Vinícola Salton aposta em juventude e ESG por competitividade

Produtora de bebidas do Rio Grande do Sul tem gestão comandada por pessoas com menos de 40 anos

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Foto do author Luis Filipe Santos

A governança de empresas familiares costuma ser vista como um desafio: ao mesmo tempo em que é necessária para evitar conflitos, também é comum que esses conflitos cheguem antes dos processos para lidar com eles serem instalados. A vinícola gaúcha Salton já teve que superar esses problemas antes - fundada em 1910, atualmente é comandada pela quarta geração da família de mesmo nome, todos com menos de 40 anos. A visão da gestão é de levar a pesquisa e as questões ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) como uma forma se manterem competitivos e ganhar novos mercados.

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Anteriormente, ainda na segunda geração, a companhia teve que lidar com problemas familiares que a prejudicaram, devido ao conflito entre questões pessoais e profissionais, e fizeram com que a seguinte tivesse que focar em reerguê-la e torná-la rentável. Há cerca de 15 anos, foi iniciada a transição para a quarta geração, feita com planejamento: o perfil de quem poderia assumir cargos na companhia foi definido com antecedência, tendo passado por diversos cargos anteriormente, mesmo que não fosse da família que dá nome ao negócio.

Pessoas mais velhas ligadas à organização seguem no conselho de administração e em alguns comitês como suporte, embora o dia a dia seja tocado pelos jovens. A participação dos experientes é considerada importante para passar conhecimento dos ciclos do negócio - um exemplo é na questão do consumo de destilados, que passa por altos e baixos - e ajudar a diminuir a ansiedade dos jovens.

Após a transição, os gestores chegaram com novas visões. Enquanto a terceira geração era mais focada no resultado e na harmonização após os conflitos, a nova chegou em busca da geração de valor não só financeiro, mas também em outros aspectos, como os ligados ao ESG. Embora as gerações anteriores da empresa também dessem uma contribuição social, isso é mais pronunciado agora. “A gente vem de uma geração mais jovem que entende qual poderia ser a contribuição adicional da empresa, que excede o aspecto corporativo e vai para o mercado, respinga em outras empresas”, explica Maurício Salton, CEO da vinícola.

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Maurício Salton, CEO da Vinícola Salton Foto: Divulgação / Vinícola Salton

Avanços

Uma das iniciativas foi a criação de um Núcleo de Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento, visando pesquisar questões relacionadas à viticultura e enologia, em busca de dados científicos que embasassem as decisões da empresa, além da inovação. Assim, foram testados projetos piloto como a venda de bebidas em latas ou o lançamento de chás combinados com sucos de uva, que não eram parte do portfólio de produtos. As pesquisas para a viticultura se desdobraram também na área ambiental.

Um exemplo foi uma cartilha de orientação para adubação de vinhedos na região da Campanha Gaúcha, pesquisa que durou dez anos e foi compartilhada com produtores da região. A ideia é de que os estudos sejam publicados e ajudem também os agricultores que vendem as uvas para a Salton - a empresa não tem previsão de ter apenas produção própria da fruta. “Esse núcleo é composto de um grupo bastante multidisciplinar e tem uma perspectiva de mudar a forma de trabalho da empresa. Fomos bastante abertos a qualquer tipo de ideia que poderia agregar algo positivo para o negócio e não necessariamente diretamente relacionadas ao aspecto financeiro. Pode ser uma contribuição de princípios, que engrandeça o legado da empresa e eventualmente repercuta em termos de imagem”, avalia Maurício.

Um trabalho sugerido pelo núcleo foi um inventário de emissões de gases de efeito estufa, realizado em parceria com a Universidade de Caxias do Sul (UCS). O estudo mediu as emissões nas quatro unidades da vinícola, em Bento Gonçalves (RS), Santana do Livramento (RS), São Paulo (SP) e Jarinu (SP) e contabilizou 950,54 toneladas de CO2 emitidas, contra 15.786,91 de toneladas de CO2 removidas, sendo que a maior parte de remoção vem das áreas de vegetação natural preservadas nos biomas. Numa próxima fase, a meta é medir as emissões indiretas, que não estão sob controle direto da organização e que podem ser importantes no compromisso contra as mudanças climáticas. No núcleo também se iniciaram ideias voltadas para economia circular dos resíduos, ainda em avaliação.

A empresa também tem testado o uso de garrafas de vidro “aliviadas”, com peso reduzido. A ideia é diminuir as emissões de gases de efeito estufa na produção dos itens, ao utilizar menos matéria-prima, e no transporte, com o peso menor dos caminhões que transportam centenas ou milhares de garrafas. Porém, a reutilização dos recipientes ainda não é possível, segundo o CEO, porque demandaria uma limpeza feita com produtos químicos agressivos, como soda, que podem causar problemas à saúde dos trabalhadores que os manejam.

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Competitividade

A avaliação de que o ESG vai impactar nos hábitos de consumo é a principal razão pela qual a Vinícola Salton tenta acompanhar a pauta. Se a pandemia alterou a maneira como o consumidor comprava e o momento em que tomava as bebidas, também está atento às questões sociais e ambientais, e pode considerá-las como um pré-requisito antes de sequer efetuar a aquisição dos vinhos e destilados. Outros pontos, como o incentivo ao consumo consciente de álcool e o relacionamento com os produtores de uvas parceiros, também tendem a ser definidores e atraem a atenção da direção.

“Acredito que no futuro essas questões vão se tornar mais consistentes. Não sei se haverá um ganho financeiro, talvez isso signifique ser competitivo. Ser uma empresa positiva, que tem uma contribuição além do econômico, leva o cliente a se identificar com essa empresa e desejar consumir os produtos. A questão não é de retorno financeiro, é de competitividade”, avalia Maurício Salton.

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