BRASÍLIA - O grupo de Infraestrutura no governo de transição indicou a necessidade de a futura presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) revisar o modelo de leilão de rodovias adotado na administração de Jair Bolsonaro (PL). Pela sistemática atual, as empresas que disputam os leilões podem oferecer desconto na tarifa até um certo limite - se mais de uma ofertar o deságio máximo, a licitação é decidida pela outorga (o valor que as empresas pagam pelo direito de explorar a concessão). É o chamado modelo ‘híbrido’. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a avaliação de integrantes do grupo de transição é de que o novo governo deverá retomar os leilões com critério de menor tarifa - sem limite para desconto.
“É preciso considerar a possibilidade de reavaliação de modelos de concessão, como o critério de julgamento nas licitações de rodovias”, aponta o relatório final do gabinete de transição governamental. Apesar de não estar apontado no documento - que é apenas uma síntese das discussões travadas nos grupos de transição técnicos -, o grupo de Infraestrutura debateu alternativas para o que funciona atualmente, de acordo com fontes.
NOVO GOVERNO
O modelo atualmente em vigor foi implementado em meados de 2020. À época, o Ministério da Infraestrutura alegou que a nova modelagem era necessária para se desviar de fracassos que marcaram a terceira rodada de leilões rodoviários, no governo Dilma Rousseff, quando a média de deságio no valor do pedágio oferecido pelas concessionárias vencedoras chegou a 50%.
Na avaliação do governo Bolsonaro, a tarifa agressivamente mais baixa acabou se tornando um dos empecilhos para as concessionárias bancarem o cronograma de obras e investimentos. Com isso, veio a ideia de limitar o desconto que as concessionárias poderiam oferecer. A sistemática foi adotada, por exemplo, no leilão da Via Dutra, em São Paulo.
Na transição, no entanto, o entendimento foi outro. Integrantes do grupo defendem que a causa dos problemas nas concessões da terceira rodada foram basicamente os efeitos da operação Lava Jato para as grandes empreiteiras responsáveis pelos projetos e a crise econômica que impactou o Brasil em 2015 e 2016. As modelagens haviam sido estruturadas num ambiente de euforia quanto à economia, cenário que começou a desandar no primeiro ano do segundo mandato de Dilma.
Com a avaliação de que não é necessário manter o modelo de tarifa com desconto máximo, a equipe de Infraestrutura debateu a possibilidade de o governo federal voltar a fazer leilões como antigamente, em que as empresas disputam a administração da rodovia ofertando o quanto podem de desconto no pedágio - sem desempate por outorga.
Também está no radar a hipótese de esse modelo ter aprimoramentos. A resistência política à sistemática atual já deu fruto a uma alternativa que será usada para o projeto de rodovias no Paraná, que será leiloado em seis lotes, numa parceria entre governo federal e estadual. Nele, não existe limitação de desconto na tarifa, mas a empresa vencedora precisará fazer aportes financeiros proporcionais ao deságio que ofertou para o pedágio durante o leilão.
O modelo foi desenhado após a classe política do Paraná resistir ao leilão híbrido criado no Ministério da Infraestrutura, justamente por limitar o desconto no pedágio. O então ministro da pasta, governador eleito de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), costurou um acordo com o governo e a Assembleia do Estado para tentar frear deságios muito agressivos, vinculando o tamanho do desconto ao volume dos aportes.
Na avaliação de integrantes da transição, no entanto, a curva dos aportes cresce de forma muito expressiva em relação ao tamanho dos descontos - o que poderia coibir a participação de mais empresas no leilão.
No caso do Paraná, integrantes da transição defendem que apenas ajustes pontuais sejam feitos no projeto mais adiantado, já que o Tribunal de Contas da União (TCU) já aprovou os estudos para a licitação dos lotes 1 e 2 das rodovias. O temor é de que mudanças profundas atrasem ainda mais os leilões no Estado. Mas o assunto ainda é alvo de discussões. A decisão sobre se haverá ou não modificações - e qual o nível de ajustes -, no entanto, caberá ao futuro ministro dos Transportes e ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O nome mais forte para assumir a pasta é o do ex-governador de Alagoas, Renan Filho (MDB).
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