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‘Vejo com preocupação a falta de governança no nosso país’, afirma ex-ministro do Desenvolvimento

Em evento do Lide, empresários e executivos discutiram o cenário da governança corporativa no Brasil

Foto do author Matheus Piovesana

O ex-ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, afirmou que vê com “preocupação” o que chamou de falta de governança no Brasil em evento promovido pelo Lide em São Paulo na última sexta-feira, 27, que debateu a perspectiva de empresas sobre esta pauta. Na ocasião, o executivo fez menção à queda das ações da Petrobras nesta semana, após a proposta de mudanças no estatuto da empresa que foi vista como uma brecha para ampliar indicações de cunho político na petrolífera.

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”Eu vejo com preocupação a falta de governança no nosso País”, disse ele durante seminário de governança corporativa. “Cada vez que sai uma notícia sobre uma empresa onde haja uma influência estatal, Petrobras cai 6% num dia. Sabe quanto é 6% num dia? R$ 50 bilhões porque saiu uma notícia”, disse.

Durante o evento, Furlan se referiu a episódios da história empresarial brasileira em que houve falta de governança corporativa. O primeiro foi a quebra da Bolsa do Rio de Janeiro, nos anos 1990. Depois, falou ainda sobre a quebra da Sadia, em 2008, durante a crise financeira mundial.

Na época, o executivo era um dos herdeiros do fundador da Sadia, Atílio Fontana, e não estava na empresa quando ela quebrou por causa da exposição a derivativos de dólar, que geraram prejuízos milionários no final de 2008. Ele voltou à presidência do conselho da companhia após o episódio, e antes da fusão com a Perdigão que criou a BRF.

Ao longo de sua fala, o empresário também mencionou episódios ocorridos na própria Petrobras, tratando em especial de decisões do conselho quando o órgão era comandado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que à época era ministra do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Além do ex-ministro, que também comentou sobre as práticas adotadas dentro da empresa foi o vice-presidente do conselho de administração da Suzano, Daniel Feffer, que afirmou que as estruturas de governança das empresas precisam ser revisadas de forma constante para evitar o que chamou de “síndrome das estruturas vazias”. Na Suzano, disse, há uma avaliação periódica justamente para evitar esse efeito.

Vice-presidente do conselho de administração da Suzano, Daniel Feffer Foto: Janete Longo/AE

”Podemos ter uma boa composição, bons processos e uma boa estrutura e viver o que se chama de síndrome das estruturas vazias, é bonito, mas não funciona”, afirmou ele durante seminário de governança corporativa promovido pelo Lide em São Paulo nesta sexta-feira. Na Suzano, afirmou, há uma avaliação do conselho a cada três anos, que ajuda a evitar que esse tipo de problema ocorra.

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Feffer lembrou que a partir de 2001, com a morte do pai, Max Feffer, a família deixou os cargos executivos da empresa e passou a atuar no conselho. “E assim nós fomos evoluindo, passando pela criação do conselho de família, organizando as relações entre a empresa e a família”, comentou.

O vice-presidente do conselho da Suzano afirmou ainda que a companhia se beneficia de um trabalho de governança feito ao longo de décadas. A empresa de papel e celulose listou ações na Bolsa brasileira em 1980.

Visão dos bancos

Outro setor que se desenvolveu no debate da governança no país foram os bancos. Ainda durante o evento, a presidente do conselho de administração do Santander Brasil, Deborah Vieitas, disse que a unidade brasileira tem grande autonomia no quesito governança. Segundo ela, há um alinhamento com o Grupo Santander espanhol em questões-chave, como fatores de risco, por exemplo.

“No resto, a autonomia é bastante grande porque somos o terceiro maior banco privado do Brasil, e para sermos dinâmicos, competitivos, precisamos que essa governança seja ágil”, afirmou Vieitas durante seminário de governança corporativa promovido pelo Lide em São Paulo nesta sexta-feira.

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O Santander Brasil tem o segundo maior resultado do Santander no mundo todo, embora tradicionalmente tenha sido o primeiro. “O Brasil representa entre 27% e 30% dos resultados do Grupo Santander”, disse ela. “Não existe nenhum banco do porte do Santander que tenha sido bem-sucedido como banco universal no varejo”, adicionou, afirmando ainda que a autonomia da unidade brasileira permitiu que o Santander ganhasse esse porte.

Ainda de acordo com ela, as estruturas internas de governança do Santander são iguais às do Grupo, justamente para fazer frente às regras que o banco tem de cumprir aqui e lá. O Santander Brasil tem capital aberto na B3, enquanto o Santander espanhol é aberto na bolsa de Madri.

Além disso, o banco responde a dois reguladores, o europeu e o brasileiro. “Nós recebemos inspeções do Banco Central Europeu e do Banco Central do Brasil. Os dois se juntam para falar das inspeções, então realmente é uma carga regulatória importante”, disse.

Vieitas afirmou ainda que o sistema de governança com estruturas espelhadas funciona a contento. Ela também afirmou que o controlador está satisfeito com a posição acionária que detém do Santander Brasil. “O controlador tem 80% das ações e está tranquilo e feliz com isso, não almeja fechar capital ou algo similar.”

O copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, afirmou no evento que o órgão não interfere na gestão do conglomerado. Segundo ele, a atuação durante a pandemia é um exemplo dessa separação de responsabilidades.

Copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco, Roberto Setubal Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

“O conselho não interfere na gestão, isso é responsabilidade dos executivos”, afirmou ele durante seminário de governança corporativa promovido pelo Lide em São Paulo nesta sexta-feira.

Setubal disse que, na pandemia, o conselho do Itaú se preparou com a proteção ao balanço do banco, diante de um cenário em que se esperava um salto na inadimplência. “O papel do conselho foi muito mais em se preocupar com a situação macro e proteger o balanço do banco do que interferir na operação”, afirmou.

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