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BC deu ‘resposta política’ ao governo por críticas aos juros altos, diz secretário de Haddad

Guilherme Mello, de Política Econômica da Fazenda, afirma que comunicado do Copom não é um ‘espaço para mandar recados’, mas para avaliar cenários e explicar decisões

BRASÍLIA - O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), que não sinalizou o início da queda da taxa básica de juros e repetiu a “ameaça” do Banco Central de voltar a aumentar a Selic, foi encarado pela equipe econômica do governo Lula como uma “resposta política” do órgão às críticas do governo à atuação do órgão, segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello.

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“Não digo que me surpreendi com a decisão (que manteve a Selic em 13,75% ao ano), que muita gente já esperava. Fiquei um pouco preocupado com a comunicação. Em algum momento, parece que o BC quis tomar uma posição quase que política: ‘Diante das críticas, eu faço isso’. Não sei se o comunicado se presta a isso. Tanto que os próprios agentes do mercado olham aquilo e dizem que isso não vai acontecer, isso é retórica. Não sei se é o formato mais adequado”, criticou Mello ao Estadão/Broadcast.

O secretário afirmou não encontrar “argumentos técnicos” que justificariam uma nova elevação da Selic, uma vez que o Brasil já tem a maior taxa de juros real do mundo. “Alguns analistas dizem que o BC coloca isso no comunicado só para marcar posição. A dúvida é se o comunicado do Copom é um espaço para mandar recados. Ou se é um espaço para avaliar o cenário e colocar os fatores que levaram a tomar uma decisão. Eu lamento o que aconteceu”, criticou.

Enquanto o Banco Central segue preocupado com a desancoragem das expectativas de inflação em prazos mais longos, Mello listou uma série de fatores que, na visão dele, possibilitariam uma redução imediata da Selic.

Para Mello, BC optou pela manutenção dos juros, apesar de ter apontado fatores de desaquecimento da economia, como a queda nas concessões de crédito Foto: André Dusek/Estadão

“Não temos uma inflação acima da média mundial; não estamos tão distantes da meta, como outros países; começamos antes o ciclo de aperto monetário, mantivemos esse ciclo por mais tempo e isso já está impactando o mercado de crédito; não temos pressão no mercado de trabalho; não temos nenhum choque externo de commodities pressionando preços livres ou administrados. Se você olha o conjunto de fatores, há espaço para esse País reduzir juros”, argumentou.

Na semana passada, a própria equipe econômica apresentou projeção de 5,31% para o IPCA de 2023 e de 3,52% para 2024. As estimativas são inferiores às do mercado no Boletim Focus (5,95% e 4,11%, respectivamente) e do próprio Copom (5,8% e 3,6%, nessa ordem).

“Há um cenário de arrefecimento das pressões inflacionárias. Em grande medida, por causa da desaceleração dos preços livres, como alimentos, mas também no caso do petróleo, que está caindo bastante. Do ponto de vista fiscal, as expectativas sobre o déficit primário têm caído e a expectativa para a trajetória da dívida tem melhorado de janeiro para cá”, justificou o secretário.

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Enquanto o BC mantém os juros estacionados, preocupado com a desancoragem das expectativas mais longas de inflação, a equipe econômica entende que as projeções de mercado estão contaminadas pelo debate sobre mudança nas metas levantado pelo próprio governo. “O argumento do Banco Central é de que ainda persiste uma desancoragem das expectativas. A grande pergunta é: qual a natureza dessa desancoragem? Ela é fruto de alguma pressão inflacionária, vinda de onde? É mercado de trabalho, algum choque de commodities? De onde está vindo?”, questionou o secretário.

Mello citou uma pesquisa do mercado privado feita antes do Copom que atribuiria uma parte relevante do aumento das projeções à expectativa dos agentes de mudança na meta. “Se eles acham que vai mudar a meta, eles vão colocar (previsões mais altas). Não consta que, nesse caso, aumentar a taxa de juros - como chegou a ameaçar o BC - resolva essa questão”, argumentou.

No comunicado que se seguiu à última decisão de política monetária, o Copom enfatizou que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

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Para Mello, apesar de o BC ter apontado fatores de desaquecimento da economia - pela primeira vez, o Copom citou a drástica queda nas concessões de crédito -, optou pela manutenção dos juros. “No comunicado do BC, apesar de ele reconhecer todos esses fatores, dá mais peso para a questão das expectativas, que não estão tão desancoradas. Estão um pouco acima da meta, não por motivos econômicos, mas por motivos convencionais, como diria Keynes, pela construção de uma convenção”, rebateu. “Estou olhando para as variáveis macroeconômicas. E nós estamos preocupados”, continuou.

A discussão em torno das metas de inflação ganhou espaço antecipadamente este ano devido a ruídos sobre mudanças de objetivo depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a autarquia por manter os juros em 13,75% ao ano. Na quarta-feira, Fazenda e BC voltaram a se estranhar depois que o Copom decidiu novamente pela manutenção do patamar. Tradicionalmente, é na reunião de julho do Conselho Monetário Nacional (CMN) que Ministérios da Fazenda e Planejamento, com o BC, definem as taxas a serem perseguidas pela autoridade monetária.