Governo traça plano B com demora em arcabouço e prevê despesas condicionadas no Orçamento de 2024

Sem a autorização de despesas condicionadas, que dependem de aprovação de crédito adicional pelo Legislativo, programas como o novo PAC ficariam alguns meses apenas no papel

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Atualização:

BRASÍLIA - Em meio à indefinição da Câmara dos Deputados sobre a votação do novo arcabouço fiscal, o governo federal traçou um plano B para autorizar a previsão de despesas extras no Orçamento de 2024 no próprio Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), de acordo com fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast. As chamadas despesas condicionadas dependem de aprovação de crédito adicional pelo Legislativo para serem executadas.

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O Executivo encaminhou ao Congresso Nacional, nesta segunda-feira, 7, uma mensagem modificativa ao PLDO, relatado pelo deputado Danilo Forte (União-CE), que lança as bases para a elaboração do Orçamento federal. A nova versão do PLDO é uma saída encontrada pelo governo para incluir no texto o conteúdo da emenda apresentada pelo líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), ao arcabouço fiscal.

A emenda, aprovada no Senado e pendente de análise na Câmara, autoriza a previsão de despesas condicionadas no Orçamento de 2024, que só seriam executadas com a aprovação de crédito adicional pelo Legislativo. Esse mecanismo já é usado para romper a regra de ouro – norma constitucional que proíbe o governo de fazer dívidas para pagar despesas correntes, como salários e aposentadorias.

Sem a autorização de condicionadas no projeto de lei do arcabouço e nem na LDO, iniciativas como o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ficariam alguns meses apenas no papel. As condicionadas permitem que “recursos reais” possam ser atribuídos ao programa na peça orçamentária de 2024.

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O novo PAC será lançado na próxima sexta-feira, 11, no Rio de Janeiro. A estimativa da Casa Civil é que a União coloque cerca de R$ 60 bilhões por ano no programa, o que deverá somar cerca de R$ 240 bilhões ao longo de todo o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Emenda do senador Randolfe Rodrigues determina que o limite para as despesas condicionadas seria a diferença entre o IPCA acumulado nos 12 meses até junho e o realizado até dezembro do ano anterior, exercício ao qual se refere o Orçamento Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Mesmo com um possível “travamento” do PAC, o governo avalia que a votação ou não do arcabouço fiscal não irá interferir no lançamento do programa. Ele é visto como a única bandeira até o momento do ministro da Casa Civil, Rui Costa, e já foi adiado cinco vezes pelo Palácio do Planalto.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ainda não definiu uma data para votação do arcabouço na Casa, tampouco chegou a um consenso em torno do texto aprovado no Senado.

Na semana passada, ele disse que a reforma ministerial não interfere na análise da regra fiscal, mas líderes partidários confirmam nos bastidores que o projeto só deve ir ao plenário após Lula definir quais ministérios serão ocupados por André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE).

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Entenda

A emenda de Randolfe determina que o limite para as despesas condicionadas seria a diferença entre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado nos 12 meses até junho e o realizado até dezembro do ano anterior, exercício ao qual se refere o Orçamento. Na prática, esse dispositivo daria ao governo uma “folga” entre R$ 32 bilhões e R$ 40 bilhões no Orçamento do próximo ano, de acordo com cálculos do Planejamento.

Essa emenda não amplia o limite para a despesa primária da Lei Orçamentária Anual (LOA) em relação ao texto da Câmara, apenas prevê, de forma condicionada, despesas que já seriam objeto de crédito posteriormente.

A proposta aprovada pelos deputados, sob relatoria de Cláudio Cajado (PP-BA), já permite a abertura de crédito decorrente do diferencial da inflação. Esse acréscimo, no entanto, ocorreria só em 2024.

Na prática, pelo texto da Câmara, o orçamento elaborado este ano viria com cortes em programas que terão a verba recomposta no próximo ano. Na avaliação de técnicos, por mais que o relatório de Cajado permita um reajuste nos valores em 2024, o fato de não inserir todas as despesas na peça orçamentária deste ano passa uma “mensagem política ruim”.

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Pelo texto de Cajado, duas normas vão permitir um gasto extra pelo governo no próximo ano. A primeira é um crédito decorrente do diferencial da inflação medido no começo do ano. No momento da elaboração do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2024, neste ano, será calculado o limite de despesas para o ano que vem com base nos 70% da receita acumulada em 12 meses até junho (julho de 2022 a junho de 2023), dentro do intervalo de 0,6% e 2,5% acima da inflação.

No início do próximo ano, quando a inflação completa do ano anterior (janeiro-dezembro) for divulgada, a diferença positiva poderá ampliar o limite das despesas.

A outra regra diz que, em maio de 2024, na segunda avaliação da receita do ano, o governo estimará a receita de 2024 (janeiro a abril realizada, e maio a dezembro estimada) e será aplicada a regra de 70%, também dentro do intervalo. A diferença na estimativa da receita medida em maio de 2024, se positiva, poderá ser incorporada no limite da despesa de 2024, por crédito adicional. No entanto, caso a projeção de receita não se realize, o governo terá que deduzir o excedente no orçamento de 2025.

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