Haddad: acordo entre UE e Mercosul ainda inspira muitos cuidados

Ministro disse que a França é hoje o maior obstáculo ao acordo por causa da resistência dos agricultores

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira, 5, que o acordo entre Mercosul e União Europeia ainda inspira “muitos cuidados”. Segundo ele, ainda que favoreça a Europa, o acordo comercial não foi fechado pelos europeus por uma questão interna da França.

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A França, lembrou Haddad, representa o maior obstáculo ao acordo, sobretudo pela resistência de seus agricultores. As declarações foram dadas durante debate com o professor da Universidade de Columbia Adam Tooze, promovido pela Phenomenal World, uma revista digital focada em economia política.

Durante o painel, Haddad voltou a pedir também maior alinhamento entre as instituições no Brasil, dizendo que gostaria de terminar 2024 com a mesma sensação de bons resultados do ano passado, quando foram aprovadas várias leis importantes para pavimentar a sustentabilidade social, ambiental e econômica do Brasil.

Após traçar tensões na geopolítica, o ministro avaliou que o momento inspira cuidados, mas o médio e longo prazo prometem ser bons ao Brasil.

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Fernando Haddad alertou para risco de "patrimonialismo verde" Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

EUA e China

Durante o evento, Haddad também falou da relação com Estados Unidos e China. Apesar da boa relação, ele ponderou que vê o potencial brasileiro subestimado pelos dois países.

“Em nenhum momento de conversa de Lula com Xi Jinping ou Biden pareceu desprezo pelo Brasil, mas a subestimação do potencial de parceria parece notável”, disse o ministro, no evento da Phenomenal World.

A Alemanha, por outro lado, citou Haddad, tem um olhar hoje para a América do Sul com um apetite benéfico para os dois lados. O país, afirmou, vê o Brasil como um fornecedor de energia limpa, mas também como um parceiro que pode se reindustrializar sob premissas sustentáveis.

Haddad ponderou que o momento brasileiro ainda inspira cuidados, mas se tudo correr bem, o médio e longo prazo prometem ser bons para o País. “O Brasil vive riscos de solavancos de curto prazo, ainda temos um ambiente político interno que inspira muitos cuidados”, disse o ministro, que defendeu que as instituições precisam estar mais afiadas. “Tivemos um bom 2023 desse ponto de vista, gostaria de chegar em 2024 com a mesma sensação.”

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Ainda sobre o cenário global atual, Haddad o classificou como desafiador e em certo sentido aterrorizante ao destacar o grau de novidade atrelado ao conflito entre Estados Unidos e China.

“A Rússia não podia fazer frente aos Estados Unidos do ponto de vista econômico e o Japão não podia fazer frente ao militar. Essa é a exclusividade do momento que estamos vendo”, analisou o ministro, que salientou que ambos os países são parceiros importantes do Brasil.

Patrimonialismo verde

Haddad alertou ainda ao risco de grupos econômicos se apropriarem e perpetuarem estímulos públicos da agenda verde, como aconteceu com benefícios lançados até três décadas atrás e que são mantidos até hoje.

Para Haddad, o risco de o Brasil sofrer o que chamou de “patrimonialismo verde” é “absolutamente real”. “Da mesma forma que tem o greenwashing (maquiagem verde), pode ter o patrimonialismo verde à espreita de oportunidades”, declarou o ministro.

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O risco de lobbies econômicos organizados capturem permanentemente os subsídios da transição ecológica precisa ser prevenido pela transparência do setor público e acompanhamento das políticas estratégicas da agenda socioambiental, defendeu Haddad.

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