Haddad no Brasil deve aliviar mercado, mas cobrança por corte de gastos segue firme, dizem analistas

Ministro da Fazenda cancelou viagem que faria à Europa a pedido de Lula após disparada do dólar

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Foto do author Maria Regina Silva
Atualização:

O anúncio de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cancelou a viagem que faria à Europa ao longo desta semana foi bem visto por especialistas consultados pelo Estadão/Broadcast, que esperam uma reação positiva dos mercados nesta segunda-feira, 4.

Segundo nota divulgada pelo Ministério da Fazenda na manhã deste domingo, 3, o ministro permanecerá em Brasília para tratar de “temas domésticos” a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A expectativa agora é de que haja um anúncio de medidas de corte de gastos em breve.

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O cancelamento da viagem foi uma surpresa “bem” positiva, segundo Bruno Takeo, estrategista da Potenza Capital. Para ele, indica que o governo se sensibilizou, dado o recente estresse dos mercados financeiros no Brasil em meio ao anúncio da ida do ministro ao continente europeu.

“O dólar superou R$ 5,80 e os juros explodiram. O cancelamento mostra que o governo se sensibilizou, indica um senso de urgência”, diz Takeo.

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Haddad cancela viagem à Europa para tratar de 'temas domésticos'. Foto: Wilton Junior/Estadão

Por conta da indefinição com o fiscal, na sexta-feira, dia 1º, o dólar à vista fechou no segundo maior nível da história, a R$ 5,8694, em alta de 1,53%, com avanço forte dos juros futuros. O Ibovespa recuou 1,23%, aos 128.120,75 pontos, o menor nível de fechamento desde 7 de agosto, então aos 127,5 mil pontos.

“De forma geral é uma sinalização positiva para o mercado e para o Brasil. Visto que a situação está mais delicada, ver o governo focado em trazer uma resposta concreta e rápida é importante”, concorda o economista da Manchester Investimentos, Thiago Lourenço. “Essa sinalização de Lula pedindo para o Haddad ficar vem num bom momento. O mercado precisa ter a presença dele aqui voltada para controlar os gastos”, diz Gustavo Riess, sócio e assessor da Ável Investimentos.

Para Gabriel De Biase Berenguer, presidente executivo da RJ+ Asset, o governo priorizou os desafios econômicos internos e evitou um possível estresse adicional aos mercados. Ele diz que a reação dos mercados na abertura desta segunda-feira pode ser favorável, mas as ações concretas dos próximos dias seguem no radar. “Se efetivamente essa postergação da viagem se dá para ter algum anúncio em relação ao fiscal, isso é bastante positivo”, reforça Rodrigo Moliterno, head de Renda Variável da Veedha Investimentos.

Na mesma linha, Pedro Moreira, sócio da One Investimentos, afirma que o cancelamento da viagem em si não deve trazer grande alívio. “(O mercado) quer resoluções práticas e concretas, anúncios, não mais promessas. Isso controlaria a parte de especulação que estamos tendo, as pressões em cima do câmbio e da inflação”, afirma. “Só remarcar (a viagem) não muda nada, dada a calamidade que está”, observa Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos. E, para Gustavo Jesus, sócio da RGW Investimentos, “cada vez que o governo adia a questão, menos paciência o mercado tem”.

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Mas a expectativa de Takeo, da Potenza, é de que a abertura dos ativos brasileiros nesta segunda-feira seja atenuada, pois o governo pode anunciar o pacote de corte de despesas nos próximos dias, em vez de fazer isso apenas na semana seguinte. Ele pondera, no entanto, que os ativos ainda podem não devolver todo o prêmio de risco, uma vez que os investidores e os agentes querem algo concreto.

De acordo com o economista-chefe do BV, Roberto Padovani, com o cancelamento da viagem, o governo anunciará alguma medida fiscal para reduzir as despesas da máquina pública. E, segundo o analista da Empiricus Research, Matheus Spiess, esse anúncio pode vir logo, talvez até o dia 8 ou 9. O estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, por sua vez, vê chance de algo sair já nesta segunda.

“Imagine a pressão que não ficou em cima do Haddad, que teve de cancelar a viagem. Provavelmente terá de fazer algum anúncio nesta segunda-feira”, diz. Mas, se o anúncio não agradar, Laatus decreta: “É dólar a R$ 6″.

O economista-sênior da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, afirma que só mesmo um anúncio de medidas que levem à percepção de responsabilidade fiscal mudará a dinâmica dos ativos brasileiros. “Se houver, é o que realmente vai mudar, mesmo que de forma tardia”, afirma.

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