos seus fornecedores, chamado popularmente de “escopo 3″ na agenda ESG.
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Cerca de 23,6% dos entrevistados reportaram mapear as emissões geradas por terceiros em suas cadeias produtivas com alto grau de confiabilidade, enquanto 40,2% mapeiam as emissões com grau moderado de confiança.
Em suma, as emissões feitas por empresas (escopo 1 e 2) são obrigatórias, enquanto o escopo 3, que se refere a preocupação em rastrear e compensar as emissões de carbono que ocorrem na cadeia de valor de uma empresa, é voluntário.
Esse é considerado o mais difícil de monitorar, mas um dos mais importantes, considerando que permitirá o monitoramento de todo o ciclo de vida de um produto e ter relatórios fiéis às suas práticas. Justamente por isso, àquelas organizações que conseguirem relatar todos os três escopos obterão uma vantagem competitiva.
Embora a resolução do escopo 3 esteja na pauta de diversas empresas, a maioria delas ainda relata dificuldades em aferir dados. Dentre as dificuldades estão: a falta de infraestrutura tecnológica para a troca de dados de forma confidencial e aferível (31,9%), limitações na troca de dados sobre impacto ambiental (30,6%) e a falta de fontes de dados precisas e aferíveis (29,6%).
Para contornar estes problemas, o levantamento aponta que as empresas estão adotando obrigações contratuais sobre aferição e compartilhamento de dados para os seus parceiros de manufatura (46,8%), fornecedores de matéria-prima (36,9%) e parceiros de logística (36,2%).
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