Governo zera tarifa de importação para três tipos de arroz para garantir abastecimento

Intenção é evitar falta do produto após enchentes no Rio Grande do Sul, principal estado produtor do grão no Brasil

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Foto do author Isadora Duarte
Atualização:

BRASÍLIA - O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) confirmou nesta segunda-feira, 20, que o governo zerou a tarifa de importação de três tipos de arroz, conforme antecipado pelo Estadão/Broadcast.

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Em nota, o Ministério informou que a medida foi aprovada em reunião extraordinária do Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) nesta segunda-feira para “garantir o abastecimento” do produto.

“O governo está agindo de forma decisiva para garantir a segurança alimentar e o bem-estar de todos os brasileiros. Ao zerar as tarifas, buscamos evitar problemas de desabastecimento ou de aumento do preço do produto no Brasil, por causa da redução de oferta”, disse o vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin na nota.

Segundo o MDIC, a isenção do imposto de importação entra em vigor a partir da publicação no Diário Oficial da União e terá validade até 31 de dezembro deste ano. A expectativa é de publicação no DOU até quinta-feira.

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Estarão inclusos na tarifa zero dois tipos de arroz não parboilizados (descascado e com casca) e um tipo de arroz beneficiado, polido ou brunido. “A Secretaria de Comércio Exterior do MDIC (Secex) vai monitorar a situação para reavaliação do período de vigência, caso necessário, acrescentou a pasta.

Arroz que vinha de outros países do Mercosul já era isento; de outros locais, pagavam a tarifa comum do bloco Foto: Alex Silva / Estadão

O Ministério afirmou ainda que a medida atende a pedido do Ministério da Agricultura e Pecuária e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Segundo o MIDC, a medida visa evitar que a “oferta nacional do produto seja comprometida pelas enchentes no Rio Grande do Sul, responsável por cerca de 70% da produção nacional”.

O arroz do Mercosul, do qual provém a maior parte do arroz internalizado pela indústria brasileira, já era livre do imposto de importação. Entretanto, para cereal de países de fora do bloco era aplicada a Tarifa Externa Comum de 9% para o arroz não parboilizado com casca ou descascado e de 10,8% sobre o arroz beneficiado polido ou brunido. Na avaliação do MDIC, há potencial para importação de arroz de outras origens, como a Tailândia. “Em 2024, até abril, as compras de arroz da Tailândia já representam 18,2% do total importado”, observou o MDIC.

Setor produtivo

A decisão do governo desagradou representantes do setor arrozeiro e lideranças rurais do Rio Grande do Sul ouvidos pelo Estadão/Broadcast. Eles avaliam que a medida gera novo atrito entre setor produtivo e o Executivo.

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“O setor entende a preocupação do governo com o preço do arroz e estava disposto a apoiar medidas intermediárias, mas agora foi o pior dos cenários, o que vai prejudicar muito os produtores que já estão debaixo d’água”, disse um interlocutor. “Zeramento de TEC sem cotas e manutenção da intenção de compra de arroz importado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é uma bomba relógio na mão dos produtores”, acrescentou.

O principal ponto que causou celeuma no setor é o fato de que a isenção tarifária não está vinculada a uma cota ou limite de volume a ser internalizado. A proposta de isenção da Tarifa Externa Comum (TEC) para arroz de países de fora do Mercosul partiu do próprio setor arrozeiro em contrapartida à suspensão da compra pública de 1 milhão de toneladas de arroz importado e beneficiado pelo Executivo.

A sugestão do setor, contudo, era de isenção da TEC para uma cota inicial de 100 mil toneladas de arroz para as empresas realizarem as importações, se necessárias. O pleito foi levado pela Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Federação das Cooperativas de Arroz do Rio Grande do Sul (Fearroz) e pelo Sindicato da Indústria do Arroz no Estado do Rio Grande do Sul (Sindiarroz) ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, na última quinta-feira.

O estabelecimento de uma cota para importação sem alíquota, contudo, sequer foi incluído pela Conab na nota técnica que embasou o pedido enviado ao Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex). “Haverá repúdio veementemente do setor. Não é o que foi pleiteado e pode ser ainda mais danoso à cadeia produtiva do que a importação do governo”, avaliou representante do setor arrozeiro. “O governo impôs uma grande derrota ao setor produtivo”, completou.

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Parte do setor acredita que poderá haver uma espécie de “enxurrada” de arroz importado no País, o que pressionaria os preços locais e poderia influenciar até mesmo na decisão de plantio da safra 2024/25. “Isso é muito pior que o governo importando. Pode ser um desastre à cadeia orizícola porque o setor privado é muito mais organizado que o governo e pode trazer grandes volumes sem TEC, acima do necessário e suficiente para detonar a rentabilidade do produtor”, criticou uma pessoa do setor.

A disposição do setor arrozeiro em cogitar a isenção tarifária foi considerada um avanço pelos interlocutores que acompanharam as tratativas. “Mostrou que o setor estava disposto a negociar e está preocupado em não ter ruptura no abastecimento do produto. Era uma saída meio-termo, nem lá e nem cá”, resumiu um dos interlocutores. “Saímos do encontro com o sentimento de que o abastecimento estava resolvido e iríamos pensar em medidas estruturantes para a próxima safra. Agora, voltamos algumas casas porque o anúncio está anos-luz distante do solicitado”.

O Estadão/Broadcast apurou, entretanto, que uma entidade de classe deixou a reunião, ainda em andamento, na última quinta-feira por discordância com a medida para qualquer volume de cereal importado.

“É um acinte acharem que o produtor vai especular agora. Tem produtor que nem arroz tem para vender. Por que não estão na ponta ajudando a reerguer essas propriedades?”, questiona uma liderança do setor produtivo gaúcho contrária à ideia de zerar a TEC desde o princípio. Evitar a especulação citada pela fonte é a justificativa utilizada pelo Executivo para as medidas emergenciais voltadas ao abastecimento do arroz.

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