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Fazenda não pautou debate sobre mudança da meta de inflação, diz secretário de Haddad

Segundo Guilherme Mello, que é secretário de Política Econômica, discussão não foi levada pelo governo ao Conselho Monetário Nacional, mas pasta decidiu levantar subsídios sobre prós e contras de cada escolha

SÃO PAULO E BRASÍLIA - O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse nesta sexta-feira, 10, que a pasta não levou o debate sobre a revisão das metas de inflação ao Conselho Monetário Nacional (CMN). Ao citar as notícias de que a proposta de subir a meta pode ser levada ao conselho pelo Banco Central (BC), ele adiantou, porém, que a sua secretaria vai levantar ao ministro Fernando Haddad, que preside o colegiado, subsídios técnicos sobre os prós e contras de cada escolha.

Durante live da Bradesco Asset Management, Mello observou que o debate sobre as metas de inflação não acontece apenas no Brasil, já que o surto inflacionário global, na esteira da pandemia e da guerra na Ucrânia, aumentou o desafio das autoridades monetárias em controlar os preços.

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Ele pontuou que a discussão sobre a meta de inflação no CMN estava prevista para junho, porém lembrou das notícias veiculadas pela imprensa de que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, pode antecipar o debate no colegiado.

O secretário de Haddad comentou que, mesmo sendo um dos primeiros países a voltar a subir os juros após o choque da pandemia, tendo agora a maior taxa de juros real do mundo, a inflação no Brasil estourou a meta em 2021, 2022 e, provavelmente, em 2023. Mello disse acreditar que a agenda de reformas econômicas e fiscais não será afetada pelas discussões sobre a meta de inflação.

“Acredito que nossa agenda de reformas econômicas e fiscais independe da discussão de metas para inflação”, assinalou o secretário, acrescentando que a estratégia da equipe é recuperar a credibilidade e a previsibilidade da política econômica para, assim, melhorar a qualidade das políticas públicas.

O secretário de Política Econômica, Guilherme Mello. Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo 

Reforma tributária

Durante o evento, Mello disse ainda que não é preciso aumentar o gasto público ou a tributação para que o governo faça mais e melhor na gestão pública. Segundo ele, a reforma tributária tem potencial de aumentar o crescimento econômico em 12 pontos porcentuais em uma década.

“Não precisamos, necessariamente, aumentar muito a tributação ou o gasto em proporção do PIB para fazer melhor. É possível construir um cenário de melhora da tributação e do gasto público que vai permitir o País a aumentar o PIB potencial, o crescimento e reduzir a taxa de juros neutra, o risco país, ganhar competitividade e produtividade. Tem uma agenda que vai além do número fechado de crescimento. Por isso discutimos o novo arcabouço fiscal que vai incluir o debate sobre avaliação de políticas públicas”, declarou.

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Segundo ele, há uma injustiça na tributação da renda no Brasil, que cobre uma alta carga tributária dos mais pobres e menos impostos dos mais ricos. A reforma da renda, diz, deve ser proposta pelo governo após a aprovação da reforma dos impostos que incidem sobre o consumo.

Novo arcabouço

Mello falou também sobre a construção do novo arcabouço das contas públicas. Segundo ele, o governo tem a preocupação de combinar sustentabilidade fiscal com políticas sociais.

“Temos preocupação de que o ritmo de crescimento das despesas viabilize políticas sociais e investimentos públicos, além da sustentabilidade fiscal”, declarou.

O secretário disse que a ideia é reverter o modelo, em vigor desde a implementação do teto de gastos, que não permitiu aumentos acima da inflação do salário mínimo e dos vencimentos de servidores.

“Estamos falando aqui de regras que garantam previsibilidade para essas variáveis [aumento de salários] e permitam, com base nessa previsibilidade, algum nível de crescimento real. Ainda será discutido qual”, afirmou Mello.

Ele disse que a nova regra fiscal precisa ser crível, transparente e sustentável, mas também flexível. “Regras muito rígidas deixam de ser cumpridas, como aconteceu no Brasil”, disse Mello, acrescentando que o teto de gastos perdeu a credibilidade e foi sistematicamente alterado.

Segundo ele, a equipe econômica tem recebido propostas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial na costura da proposta da regra que vai substituir o teto de gastos.

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Além de afirmar que o objetivo é garantir um horizonte de planejamento para o Estado, Mello pontuou que não existe uma regra fiscal perfeita ou ideal a ser usada por qualquer país. “O debate mostra que algumas regras funcionam melhor que outras.”

Segundo o secretário, a ideia de cenários fiscais de curto prazo tem avançado na literatura global.

Mello considerou ainda que uma série de desafios precisam ser superada para o Brasil crescer mais, criticando, nesse ponto, as limitações do Orçamento deixado pelo governo anterior, considerado “fictício”.

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