No dia 12 de outubro de 1961, o jornal The Sydney Morning Herald publicou uma matéria assinada por seu repórter baseado em Nova Iorque cuja manchete era “Automação poderá acabar com a maior parte dos empregos de baixa qualificação em dez anos”. Mais de seis décadas depois, em 11 de julho de 2023, o jornal britânico The Guardian (em circulação desde 1821) anunciava os resultados de um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico: “Segundo a OCDE, a revolução da Inteligência Artificial ameaça principalmente os trabalhadores mais qualificados”.
De fato, a vasta maioria das previsões sobre o futuro da IA falava sobre robôs que iriam realizar tarefas repetitivas e “sem valor”, liberando seres humanos para utilizarem seu tempo de forma “mais útil”. Entretanto, a prática mostrou que é muito mais difícil domar átomos do que domar bits, que é muito mais complexo navegar o mundo real que o mundo digital. Fomos capazes de desenvolver algoritmos, modelos de linguagem, estruturas de treinamento e circuitos eletrônicos dedicados e que permitem a simulação de novos motores, a elaboração de diagnósticos complexos, a dedução da estrutura tridimensional de proteínas, a criação de novas versões de obras-primas de alguns dos maiores artistas da História.
Mas o desenvolvimento de sistemas autônomos que interagem com o mundo físico — capazes de dirigir carros, limpar pratos, construir pontes, retirar um tumor, pintar uma casa, plantar uma árvore — eram desafios que permaneceram, durante séculos, aparentemente impossíveis de serem vencidos. E são eles a nova fronteira de atuação da Inteligência Artificial, que aos poucos será incorporada em máquinas e em robôs.
A busca pelo desenvolvimento de entidades artificiais capazes de realizar tarefas repetitivas de forma autônoma são um tema frequente em inúmeras culturas, desde a Antiguidade: babilônios, gregos, hindus, chineses e europeus possuem em suas respectivas histórias exemplos variados e complexos deste tipo de máquina, seja na teoria ou na prática. Tais máquinas eram projetadas para medir a passagem do tempo, servir bebidas e alimentos, abrir e fechar portas, e entreter convidados com jogos e música.
Foi um inventor de Louisville, Kentucky, nos EUA, quem estabeleceu o marco da revolução robótica na indústria. Em 1954, George Devol (1912-2011) entrou com o pedido de patente para o que viria ser o primeiro robô programável, que faria sua estreia em 1961 em uma fábrica da General Motors em Nova Jersey, também nos EUA. O robô industrial Unimate (uma combinação das palavras universal e automate - ou “automatize”) foi fabricado pela Unimation, empresa fundada por Joseph Engelberger (1925-2015) e Devol, que se conheceram em um evento social em 1956.
De acordo com o US Bureau of Labor Statistics, um departamento do Ministério do Trabalho do governo norte-americano, em 1960 aproximadamente 26% da força de trabalho daquele país estava empregada no setor manufatureiro, contra menos de 10% atualmente. No Brasil, segundo a Confederação Nacional da Indústria, este número está em cerca de 21% dos empregos formais e globalmente, a Organização Internacional do Trabalho (ILO - International Labour Organization, parte das Organização das Nações Unidas) estima este percentual entre 12% e 15%.
A redução dos empregos nas atividades manufatureiras — ou, mais precisamente, as mudanças no perfil desses empregos — bem como os fatores que devem contribuir para a aceleração das mudanças no chão das fábricas são os temas de nossa próxima coluna — até lá.
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