No início do século XIX, quando a Primeira Revolução Industrial tinha apenas algumas décadas, a população global cravou um bilhão de habitantes. Foram necessários cerca de trezentos mil anos desde o surgimento do Homo Sapiens até atingirmos essa marca — mas pouco mais de cem anos depois, já éramos dois bilhões. Cinco décadas após isso, em 1960, três bilhões; apenas quinze anos depois, quatro. Às vésperas do ano 2000, a população global era de seis bilhões de pessoas, e atualmente já somos mais de oito bilhões, sendo que as estimativas são que em algum momento de 2060 o mundo terá que sustentar 10 bilhões de seres humanos.
As necessidades básicas de cada um dos habitantes do nosso planeta, seja no presente ou no futuro — alimentação, moradia, energia, transporte, educação, saúde — são produzidas em grande parte a partir de recursos naturais, transformados por processos que vão dos mais simples aos mais complexos. Se quisermos atender de forma sustentável uma população global ainda em crescimento, torna-se imperativa a aplicação de novas tecnologias a estes processos, executados por algumas das indústrias mais tradicionais do mundo moderno.
Conforme mencionamos em nossa última coluna, nunca extraímos tanta matéria-prima do planeta. Em 1950, por exemplo, o total da produção global de petróleo era de aproximadamente 6.000 terawatts/hora de acordo com o relatório Statistical Review of World Energy 2024, produzido pelo Energy Institute. Cinquenta anos depois, em 2000, o valor ultrapassava os 40.000 TWh, e hoje já está acima de 50.000 TWh. A extração do minério de ferro também experimentou um crescimento vertiginoso: dados do National Minerals Information Center (Centro Nacional de Informações Minerais, vinculado ao Departamento do Interior do governo norte-americano) indicam que, em meados do século XX, cerca de 250 milhões de toneladas de minério de ferro eram extraídas anualmente ao redor do mundo. Em 2021, este valor era dez vezes maior, ultrapassando 2,5 bilhões de toneladas.
O cenário para as próximas décadas, portanto, aponta para o crescimento da população global e, ao mesmo tempo, para o aumento na demanda dos materiais que movem o mundo. Considerando o impacto sobre o ecossistema que operações de extração de recursos naturais usualmente possuem, fica clara a importância da adoção de inovações estruturais em indústrias químicas, de mineração, de gás e óleo e florestais, por exemplo.
A combinação de tecnologias como Inteligência Artificial, Internet das Coisas e Big Data permitem, por exemplo, a melhoria da qualidade da avaliação de áreas a serem exploradas e o monitoramento em tempo real dos equipamentos utilizados — aumentando a eficiência operacional e reduzindo custos. Drones, uma adição recente ao arsenal de recursos à disposição das corporações, são utilizados rotineiramente para inspeções de infraestrutura de acesso complexo, como tubulações e plataformas de petróleo. Veículos autônomos — como caminhões e escavadeiras — são utilizados para otimizar o transporte de materiais, e robôs estão sendo utilizados tanto para tarefas repetitivas quanto perigosas, protegendo assim os seres humanos envolvidos. Já o desenvolvimento de membranas especiais permite a dessalinização da água do mar e a extração de lítio, conforme trabalho de pesquisa publicado em junho deste ano por cientistas da Escola Pritzker de Engenharia Molecular, da Universidade de Chicago.
Inovações tecnológicas devem buscar, simultaneamente, otimizar a extração de recursos e minimizar seu impacto no meio ambiente através da redução de resíduos e emissões de gases poluentes. Como podemos — e devemos — usar a tecnologia para reduzir os impactos do estilo de vida moderno sobre um planeta cada vez mais pressionado (e povoado) será o tema da nossa próxima coluna. Até lá.
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