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Haddad diz que voto de Campos Neto no Copom foi ‘técnico’ e ‘teve papel importante’

Responsável pelo ‘voto de minerva’ no comitê, o presidente do Banco Central desempatou o jogo a favor de um corte maior na taxa básica de juros, de 0,50 ponto porcentual

Foto do author Fernanda Trisotto
Atualização:

BRASÍLIA – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o voto de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, a favor da redução de 0,5 ponto percentual da Selic durante a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) foi importante e teve um caráter técnico.

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O Copom decidiu por um corte maior da taxa básica de juros em uma decisão dividida: foram cinco votos favoráveis à redução de 0,5 ponto e outros quatro votos por uma diminuição menor, de 0,25 ponto.

“(O voto) teve um papel importante, evidentemente. Eu tenho certeza, até por conhecê-lo há oito meses, que o presidente do BC votou com aquilo que ele conhece de economia. É um voto técnico, calibrado, à luz de tudo o que ele conhece da realidade do País. Eu tenho convicção”, disse há pouco no Ministério da Fazenda.

Plenário do Senado Federal durante sessão de debates temáticos destinada a debater o tema "Juros, Inflação e Crescimento". Mesa: presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto; ministro de Estado da Fazenda, Fernando Haddad. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Haddad cumprimentou todos os diretores do BC, independentemente do voto, mas ressaltou o aspecto técnico de Campos Neto. “O fato de nós estarmos nesse momento alinhados em torno da decisão não significa que houve concessão do BC. O que houve foi uma situação de voto apertada mesmo, todas opiniões dignas e legítimas, e tenho certeza que o voto dele (Campos Neto) foi totalmente e balizado em considerações de natureza técnica”, disse.

Na manhã desta quarta-feira, antes da decisão do Copom, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atacar Campos Neto. Ele se referiu ao presidente BC como “esse rapaz” e disse que o dirigente não entende o País, além de não atender aos interesses do povo.

Haddad disse que já enviou uma mensagem ao presidente do Banco Central e os dois ficaram de conversar em outro momento. O ministro reiterou o respeito do Ministério da Fazenda pelo Banco Central. “Nesse período todo em que houve divergências, nós sempre mantivemos uma um diálogo de altíssimo nível, a começar pelo presidente Roberto Campos Neto, que sempre demonstrou muita abertura no diálogo e é assim que se constrói”, disse e destacou a queda inicial nos juros como fruto de um diálogo absolutamente técnico.

Para ele, as divergências públicas são resultado da livre manifestação em uma democracia. Ainda assim, disse que o diálogo entre as equipes técnicas – mencionando os ministros Simone Tebet (Planejamento), Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) e Esther Dweck (Gestão e Inovação), além do Banco Central – sempre teve nível elevado.

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“Eu posso assegurar que o diálogo tanto entre nós quanto das nossas equipes foi o mais elevado possível. Nunca faltou nenhuma abertura de nenhum lado para sentar e dialogar a respeito das decisões corretas que precisam ser tomadas. O fato do placar ser apertado é porque é uma discussão técnica”, reitera.

Haddad ainda disse que é normal haver divergências em momentos de transição e destacou a condição do Banco Central independente, com um presidente indicado pelo governo anterior, e que mantém um diálogo inédito com o Ministério da Fazenda da nova gestão. “Isso nunca aconteceu, nós estamos aprendendo a lidar com uma realidade institucional nova. Todo mundo vai aprender e sair maior”, disse.

‘Recado a Poderes’

O ministro da Fazend disse que a redução de 0,5 ponto da Selic traz um recado para os demais Poderes: a necessidade de continuar com reformas econômicas tendo em vista o desafio fiscal já para 2024.

“Esse é um recado para os Poderes constituídos de que nós temos de continuar. Não é hora de baixar a guarda, é muito desafiador o ano que vem. Nós temos um desafio fiscal importante. Esse resultado de hoje dá um alento, porque estávamos vendo uma queda de arrecadação importante, uma desaceleração muito forte, e eu penso que as coisas vão se enquadrar”, disse o ministro.

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Para ele, a harmonização das políticas fiscal e monetária é que vai proporcionar ao País um novo ciclo de desenvolvimento. “Essa é a minha convicção, desde que nós continuemos a aprovar a agenda que está sendo endereçada ao Congresso, com os reparos que o Congresso faz e são absolutamente legítimos, ou que o Executivo venha a apoiar projetos de senadores e deputados quando são de interesse do País. Esse é o caminho”, disse.

O ministro ressaltou que esses movimentos estão fortalecendo a agenda econômica, construída coletivamente. Também ponderou que o comunicado deixou aberto o caminho para mudança de conjuntura caso essa pauta siga avançando, destacando que a decisão pelo corte de 0,5 ponto teve um placar de cinco votos a quatro, mas que a sinalização pela continuidade de cortes nesta magnitude foi unânime.

“O comunicado é uma combinação que reflete uma visão de conjunto. Começou com 0,5, sinaliza os próximos cortes e obviamente que pode haver uma mudança de conjuntura para melhor assim que a agenda econômica continuar avançando. Tivemos um ganho importante. O Congresso entregou, o Poder Judiciário entregou, o Executivo entregou e nós vamos continuar correndo atrás dos resultados para que esses indicadores melhorem ainda mais”, afirmou, frisando que espera um cenário econômico ainda melhor daqui para frente.

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O ministro disse ainda que falaria com o presidente Lula sobre a decisão do Copom após ter feito uma leitura atenta do comunicado e uma pequena reunião com a equipe. “Vamos passar ao presidente uma visão correta da interpretação sobre os próximos passos. Penso que é um dia importante”, afirmou.

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