Haddad avalia aceitar acordo com grandes empresas e bancos sobre mudanças no Carf

Fontes da área econômica do governo dizem que são boas as chances de o ministro aceitar o acordo

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Foto do author Adriana Fernandes
Atualização:

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avalia aceitar o acordo proposto pelas grandes empresas e bancos para regular o chamado voto de qualidade nos casos de empate no Carf, o tribunal administrativo que julga os recursos dos contribuintes contra autuações de cobrança de impostos feitas pela Receita Federal.

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Fontes da área econômica do governo Lula afirmaram ao Estadão que são boas as chances de o ministro aceitar o acordo, que começou a ser costurado nessa quarta-feira, 01º. Seria uma forma de garantir a entrada de recursos no caixa do governo num prazo razoável e com menor judicialização.

Os empresários acenaram a Haddad que a regulação do voto de qualidade pode garantir o triplo da projeção da Fazenda em arrecadação, segundo apurou a reportagem.

A proposta foi levada ao ministro pelo presidente do conselho da Esfera Brasil, João Camargo, no dia da posse dos novos parlamentares do Congresso e após o Conselho Federal do Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ter acionado o Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Medida Provisória que restabeleceu o voto de qualidade no Carf. A expectativa dos empresários é fechar o acordo até sexta-feira.

Fontes da área econômica do governo Lula afirmaram ao Estadão que são boas as chances de o ministro aceitar o acordo proposto por grandes empresas e bancos Foto: Werther Santana/Estadão - 30/01/2023

O voto de qualidade é usado quando há empate. Ele tinha sido eliminado pelo Congresso em abril de 2020. Até então, com o voto de qualidade, os presidentes das turmas de julgamento do Carf, indicados pela Fazenda, desempatavam os julgamentos. Com o fim da prerrogativa, as disputas passaram a ser resolvidas sempre favoravelmente aos contribuintes.

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Ao Estadão, Camargo disse que a proposta levada a Haddad foi elaborada com apoio do sócio fundador do escritório Mattos Filho, Roberto Quiroga. Por ela, em caso de empate, as multas e os juros cairiam, ou seja, não precisariam ser pagos, restando apenas o principal da dívida. A eliminação dos juros e multas seriam um incentivo para que as empresas não recorram depois ao Judiciário.

Pela proposta inicial, no julgamento de um caso de empate que tenha restado o principal do tributo, haveria um prazo de 180 dias para uma transação entre Fisco e contribuinte. A ideia é que, após o julgamento que deu empate, o governo federal e contribuintes se reúnam para uma tentativa de acordo em relação ao valor do principal da dívida.

Mas a equipe econômica propôs um prazo menor inicialmente de duas semanas e depois de 30 dias. Em contrapartida, os empresários falaram num prazo de no mínimo 90 dias para as empresas. Haddad não bateu o martelo.

“Vamos voltar ao voto de qualidade desde que ele seja regulado. Julgou e empatou, tem 90 dias para pagar o principal sem juros e multa”, disse Camargo. Segundo ele, do valor total dos autos de infração, em média, 30% são referentes ao principal, 35% multas e 35% juros.

O secretário da Receita, Robinson Barreirinhas, disse no encontro, segundo relato do presidente da Esfera, que o Fisco só recupera hoje 5% de todos os valores dos processos que chegam ao tribunal. O Carf tem R$ 1 trilhão em disputa nos processos que estão em estoque.

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“Os três principais bancos Bradesco, Santander e Itaú cada um tem R$ 60 bilhões, Vivo tem R$ 30 bilhões, Petrobras tem R$ 140 bilhões. Esses números são muito altos”, disse Camargo. Ele ressalta que nem Barreirinhas soube explicar por que a multa já começa com 150% do valor devido porque a Receita já considera a situação como fraude.

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“Difícil achar que o Bradesco, a Vale, a Ambev vão fazer fraude”, ponderou o presidente ao ser questionado pela reportagem do Estadão que há casos no tribunal em que fraudes são identificadas. “De três anos para cá, ninguém mais faz planejamento tributário”, disse. O planejamento tributário busca brechas na legislação para as empresas pagarem menos impostos.

No encontro, a avaliação de Camargo foi a de que o ministro gostou da proposta, já que não precisaria voltar atrás na decisão de restabelecer o voto de qualidade. Ele disse que, se Haddad topar o acordo, a estratégia é trazer o apoio de todos os membros da Esfera, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), além dos 109 membros da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).

A Esfera quer fechar o acordo até sexta-feira porque é o prazo para os parlamentares fazerem emendas na MP. A ideia é alterar a MP antes que ela vire uma colcha de retalhos. A proposta já foi levada também ao ministro do STF, Dias Toffoli, relator da ação que trata da volta do voto de qualidade.

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