Governo sentirá aperto fiscal em 2026 se deixar Previdência fora do corte de gastos, aponta estudo

Para Paulo Bijos, consultor da Câmara e ex-secretário de Orçamento Federal, só há dois caminhos: reforma da Previdência ou desvinculação de benefícios ao salário mínimo

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Foto do author Daniel  Weterman

BRASÍLIA – O governo Lula sentirá os efeitos de uma restrição fiscal, com redução de recursos necessários para a manutenção da máquina pública, já em 2026 – ano de eleição presidencial – se deixar a Previdência Social fora do pacote de corte de gastos e nada for feito para corrigir a rota dos gastos com aposentadorias e pensões. O cenário é apontado em estudo do consultor da Câmara e ex-secretário de Orçamento Federal Paulo Bijos.

Na semana passada, a expectativa frustrada pelo anúncio do pacote de revisão de despesas pelo Executivo fez o dólar disparar. Integrantes do governo e do mercado financeiro esperam que decisão seja concluída após reuniões de ministros da equipe econômica e das áreas afetadas que acontecem nesta terça-feira, 5.

Ministros Simone Tebet (Planejamento) e Fernando Haddad (Fazenda), durante coletiva de imprensa no dia 17 de junho de 2024. Foto: Wilton Junior/Estadão

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A equipe econômica estuda limitar as principais despesas do Orçamento a um crescimento real (acima da inflação) de 2,5%, seguindo o mesmo teto do arcabouço fiscal, mas pode deixar as aposentadorias de fora. Lula e o PT resistem à ideia de mexer na vinculação de parte dos benefícios previdenciários ao salário mínimo – um dos fatores que mais pressionam o crescimento de gastos e a sustentabilidade do arcabouço.

A despesa com benefícios previdenciários do Regime Geral de Previdência Social em proporção do Produto Interno Bruto (PIB) deve escalonar a partir de 2028, chegando a praticamente dobrar até o fim do século, segundo projeção do próprio governo citada no estudo da consultoria da Câmara.. As receitas, por outro lado, permanecerão praticamente estacionadas, aumentando os déficits previdenciários no futuro.

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“A realidade prática imporá restrições fiscais à gestão pública já no curto prazo. Isso ocorrerá pela via da redução de despesas discricionárias (não obrigatórias), como consequência do aumento de despesas obrigatórias – sobretudo previdenciárias – em valores absolutos, ainda que não se elevem como proporção do PIB”, diz o estudo.

A restrição, na visão do autor, pode ser sentida já em 2026. Um estudo da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado aponta que, fora os gastos obrigatórios e carimbados, como Previdência, pisos de saúde e educação e emendas parlamentares, o governo não terá dinheiro para bancar despesas em outras áreas a partir do último ano do mandato de Lula.

Dois fatores explicam o crescimento de gastos na Previdência: o envelhecimento da população e a vinculação de parte dos benefícios à valorização do salário mínimo, que tem crescimento real conforme a inflação e o PIB. A proporção de idosos no Brasil tende a aumentar de 15,6% em 2023 para 37,8% em 2070, sendo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O salário mínimo não afeta apenas a previdência, mas também o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o seguro-desemprego e o abono salarial. A União deve R$ gastar 1,2 trilhão com esse grupo de despesas no ano que vem. Cada R$ 1 a mais no salário vai aumentar as despesas do governo em R$ 422 milhões no Orçamento de 2025. Com esse dinheiro, o governo poderia construir 120 creches ou 60 mil cisternas.

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Para o ex-secretário de Orçamento, só há dois caminhos: uma nova reforma da Previdência ou a desvinculação dos benefícios ao salário mínimo. “Do contrário, a consequência será o estrangulamento de despesas discricionárias e o aumento da percepção de que o arcabouço fiscal vigente se tornará insustentável e ineficaz para a melhoria de resultados fiscais e o controle da dívida pública”, diz Paulo Bijos.

Estudo sugere duas medidas para o governo economizar R$ 1,1 tri em dez anos

Em entrevista ao Estadão publicada em setembro, o ex-secretário apontou que não há como controlar gastos mantendo a vinculação do salário mínimo. Ele sugere que o governo apresente uma agenda de revisão estrutural de despesas até abril de 2025, quando enviará o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026 para o Congresso Nacional.

A lei conta com um anexo de revisão de gastos que pode ser usado pelo Poder Executivo para fazer essa sinalização. Na entrevista, ele pontuou que as medidas não envolviam necessariamente a diminuição de gastos, mas a redução do ritmo de crescimento.

Agora, no estudo publicado, Bijos sugere um caminho para o governo economizar R$ 1,1 trilhão em dez anos com duas medidas. A primeira deles é indexar os benefícios previdenciários e o BPC à inflação, e não mais ao salário mínimo, com eventuais ganhos reais avaliados cautelosamente no início de cada mandato presidencial – de acordo com a situação da Previdência Social e a saúde fiscal do País.

A segunda medida é mexer nos pisos de saúde e educação e no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). No caso dos pisos, não seriam mais vinculados à receita do governo, mas reajustados pela inflação com eventuais ganhos reais avaliados no início de cada mandato presidenciais e também de cada ano na elaboração do Orçamento. A regra passaria a valer também para a parcela de recursos que a União coloca no Fundeb.