Governo investiga suspeita de dumping nas vendas de aço da China para o Brasil

Prática que elimina a concorrência consiste na comercialização de produtos a preços abaixo do custo de produção; pedido de investigação foi feito pela Companhia Siderúrgica Nacional

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Foto do author Amanda Pupo
Atualização:

BRASÍLIA - O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) iniciou nesta sexta-feira, 1º, uma investigação para apurar a existência de dumping nas exportações da China para o Brasil na siderurgia.

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O documento da pasta cita, especificamente, folhas metálicas de aço carbono, ligado ou não ligado, de qualquer largura com espessura inferior a 0,5 mm. O plano é averiguar também se há dano à indústria doméstica em razão da prática. O pedido de investigação foi feito pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em outubro do ano passado.

O dumping consiste na exportação para o Brasil de produtos a preços abaixo do custo de produção no país de origem para eliminar a concorrência e conquistar uma fatia maior de mercado.

Siderúrgicas como a Aperam e a Usiminas anunciaram no fim do ano passado a suspensão de atividades e investimentos devido ao excesso de aço importado da China e a queda nas vendas. O diretor-presidente da Aperam na América do Sul, Frederico Ayres Lima, chegou a prever paralisações de usinas e demissões se o governo não adotasse ações de defesa comercial.

CSN, uma das maiores empresas do setor no Brasil, foi uma das que pediu a investigação Foto: Tasso Marcelo / Estadão

Produtores de aço como a Gerdau, ArcelorMittal e Usiminas, representadas pelo Instituto Aço Brasil, e a CSN, de forma independente, tentam aumentar o imposto de importação do aço de aproximadamente 12% para 25%. Eles travam uma guerra com mais de 120 mil empresas, lideradas por uma coalizão de 16 entidades, que atuam nos mercados de construção civil, automotivo, máquinas e equipamentos, eletrodomésticos, indústria naval, transportes, ferrovias, entre outros, e precisam do aço.

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Para abrir a apuração, que pode durar até 18 meses, o ministério citou um parecer elaborado pelo Departamento de Defesa Comercial (Decom) da pasta, segundo o qual foram apresentados “elementos suficientes” que indicam a prática de dumping nas vendas chinesas para o Brasil de folhas metálicas de aço carbono, e de dano à indústria doméstica por causa desta prática.

“A conclusão alcançada se pauta, especificamente, nas sólidas evidências de que as políticas públicas e os programas e planos governamentais chineses corroboram o entendimento de que o setor siderúrgico é considerado estratégico e recebe tratamento diferenciado do governo; há intervenção governamental no setor, sob forma de subsídios financeiros e outros; há incentivos para o desenvolvimento tecnológico e há interferência estatal no suprimento de eletricidade e de insumos para a cadeia produtivo siderúrgica”, diz o documento do governo.

Segundo o ministério, a análise dos elementos de prova de dumping considerou o período de julho de 2022 a junho de 2023. Já o período de análise de dano considerou o período de julho de 2018 a junho de 2023.

Indícios de dumping

Uma análise inicial do governo sobre a entrada de folhas metálicas de aço carbono no Brasil vindas da China já apontou indicativos de existência de dumping no produto. Para abrir a investigação, a área técnica da pasta identificou que a margem de dumping da China neste caso alcançou US$ 568,44 por tonelada.

“A margem de dumping apurada anteriormente, com base nas informações apresentadas pela peticionária devidamente ajustadas conforme metodologia de cálculo explicitada, demonstra a existência de indícios da prática de dumping nas exportações de folhas metálicas da China para o Brasil, realizadas no período de julho de 2022 a junho de 2023″, conclui a análise preliminar do Decom. Para encontrar a margem de dumping, a pasta determinou o valor normal (que seria o preço praticamente no mercado exportador) com base no preço de produto similar adotado na Alemanha.

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Junto do documento que autoriza o início desta investigação, a área técnica do ministério traz uma longa análise prévia sobre as alegações levadas pela CSN à pasta. Entre as conclusões, o governo diz já ter identificado um aumento forte de importação brasileira das folhas metálicas provenientes da China.

“Diante desse cenário, observou-se aumento nas importações da origem investigada a preços com indícios de dumping, seja em termos absolutos, seja em relação à produção nacional ou ao mercado brasileiro/consumo nacional aparente”, aponta o órgão.

A área técnica também indica já haver indícios de que a deterioração nos indicadores econômicos-financeiros da indústria doméstica está associada ao aumento “expressivo” no volume das importações das folhas metálicas de aço carbono.

Os argumentos levados pela CSN à pasta também são destacados. Por exemplo, a constatação de que a China contribuiu significativamente para o excesso de capacidade mundial do aço, que se tornou um problema particularmente grave após a crise de 2008.

“Dados recentes da OCDE, apresentados no Relatório Latest Developments in Steelmaking Capacity 2023, indicam que a expansão da capacidade produtiva mundial de aço continua a um ritmo robusto, frequentemente em busca de mercados para exportação. Apenas em 2022, a capacidade global de produção de aço aumentou em 32,1 milhões de toneladas alcançando 2.459,1 milhões de toneladas, o nível mais elevado de capacidade global na história”, menciona o Decom, verificando ainda que, “de fato”, todos os dados apontam para um alto nível de concessão de subsídios do setor siderúrgico chinês.

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“Estudos mostraram que proporção significativa do lucro das empresas decorre de subsídios governamentais, e que as formas de concessão são as mais variadas possíveis”.

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