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Governo fará revisão de Cadastro Único de 5 milhões que recebem Bolsa Família e moram sozinhos

Expectativa é que cerca de 1,7 milhão desses beneficiários esteja recebendo o benefício de forma irregular; governo também fará busca ativa para incluir quem se enquadra nas regras mas está fora do programa

Foto do author Adriana Fernandes
Foto do author Anna Carolina Papp
Atualização:

BRASÍLIA – O governo vai chamar a partir de março cinco milhões de pessoas que recebem o Bolsa Família para comparecer presencialmente nas unidades dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) dos municípios para a revisão do cadastro. Esse grupo é formado por famílias com apenas uma pessoa, os chamados beneficiários unipessoais.

A expectativa é de que cerca de 1,7 milhão (35%) desses beneficiários esteja recebendo o auxílio de R$ 600 fora das regras de acesso ao programa social, por meio de indicativo errado de composição familiar – ou seja, de forma irregular.

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O grupo de unipessoais cresceu de forma explosiva nos últimos anos, após o governo Bolsonaro mudar o desenho do programa e fixar um piso inicial de R$ 400, valor que subiu mais tarde para R$ 600. O resultado foi um movimento de divisão “artificial” das famílias e de distorção dos dados do Cadastro Único (Cadúnico), que funciona como um portal de acesso da população de baixa renda aos programas sociais.

De dezembro de 2019 até o final do ano passado, a taxa de crescimento de famílias de uma pessoa subiu 224% entre beneficiários do programa. Em ritmo muito menor, as famílias de duas pessoas ou mais cresceram 40% no mesmo período. O salto ocorreu a partir de outubro de 2021, justamente após a decisão do ex-presidente Bolsonaro de fixar um piso para o benefício de olho na sua reeleição.

Essa é a primeira ação do programa emergencial de revisão do Cadastro Único, aprovado na semana passada no Conselho Nacional de Assistência Social (Cnas) com pactuação feita com representantes dos Estados e municípios. Nesta segunda-feira, 13, será assinado um acordo com a Defensoria Pública da União sobre o plano de autorização cadastral.

Lula participa de lançamento do Bolsa Família, em 2003, durante seu primeiro governo Foto: Marcio Fernandes/AE

Busca ativa por quem direito

Em contrapartida, o plano de reestruturação do Cadastro Único prevê uma ação de “busca ativa” de famílias que não estão no programa e têm direito ao benefício. O governo vai fazer um aporte de R$ 199,5 milhões para os municípios para o fortalecimento e treinamento do pessoal que trabalha nos CRAS de todo o País para fazer esse trabalho.

“Vamos botar dentro do programa quem precisa e está fora”, disse ao Estadão a secretária de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único do Ministério do Desenvolvimento Social, Letícia Bartholo. Segundo ela, 51% dos cinco milhões de beneficiários unipessoais têm entre 22 e 50 anos. A maioria é de homens.

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Letícia explica que há um cuidado especial da equipe em evitar uma criminalização dos beneficiários. Uma campanha de utilidade pública será lançada até abril para esclarecer as pessoas. A campanha terá a função de dizer o que é certo e o que é errado no acesso ao Bolsa Família. “E que, se você está fazendo o certo, você não vai ser prejudicado”, diz a secretária, que refuta o uso de “pente-fino” para a revisão: “Pente-fino é para tirar piolho”.

Tem direto ao benefício famílias com renda per capita de R$ 210. A regra de saída do programa é renda per capita de R$ 525. Pelo plano, as pessoas serão chamadas e avisadas da necessidade da revisão dos seus cadastros. Haverá um cronograma. Todos terão que comparecer presencialmente. É por essa razão que a ação de revisão vai durar até dezembro.

A secretária de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único do Ministério do Desenvolvimento Social, Letícia Bartholo. Foto: Wilton Júnior/Estadão Foto: WILTON JUNIOR

“Ninguém precisa correr na fila dos CRAS”, afirma Letícia, que reforça que as pessoas que moram sozinhas “de fato” e se enquadram na regra de acesso ao Bolsa Família têm direito ao benefício. Se os beneficiários não comparecerem quando convocados, eles terão os benefícios bloqueados e, depois, cancelados.

“O município, com o apoio financeiro, vai poder ter recursos para fazer a averiguação (de cadastros) e as visitas que forem necessárias”, afirma Elias de Sousa Oliveira, presidente do Colegiado Nacional de Gestores Municipais da Assistência Social (Congemas). “Todas as mudanças feitas no Cadastro Único no governo passado não passaram por qualquer tipo de diálogo com os Estados e municípios.”

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O aplicativo do Cadastro Único terá uma funcionalidade para quem quiser sair do cadastro porque percebeu que errou. “É uma oportunidade de entender que errou, sair; ao mesmo tempo em que se desenham outros programas de atendimento”, diz a secretária. Entre esses programas, está o Minha Casa Minha Vida, de construção de habitações.

A ouvidoria será retomada em abril e a central de atendimento telefônica será fortalecida. O diagnóstico feito pela secretaria é de que somente 3% a 5% das ligações das pessoas eram atendidas. Como o beneficiário não é atendido, ele acaba indo para as filas dos CRAS.

Na avaliação da secretária, as equipes que fazem o cadastramento nos municípios perderam a capacidade de orientar as pessoas, porque o governo anterior as “deixou no escuro, sem diálogo ou orientação”. O Cadastro Único tem hoje 40 milhões de famílias, entre as quais 22 milhões estão no Bolsa Família.

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O crescimento de famílias unipessoais se deu em todo o Brasil, mas a alta foi maior em cinco Estados: Acre, Rio de Janeiro, Amazonas, Distrito Federal e Amapá.

O plano de ação do governo

Revisão de famílias unipessoais

De março a dezembro, o governo convocará os 5 milhões de beneficiários unipessoais – que moram sozinhos – do Bolsa Família para uma revisão cadastral. Isso porque esse tipo de cadastro cresceu 224% em três anos, sobretudo a partir de outubro de 2021, com o novo desenho do Auxílio Brasil. As pessoas serão convocadas a comparecer presencialmente de acordo com um cronograma. Se for confirmado que de fato moram sozinhas, continuarão a receber o benefício a que têm direito normalmente.

Saída voluntária

O aplicativo do Cadastro Único terá uma funcionalidade para permitir que um beneficiário que não se enquadra nos critérios possa sair de forma voluntária. Uma pessoa que alegou que mora sozinha, por exemplo, poderá agendar o cadastramento na família com quem de fato mora. Letícia explica que essa regularização abre portas para a participação em outros programas sociais, como o Minha Casa Minha Vida.

Busca ativa por beneficiários

O governo fará uma busca ativa por pessoas que se enquadram nos critérios do programa social mas hoje estão fora, incluindo protocolos para grupos específicos da população, como pessoas em situação de rua, indígenas, quilombolas e ribeirinhos.

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Campanha

Até abril, o governo irá lançar uma campanha de utilidade pública esclarecendo a população sobre regras do programa social e os critérios de acesso.

Capacitação

Em março, o governo irá retomar os processos de capacitação, interrompidos na última gestão. A meta é formar pelo menos 10 mil cadastradores neste ano.

Ouvidoria

Em abril, a ouvidoria do Cadastro Único voltará a atender ligações. Segundo a secretaria, somente 3% a 5% das ligações eram atendidas – o que acabava por sobrecarregar as filas dos CRAS.

Revisão de famílias com irregularidades de renda

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A CGU indicou 2,5 milhões de famílias beneficiárias com indícios de irregularidades de renda fora dos critérios do programa. Esses cadastros serão revisados e, confirmadas as irregularidades, os benefícios serão cancelados.

Aporte de recursos

Será feito um aporte de R$ 199,5 milhões: R$ 170 milhões para os municípios, conforme a necessidade de correção dos cadastros unipessoais; R$ 10 milhões para municípios da Amazônia Legal; R$ 10 milhões para grandes áreas rurais; e R$ 9,5 milhões para os Estados – ações de capacitação e apoio técnico aos municípios.

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