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Governo Bolsonaro amplia bloqueio do Orçamento de 2022 para R$ 15,4 bilhões

Secretário admite que novo bloqueio pode comprometer prestação de serviços públicos. Corte foi feito para pagar benefícios previdenciários e repasses da Lei Paulo Gustavo

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Foto do author Antonio Temóteo
Atualização:

BRASÍLIA - O Ministério da Economia anunciou um bloqueio adicional de R$ 5,7 bilhões no Orçamento de 2022. Com isso, o total de recursos congelados subiu para R$ 15,4 bilhões, podendo prejudicar ainda mais o funcionamento dos serviços públicos no último mês do mandato do presidente Jair Bolsonaro (PL). O bloqueio de verbas já comprometeu a compra de livros didáticos, como mostrou o Estadão, e a emissão de passaportes pela Polícia Federal desde o último sábado.

De acordo com o Relatório de Receitas e Despesas do 5º Bimestre, o corte adicional no Orçamento foi necessário para pagar benefícios previdenciários (R$ 2,3 bilhões) e por conta da suspensão da medida provisória que adiava para o ano que vem repasses da Lei Paulo Gustavo (R$ 3,8 bilhões).

Medida foi adotada para não furar o teto de gastos Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

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O bloqueio, divulgado no Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do 5º bimestre, foi necessário para o governo cumprir o limite do teto de gastos – regra que limita o crescimento das despesas à variação da inflação do ano anterior.

“Vai ser muito difícil [com bloqueio], governo nunca passou tão apertado assim. Haverá eventualmente falta de atendimento de serviços prestados do governo, mas chegaremos ao fim do ano”, disse o secretário especial de Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Esteves Colnago.

Ele afirmou que R$ 37 milhões serão liberados para passaportes imediatamente, já que, na sexta-feira, a Polícia Federal anunciou a suspensão dos documentos por falta de verbas. Porém, segundo o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Luciano Leiro, seriam necessários R$ 74 milhões para a manutenção da emissão de passaportes até o final do ano.

Segundo Colnago, os órgãos públicos ainda têm R$ 3,5 bilhões disponíveis para bancar despesas e admitiu ainda que a situação das pastas no fim do ano nunca foi tão apertada.

Ele afirmou que o novo bloqueio será sobre sobre as despesas dos ministérios, já que as emendas parlamentares, como as do orçamento secreto – esquema revelado pelo Estadão de transferências de verbas a parlamentares sem critérios de transparência em troca de apoio político – estão quase todas bloqueadas.

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O secretário de Orçamento Federal do Ministério da Economia, Ariosto Culau, também afirmou que a equipe econômica está atento a soluções para serviços essenciais. “Situações extremas como da emissão de passaportes serão equacionadas. Haverá suplementação para emissão de passaportes e carros pipa”, disse.

Receitas e despesas

A previsão de gastos com benefícios previdenciários em 2022 subiu R$ 2,348 bilhões, para R$ 797,611 bilhões. A projeção para os pagamentos de pessoal e encargos sociais subiu R$ 332,01 milhões, para R$ 339,395 bilhões. O gasto previsto com subsídios e subvenções ficou R$ 1,290 bilhão menor, passando para R$ 18,011 bilhões. Já os valores estimados para o pagamento de precatórios e sentenças judiciais caiu R$ 131,88 milhões, para R$ 17,924 bilhões.

Pelo lado da arrecadação, a estimativa para as receitas com dividendos de estatais aumentou R$ 6,266 bilhões, passando para R$ 86,726 bilhões. Já as receitas previstas com concessões subiram R$ 92,8 milhões, para R$ 45,310 bilhões. O relatório também mostra que a projeção para arrecadação com royalties neste ano aumentou R$ 3,465 bilhão, para R$ 133,215 bilhões.

Revisão de indicadores

A equipe econômica manteve a projeção para a Selic (taxa básica de juros) média em 2022 de 12,3%. Já a projeção do Ministério da Economia para o câmbio médio deste ano passou de R$ 5,2 para R$ 5,16.

A previsão para a alta da massa salarial nominal passou de 18,2% para 18,9%. Já a estimativa para o preço médio do barril de petróleo no mercado internacional passou de US$ 100,5 para US$ 101,77.

Na semana passada, a equipe econômica já havia divulgado nova estimativa para o crescimento da economia neste ano, que se manteve em 2,70%. Na ocasião, a projeção oficial para a inflação medida pelo IPCA recuou de 6,30% para 5,85%, enquanto a estimativa para o INPC – utilizado para a correção do salário mínimo – passou de 6,54% para 6,00%.

Contas no azul

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou, em coletiva após a divulgação do relatório, que o governo central registrará o primeiro superávit (saldo positivo) desde 2013. A estimativa é que as contas terminem 2022 no azul em R$ 23,361 bilhões. O ministro da Economia também afirmou que um diagnóstico errado sobre a economia pode levar a decisões erradas do próximo governo.

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“O País pode fazer uma coisa muito ruim achando que já está tudo arrombado mesmo, não existe isso. Não acreditem em fakes, não acreditem em mentiras. O grande problema é seguir a mentira e acreditar na mentira. Com isso, você comete erros grosseiros. Partindo do diagnóstico errado são cometidos erros”, disse.

Embora a projeção de superávit primário para 2022 seja de R$ 23,361 bilhões, o secretário especial de Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Esteves Colnago, afirmou que mantém a expectativa de fechar o ano com saldo próximo de R$ 40 bilhões.

Segundo ele, a diferença deve decorrer do “empoçamento” de recursos orçamentários – quando os ministérios não conseguem fazer todos os pagamentos em tempo hábil e ficam com recursos em caixa.

Para 2023, ele afirmou há uma expectativa de aumento de receitas de R$ 23 bilhões, que reduzirá a estimativa de déficit primário de R$ 63,5 bilhões para R$ 40,4 bilhões. Desses R$ 23 bilhões, pelo menos R$ 6 bilhões entrarão nos cofres públicos por pagamento de dividendos da Petrobras que não estavam previstos.

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