O almoço anual de banqueiros deste ano, oferecido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), estava marcado para começar às 11h30, mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou antes disso. Foi o primeiro, antes mesmo do anfitrião, Isaac Sidney, presidente da federação. Avisou aos organizadores que preferiu se adiantar a correr o risco de enfrentar um congestionamento em São Paulo e, também, disse que queria aproveitar o tempo com os presentes.
Logo chegaram Sidney e o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi. Pouco a pouco, os banqueiros foram surgindo na antessala reservada aos convidados do evento. Haddad usou o tête-à-tête para antecipar o que viria a fazer uma hora depois no palco, diante de 503 convidados: tentar acalmar os ânimos quanto ao compromisso do governo Lula com as contas públicas. A julgar pelo humor dos banqueiros na saída do almoço, conseguiu.
A reportagem do Estadão ouviu quatro dirigentes de grandes bancos e dois empresários, todos falaram em condição de anonimato. Antes de Haddad entrar em cena, a visão era de que seria difícil o governo Lula reverter as expectativas negativas geradas pelo que julgam um “erro de comunicação” na condução dos anúncios desta semana. Depois, as mesmas pessoas se diziam convencidas pelo discurso do ministro.
A avaliação de um dos banqueiros é de que Haddad não veio com postura de que o que está feito está feito e ponto final. Pelo contrário, disse esse representante do alto escalão do mercado financeiro, o ministro sinalizou que pode corrigir a todo e qualquer tempo o rumo. “Não é um gran finale”, disse Haddad. “Daqui a três meses pode ser que eu esteja de novo com uma planilha”, disse o ministro, sobre o ajuste ser uma tarefa permanente.
A insistência do ministro em repetir que ele não está trabalhando por um ajuste nos gastos públicos porque está cedendo aos pedidos de algum setor, e sim porque acredita nisto, também agradou. “Eu creio, é parte da minha formação”, repetia Haddad. “Eu falo isso aqui, falo no PT, falo no Jornal Nacional. Porque acredito”, disse.
O ministro da Fazenda não negou que o convencimento do presidente Lula seja uma parte do seu trabalho. Disse que é natural que o presidente eleito chame a atenção de ministros sobre o que considera crucial de acontecer no governo e que cabe a ele, Haddad, como ministro, explicar o que pode ou não ser feito.
Ele aproveitou, então, para indicar que hoje é um dos nomes mais próximos a Lula: “Tenho uma relação informal com o presidente”, afirmou. Às vezes, disse Haddad, até excessivamente informal.
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O mais pessimista entre os ouvidos avalia que talvez as coisas tenham de piorar antes de melhorar. Mas as falas e o semblante geral na saída eram de alívio.
“O problema é o chefe dele”, dizia um dos banqueiros ao final do evento.
No mundo ideal, na visão dos banqueiros, o presidente Lula traria uma “palavra forte” sobre o compromisso com cortes, embora nos bastidores reconheçam que é difícil imaginar este cenário. Há uma percepção corrente de que a fala de outros ministros fora da equipe econômica, especialmente Rui Costa, atrapalham Haddad.
Ajuda de Lira e Pacheco
Do outro lado, o Congresso ajudou. Em Brasília, os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), reiteraram o compromisso do Congresso com o arcabouço fiscal e disseram que vão dar celeridade à tramitação das medidas de cortes de despesas. Também frisaram que as mudanças da isenção do Imposto de Renda deverão ser discutidas no próximo ano e que dependerá de condições fiscais para se concretizar.
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, também acenou aos mercado financeiro e disse que se Lula não tivesse compromisso com a responsabilidade fiscal, ela não teria durado no governo até agora. Foi aplaudida pelos banqueiros.
O saldo da sexta-feira foi uma melhora no humor do mercado.
Haddad reconheceu que não foi um bom ano em termos de “ancoragem de expectativas”, embora tenha sido um bom ano do ponto de vista produtivo. “Temos de trabalhar isso”.
Se o pacote de contenção de gastos viesse sem o anúncio sobre a isenção do imposto de renda para a faixa de ganho mensal de R$ 5 mil, a tarefa do ministro seria mais fácil quanto às expectativas dos presentes no almoço da Febraban. A aposta de Lula parece ser a de que, fora do rooftop onde se reuniram os banqueiros, as expectativas são outras.
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