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Ferrogrão vai sair do papel? Entenda como está o maior projeto ferroviário do País

Projeto de construção da ferrovia que liga Sinop, no Mato Grosso, a Mirituba, no Pará, está suspenso desde 2021 devido a liminar no Supremo

Foto do author Lavínia  Kaucz
Foto do author Luiz Araújo
Atualização:

BRASÍLIA - O governo espera pela revogação da liminar que mantém suspenso, desde 2021, o projeto de construção da Ferrogrão - projeto capitaneado pelo agronegócio para escoar a produção de grãos pelos portos do Norte do País. Após análises técnicas, a União entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma manifestação que diz ser possível passar por uma área de proteção ambiental - foco da judicialização -, respeitando a faixa de domínio da BR-163/MT.

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A proposta da União encaminhada ao ministro Alexandre de Moraes, que concedeu a liminar em questão, também inclui o compromisso de realizar oitiva com os povos indígenas ao longo do processo de licenciamento, além da destinação de R$ 715 milhões em contrapartidas ambientais - o que representa cerca de 3,5% dos investimentos previstos.

A ferrovia terá 933 quilômetros de extensão, entre Sinop (MT) e Miritituba (PA) – local onde a carga será colocada em barcaças rumo aos portos de Barbarena e Santarém, no Pará; de Itacoatiara, no Amazonas; e de Santana, no Amapá. O empreendimento, com capacidade para movimentar cerca de 50 milhões de toneladas de grãos, será um dos grandes indutores do chamado Corredor Norte, que hoje funciona preponderantemente pela BR-163.

O projeto começou a ser desenhado em 2014 pela iniciativa privada, mas por envolver uma área sensível do ponto de vista ambiental até hoje não saiu do papel. A grande questão é o impacto ambiental que o empreendimento pode causar na região.

Governo argumenta que ferrovia será construída na faixa de domínio da BR-163 e não precisará desmatar parque Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 17/5/2019

Os entraves giram sobretudo em torno da possível necessidade de supressão de área do Parque Nacional do Jamanxim, reserva localizada no Pará. Uma decisão de Moraes sobre o caso é aguardada para este mês. No dia 17, venceu o prazo dado pelo ministro para a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentar seu parecer.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, disse que a equipe técnica da pasta fez uma análise por satélite da área do parque e concluiu que é possível respeitar a faixa de domínio da BR-163 (área lateral da rodovia, que já não pertence ao parque) nos 50 km de extensão da área sob proteção.

“As entidades (ambientais) entendiam que seria necessário fazer uma supressão adicional no parque. A gente está dizendo que não vai precisar diminuir nem um milímetro. O parque vai ficar do mesmo tamanho”, reforçou.

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Estimada em R$ 28 bilhões, a Ferrogrão servirá como corredor de escoamento da produção agrícola. Por esse motivo, é defendida por representantes do agronegócio como fundamental para acomodar a projeção de safras das próximas décadas. O governo estima que a ferrovia pode reduzir R$ 7,9 bilhões em desperdícios por ano devido à melhora na logística, além de evitar a emissão de cerca de 3,4 milhões de toneladas de CO2 por ano durante os 69 anos da concessão.

Críticas

Apesar da expectativa positiva do governo, não há consenso sobre o tema com a sociedade civil - o que pode influenciar na decisão de Moraes e do plenário do Supremo. O Psol, autor da ação, e entidades socioambientais deixaram o grupo de trabalho criado para atualizar os estudos de impacto ambiental da obra em meio à insatisfação com os demais integrantes.

Segundo fontes que acompanharam o processo, o estopim para a saída do grupo foi a previsão feita pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para realizar o leilão da obra para 2025. Elas afirmam que essa medida desrespeitou a liminar de Moraes, que suspendeu o andamento do projeto.

Em manifestação enviada em agosto a Moraes, a legenda e as entidades reclamaram de uma “postura absolutamente silente, sem dados e sem informações” por parte dos responsáveis pelo projeto. “Como consequência, há dúvidas razoáveis e fortes obscuridades acerca da possibilidade de avanço ou conclusão de atualização dos estudos, sem que haja a necessidade de esses serem refeitos desde o início para que se incluam e se resolvam alguns temas essenciais”, alegam.

O prazo para a realização dos estudos já foi prorrogado duas vezes por Moraes e, na última vez, em maio deste ano, o ministro disse que o novo prazo era “improrrogável”.

Questionado sobre a alegada falta de mapeamento dos impactos ambientais, Santoro disse que essa discussão deve ser feita “nos momentos adequados, da licença prévia e da licença inicial do investimento”. Ele estima que esse processo deve levar cinco anos.

“Lá na frente, quando esse Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) chegar no Ibama, o Ibama pode devolver: ‘Olha, isso aqui eu não aceito. Quero que venha assim’. Aí faremos o aperfeiçoamento do projeto, a partir do que o órgão ambiental reportar. Discutir agora, durante uma ação judicial, uma liminar, não vejo o menor sentido nisso”, afirmou.

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Na semana passada, o diretor-geral da ANTT, Rafael Vitale, disse ao Estadão/Broadcast Agro que o leilão pode sair do papel em 2026, já que os prazos ficaram apertados para 2025. “Com a autorização do Supremo, podemos apresentar à sociedade o desenho final, o seu traçado, terminais e investimento para mitigação de impactos ao meio ambiente e aos povos indígenas”, afirmou.

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