Sem alarde e sem festa, o Brasil fechou o primeiro trimestre com desemprego de 7,9%, o mais baixo para esse período a partir de 2015, quando 8% dos trabalhadores ativos estavam em busca de vagas. Com expansão moderada, a economia parece livre, enfim, da fase sombria iniciada em 2014.
Nesse longo período, a desocupação foi geralmente superior a 10%, num cenário mal disfarçado, às vezes, por precárias formas de “ocupação por conta própria”. Mas esse quadro menos sombrio só se manterá, neste ano e nos próximos, se a atividade continuar em expansão e se mais oportunidades surgirem nas cidades. Para apostar nesse quadro ainda é necessário um otimismo considerável.
Apenas medíocre, sem grande melhora ou piora catastrófica, é o cenário encontrado nas projeções do mercado. O crescimento econômico deve ficar próximo de 2%, em 2024, segundo a mediana das projeções captadas pela pesquisa Focus. Números parecidos são esperados para os próximos anos, pelo menos até 2027. A inflação deste ano está estimada em cerca de 3,7%. A taxa poderá diminuir para 3,6% em 2025 e para 3,5% nos dois períodos seguintes.
Seriam perspectivas satisfatórias para países desenvolvidos. São inquietantes, no entanto, para um emergente, como o Brasil, ainda com muita pobreza e carente de recursos para vencer o atraso econômico e social. No quadro recente há poucos sinais animadores, apesar da melhora do emprego. A produção industrial encolheu no primeiro bimestre e acumulou crescimento de apenas 1% nos 12 meses até fevereiro. Os indícios de vigor continuam concentrados no agronegócio, nos serviços e mantêm-se pouco visíveis na indústria de transformação.
Apesar disso, os dirigentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) tentam manter um discurso otimista. Enfatizam as quedas da inflação e dos juros, o maior acesso ao crédito e o aumento do emprego como sinais de reação da economia, mas ainda projetam expansão de apenas 2,4% para o Produto Interno Bruto (PIB) e de 2,1% para a produção industrial.
Mas ninguém pode dizer com razoável segurança como ficarão os juros nos próximos meses. Talvez haja mais um corte de 0,5 ponto porcentual na taxa básica, na reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC), programada para os dias 7 e 8 de maio. Mas o afrouxamento da política poderá ser mais lento a partir daí. Talvez seja mesmo interrompido. A incerteza, perceptível no mercado há algumas semanas, tem sido agravada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto. Segundo ele, a insegurança resulta principalmente do risco fiscal. No Brasil, como em outros países, a redução dos gastos públicos tem sido difícil.
Com menor credibilidade fiscal, observou Campos Neto na última segunda-feira, cresce a expectativa de inflação e o trabalho dos bancos centrais se torna mais difícil. Esse é, claramente, o caso brasileiro. O presidente do BC repetiu, nessa ocasião, comentário apresentado em evento recente.
Para o Executivo, essas palavras deveriam valer como clara advertência. O resultado fiscal de março, um buraco de R$ 1,5 bilhão nas contas da União, parece dar razão a quem já duvidava, no início do ano, do equilíbrio fiscal prometido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Talvez seja cedo, ainda, para se prever com segurança o resultado final das contas públicas em 2024. Mas os cálculos do mercado indicam novo déficit federal em 2024 e essas expectativas podem afetar as condições de financiamento do setor público.
Dúvidas sobre a melhora das contas públicas tendem a dificultar a redução dos juros pelo Copom, com maus efeitos para o Tesouro, para os consumidores, para as empresas e, em resumo, para a atividade econômica. O compromisso do ministro da Fazenda com a arrumação das contas públicas pode ser insuficiente para tranquilizar o mercado, se o presidente Luís Inácio Lula da Silva se mostrar mais inclinado à gastança do que à busca do equilíbrio. Todos ganharão – o Tesouro, o setor empresarial e as famílias – se o presidente der alguma atenção a esses desafios.
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