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O Futuro dos Negócios

Opinião|Saldo positivo

Acostumado a mudanças, o mercado financeiro começa a aprender a utilizar a inteligência artificial

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Materiais como ouro, prata, cobre, sal, chá e conchas foram utilizados como moeda de troca por civilizações antigas espalhadas pelo mundo, facilitando o intercâmbio de mercadorias. Desde que a primeira moeda do mundo surgiu — provavelmente entre 650 e 600 a.C., na Lídia (atualmente, Turquia) — o mercado financeiro iniciou sua caminhada rumo a um papel de protagonismo na economia, representando atualmente cerca de 25% do Produto Interno Bruto mundial, de acordo com a empresa de pesquisas Research and Markets.

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Em seu livro de 2008, The Ascent of Money: A Financial History of the World (A Ascensão do Dinheiro: Uma História Financeira do Mundo), o historiador britânico Niall Ferguson, da Universidade de Harvard, argumenta que a invenção dos conceitos de dívida e crédito foram tão importantes para a evolução da Civilização quanto qualquer inovação tecnológica relevante. Em sua constante busca por lucratividade e eficiência, bancos, corretoras, gestores de recursos, boutiques de fusões e aquisições, e tantos outros agentes acabam por catalisar e viabilizar a atividade empreendedora.

Como tantas outras áreas do mercado de trabalho, o mercado financeiro já está experimentando os impactos causados pelo uso da inteligência artificial — e seguindo sua tradição, provavelmente será um dos setores que mais rapidamente irá buscar explorar os ganhos de produtividade e eficiência (em contraste com o setor de educação, do qual falamos em nossa última coluna). De fato, a IA já está em uso em segmentos como concessão de empréstimos online (através da avaliação instantânea do risco da operação, levando-se em consideração desde dados tradicionais — como endereço, ocupação e salário — até o tipo de telefone utilizado para solicitar o empréstimo), detecção de fraudes (com a análise de padrões de movimentações suspeitas que passariam desapercebidos por seres humanos) e recomendações personalizadas (levando em consideração todo histórico de relacionamento da instituição com o cliente, perfil de risco, objetivos e situação financeira).

Em áreas nas quais o relacionamento pessoal é crítico, é provável que a IA seja mais uma ferramenta no arsenal dos profissionais que contam com a confiança de seus respectivos clientes e parceiros Foto: Dado Ruvic/Reuters

Por se tratar de um setor da economia que possui como sua principal matéria-prima vastos conjuntos de dados, não é de se surpreender que carreiras tradicionais como banqueiros de investimento, gestores de fortunas e analistas financeiros sejam impactadas: pela capacidade de processamento superior, sistemas baseados em IA podem identificar oportunidades e tendências, emitir ordens de compra e venda de posições em milissegundos e elaborar carteiras de investimentos personalizadas. Da mesma forma, profissionais das áreas de compliance — responsáveis por garantir a aderência de todas as operações aos limites e regras impostos pela legislação — e de cibersegurança possivelmente terão suas responsabilidades expandidas em função de um ambiente de negócios no qual máquinas terão mais autonomia e flexibilidade.

É sempre importante ressaltar que, embora a tecnologia possa aumentar a eficiência de muitas das tarefas diárias, a experiência, criatividade e intuição dos seres humanos dificilmente será substituída. Mais do que isso, em áreas nas quais o relacionamento pessoal é crítico — algo muito comum no mercado financeiro — é provável que a IA seja mais uma ferramenta no arsenal dos profissionais que contam com a confiança de seus respectivos clientes e parceiros. E com a desconfiança dos reguladores.

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Por se tratar de uma indústria altamente regulada, é de se esperar que as entidades responsáveis pela fiscalização do setor financeiro estejam particularmente atentas ao uso da inteligência artificial. A falta de transparência no processo decisório das máquinas, o uso de dados que podem conter algum tipo de viés, e a confidencialidade de diversas informações disponíveis compõem desafios que necessitam de uma legislação adequada e moderna.

Mas se o mercado financeiro é uma das principais molas propulsoras da economia, isso só é possível graças à economia real que ele deve servir: em nossa próxima coluna, iremos discutir o impacto da IA na indústria — até lá.

Opinião por Guy Perelmuter

Fundador da Grids Capital e autor do livro "Futuro Presente - O mundo movido à tecnologia", vencedor do Prêmio Jabuti 2020 na categoria Ciências. É engenheiro de computação e mestre em inteligência artificial

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