BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a taxa de juros no Brasil chegou a 13,75% ao ano por causa da “farra eleitoral” promovida pela gestão de Jair Bolsonaro, que descontrolou as contas públicas e viu a inflação subir e superar a marca dos dois dígitos.
“A taxa de juros chegou a 13,75%, em agosto do ano passado, porque houve uma farra durante as eleições, em que tudo somado, chegamos a termos anualizados a R$ 300 bilhões entre desonerações, gastos adicionais, auxílios, tudo aquilo que foi feito de maio, junho do ano passado até a eleição, e antes, com a PEC dos Precatórios”, disse Haddad aos deputados em sessão conjunta de comissões na Câmara.
Haddad disse que o Banco Central subiu a taxa de juros “pelo completo descontrole das contas públicas” e inflação de dois dígitos.
Corte
Ele defendeu que o governo vem tomando medidas saneadoras desde janeiro, como a reoneração dos combustíveis e a aprovação do projeto de preço de transferências. Essas medidas, na avaliação dele, abrem espaço para a redução da taxa de juros.
“É um debate que pode ser feito pela sociedade e é técnico, não tem a ver com política. É um debate normal em toda democracia”, disse.
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Ele citou dois exemplos sobre os juros. O primeiro foi sobre a indústria automobilística nacional, que está produzindo em 50% da capacidade, e vendendo 70% dos carros à vista por restrições ao crédito. O outro dizia respeito a taxas de juros adotadas em outros países desenvolvidos, em que a inflação está mais elevada que a brasileira, mas os juros são negativos.
Haddad disse que nem todos os casos são aplicáveis à realidade brasileira, mas entre ter uma taxa de juros negativa e uma taxa real de juros de 8%, há espaço para ponderação se é necessário manter a Selic em 13,75% ao ano.
“Temos de nos reacostumar com a democracia, poder conversar, emitir opinião. O fato de eu entender que há espaço para início de ciclo de corte não é ofensa, até porque não estou questionando a autoridade monetária”, disse.
Ele reiterou que nunca desrespeitou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e vice-versa, reafirmando que o debate é sobre o Brasil e não sobre causas pessoais.
O ministro defendeu que é preciso buscar o atingimento das metas de inflação com inteligência, para não provocar nenhum desarranjo na economia.
Haddad disse ainda que o crescimento brasileiro abaixo da média mundial justifica a preocupação com a taxa de juros e reiterou que as relações entre a Fazenda e Banco Central são cordiais. “O Brasil não pode se dar ao desleixo de continuar, por mais dez anos, crescendo abaixo da média mundial. É por isso que estamos preocupados com juros, e não porque a pessoa que está lá foi nomeada pelo governo anterior”, disse.
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