Análise | Governo não pode conter o mau tempo, mas pode impor freio à gastança

Com os preços ainda muito pressionados, o Banco Central terá dificuldade para reduzir os juros e dar mais espaço ao crescimento dos negócios e do emprego

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Foto do author Rolf Kuntz
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Puxada pelos gastos com habitação, alimentação e bebidas, a inflação bateu em 0,55% em outubro, acumulou 4,47% em 12 meses e quase atingiu o teto de 4,50% fixado pela política oficial, segundo o Índice de Preços por Atacado 15 (IPCA-15), considerado uma prévia do resultado oficial. Em setembro a alta mensal havia sido de 0,13% e a alta acumulada em 12 meses havia sido de 4,12%.

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Com os preços ainda muito pressionados, o Banco Central (BC) terá dificuldade para reduzir os juros e dar mais espaço ao crescimento dos negócios e do emprego. Haverá enorme surpresa se o ano terminar com os juros básicos abaixo dos 11,75% projetados no mercado financeiro.

Dinheiro curto e caro também prejudicará o esforço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reanimar a economia e facilitar a expansão do emprego. Mas o presidente já se mostrou disposto a aceitar sem os costumeiros protestos uma política de aperto monetário neste fim de ano. Se mantiver essa atitude, mostrará consideração ao novo diretor de Política Econômica e futuro presidente do BC, Gabriel Galipolo, por ele indicado para essas funções.

Comida mais cara é consequência de condições de tempo desfavoráveis e, em parte, de problemas no mercado internacional ocasionados por problemas geopolíticos Foto: Helvio Romero/Estadão

Comida mais cara é consequência de condições de tempo desfavoráveis e, em parte, de problemas no mercado internacional ocasionados por problemas geopolíticos. O governo brasileiro pouco pode fazer, nesta altura, para compensar a irregularidade do tempo ou para conter os conflitos no Oriente Médio e na fronteira entre Rússia e Ucrânia. Em outros tempos, poderia recorrer a estoques estratégicos e a importações de alimentos, mas as condições são muito menos favoráveis, hoje, nessas duas áreas.

O governo pode tentar, no entanto, conter o pessimismo no mercado financeiro. Para isso, terá de estimular maior confiança quanto à evolução das contas públicas. O presidente Lula tem agido, no entanto, no sentido contrário, alimentando o temor de maior gastança e maior irresponsabilidade na área fiscal. Se a disposição do mercado se tornar mais favorável, a atividade econômica será menos prejudicada, o financiamento do Tesouro será menos caro e o aumento da dívida pública, nos próximos anos, será menor do que se tem estimado.

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A dívida pública bruta chegou em agosto a 78,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e economistas do mercado têm previsto a superação da marca de 80%. O endividamento público brasileiro ainda é um dos mais altos do mundo, embora o comprometimento das finanças governamentais tenha aumentado, nos últimos anos, em muitos países. Mas a dívida brasileira ainda crescerá nos próximos anos, segundo projeção do Fundo Monetário Internacional.

A maneira mais segura de conter essa tendência é administrar com maior severidade as finanças públicas, especialmente por meio do controle da despesa. O ministro da Fazenda cumprirá mais facilmente essa tarefa se conseguir a cooperação do presidente da República. Se estiver disposto a economizar, o presidente poderá esforçar-se, também, para envolver lideranças parlamentares no esforço de arrumação das contas federais. Mas precisará, além disso, resistir às pressões do PT pela continuação ou até pelo aumento da gastança.

Análise por Rolf Kuntz

Jornalista

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