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O Futuro dos Negócios

Opinião|Indústria 4.0

Sistemas inteligentes, incorporados a novos tipos de robôs, prometem mudanças importantes no setor industrial

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A inevitável incorporação de modelos baseados em inteligência artificial (IA) em processos industriais vem de encontro à concretização da chamada Indústria 4.0, caracterizada pelo uso de sistemas inteligentes de automação (integrando IA e robótica), análise de dados em tempo real, sensores e sistemas interconectados. De acordo com relatório publicado pela empresa de inteligência Tractica, investimentos em IA no setor de manufatura devem sair dos quase US$ 3 bilhões em 2018 para mais de US$ 13 bilhões em 2025. A utilização de algoritmos inteligentes embarcados em robôs vem se tornando um vetor de significativo interesse acadêmico, corporativo e financeiro, refletindo o próximo capítulo da automação das fábricas: a integração entre seres humanos e máquinas inteligentes.

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Alguns exemplos já estão, literalmente, em produção. De acordo com a repórter Michelle Thompson em uma matéria para Society of Collision Repair Specialists, “a BMW está usando robôs para inspecionar, processar e marcar superfícies pintadas de veículos em sua fábrica em Regensburg, na Alemanha, e afirma ser a primeira montadora do mundo a usar tecnologia baseada em inteligência artificial (IA) nesta escala.” Já a Siemens anunciou a utilização de IA em sua fábrica de eletrônicos em Amberg (também na Alemanha) onde são manufaturados controladores lógicos programáveis (PLCs, na sigla em inglês) cujas soldas têm sua qualidade avaliada por sistemas de visão computacional. E a Foxconn, a maior manufatura global de eletrônicos, também utiliza sistemas baseados em inteligência artificial para inspecionar componentes e produtos.

Todos os exemplos acima têm em comum o tema de Controle de Qualidade, crítico em qualquer indústria. Se antigamente este era um segmento dominado por inspetores humanos e técnicas de amostragem, agora é possível monitorar todos os itens de uma linha de montagem com algoritmos inteligentes alimentados por grandes quantidades de dados. Sistemas de visão computacional, equipados com câmeras de alta resolução e algoritmos de processamento de imagens, podem detectar problemas mais rápido e com maior precisão.

O próximo capítulo da automação das fábricas: a integração entre seres humanos e máquinas inteligentes Foto: Ridvan/Adobe Stock

Um outro segmento da manufatura que já vem se beneficiando do uso de sistemas inteligentes e sensoriamento em tempo real é a manutenção preditiva. Através da análise dos dados coletados por sensores colocados nos equipamentos e sua comparação com dados históricos e especificações dos fabricantes, é possível detectar anomalias e estabelecer um cronograma de manutenção que não impacte a produção original. Serviços deste tipo são oferecidos tanto por grandes conglomerados (como IBM, Siemens e GE Digital) quanto por empresas especializadas (como Augury, AssetWatch, e a brasileira Tractian).

Outro aspecto crítico do universo manufatureiro são as cadeias de suprimentos, cuja robustez foi seriamente questionada em função dos efeitos gerados pela pandemia da covid-19. Algoritmos capazes de prever a demanda, otimizar níveis de estoque e agilizar entregas são integrados com sistemas meteorológicos (que podem impactar os tempos de entrega dos produtos) e até mesmo os itens mais populares em redes sociais (que podem impactar as demandas futuras de determinado produto).

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Considerando estes avanços, quais serão as habilidades mais relevantes para a força de trabalho que deve interagir, controlar, monitorar e otimizar essas máquinas, tornando processos mais eficientes, limpos e robustos? Claramente, um bom entendimento dos princípios funcionais de inteligência artificial, robótica e ciência de dados parece estar no topo da lista. Ao mesmo tempo, características inatas dos seres humanos — criatividade, resolução de problemas complexos, inteligência emocional — irão tornar-se ainda mais críticas e valiosas no mercado de trabalho como um todo (e não apenas no setor de industrial). O futuro provavelmente será dominado não por seres humanos e muito menos por máquinas, mas sim pela integração entre ambos, sendo fundamental investir em treinamento e especialmente na educação da força de trabalho. Isso irá evitar que tenhamos um hiato entre as demandas da nova matriz industrial e a força de trabalho que irá ser responsável pelo seu funcionamento — de engenheiros a especialistas em cibersegurança, de cientistas de dados a roboticistas.

Em nossa próxima coluna, seguiremos por nossa jornada pelo mundo industrial, mas com foco nas indústrias responsáveis pela extração e produção dos materiais sem os quais a sociedade moderna simplesmente não existiria. Até lá.

Opinião por Guy Perelmuter

Fundador da Grids Capital e autor do livro "Futuro Presente - O mundo movido à tecnologia", vencedor do Prêmio Jabuti 2020 na categoria Ciências. É engenheiro de computação e mestre em inteligência artificial

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