Haddad diz a jornal francês que não há mudança radical na Petrobras: ‘Sem motivo de preocupação’

Ministro da Fazenda afirmou acreditar que mudança na estatal ocorreu por ‘razões de relações pessoais’ entre Prates e Lula; ele disse que Brasil pode crescer 3% ao ano até 2027

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Em entrevista ao jornal francês Le Monde, publicada nesta quarta-feira, 29, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que acompanhou a demissão de Jean Paul Prates do comando da Petrobras “de longe”, mas acredita que a mudança ocorreu sobretudo por “razões de relações pessoais” entre Prates e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Segundo ele, “não há motivo para se preocupar com a Petrobras.” “Não há mudanças radicais planejadas e a companhia deve executar seu plano de investimentos”, afirma.

Haddad disse ainda que o projeto do governo Lula de explorar petróleo na Amazônia “não é bem compreendido”. Ele diz que não vê contradição entre objetivos ecológicos da administração Lula e a empreitada. “Em primeiro lugar, porque não acredito que a exploração de petróleo nesta região terá consequências ambientais”, afirma, acrescentando que o real impacto ecológico “não está na exploração, mas na utilização” do combustível.

Segundo Haddad, há investimentos no Brasil para produzir veículos menos poluentes, híbridos ou adaptados aos biocombustíveis locais. Ele diz que o Brasil fornece ao mundo um petróleo de “boa qualidade”, mas também iniciou um “grande plano de transição ecológica”, com um mix de fornecimento de eletricidade dos mais limpos do mundo.

Haddad defendeu ao 'Le Monde' a criação de um imposto global sobre os super-ricos como 'uma urgência e uma necessidade para os Estados' Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

Crescimento da economia

O ministro da Fazenda disse acreditar que o Brasil pode conseguir um crescimento anual médio de 3% durante o mandato de Lula, que termina em 2027. Para ele, “nosso dinamismo é subestimado pela maioria dos analistas”. Ele recordou das previsões fracas sobre 2023 que não se concretizaram.

Haddad foi questionado sobre os efeitos das inundações no Rio Grande do Sul na economia brasileira. Segundo ele, trata-se de “um golpe duro”, pois o Estado responde por 8% da riqueza nacional e é um grande produtor agrícola e industrial. Ele afirma que o governo federal está determinado a que não falte nada para a reconstrução, qualificando o quadro como “um oceano de desafios”.

O ministro ainda diz que o atual governo recebeu a “herança da tragédia econômica dos anos do presidente Jair Bolsonaro”, com inflação alta e crescimento fraco.

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“Nós temos contornado a situação apesar de um contexto internacional difícil”, comenta, mencionando os juros elevados do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e seu peso no crescimento brasileiro. “Eu acredito em ‘milagres, mas é preciso levar em conta os freios externos”, argumenta. Haddad ainda celebrou a aprovação de uma reforma fiscal.

Questionado sobre a possibilidade de ser presidente, ele afirmou que não fica pensando em qual cadeira pode ocupar adiante. “Meu trabalho já é suficientemente complexo para que eu nem pense mais no que vem depois”, conclui.

Imposto sobre super-ricos

Haddad defendeu a criação de um imposto global sobre os super-ricos como “uma urgência e uma necessidade para os Estados”. O jornal francês lembrou que Haddad estará à frente na reunião dos ministros de Finanças do G-20, em 25 e 26 de julho no Rio, e busca um acordo sobre o tema. O ministro é apontado pelo Le Monde como “o sucessor” de Lula.

Ele afirmou acreditar que a taxação dos super-ricos tem “chance significativa de prosperar”. Segundo Haddad, isso envolveria cerca de 3 mil pessoas no planeta, que detêm cerca de US$ 15 bilhões “e que, na verdade, pagam muito pouco imposto”. Ao mesmo tempo, o ministro brasileiro se diz cauteloso sobre o mecanismo apropriado para adotar essa medida e acrescenta que os detalhes dela ainda estão sob discussão no G-20.

Haddad afirmou que a posição do Brasil vai além da “simples taxação dos super-ricos”, para prever que parte do dinheiro coletado seja usado não para fins domésticos de cada país, mas alocado em um fundo internacional para resolver problemas globais, como a crise climática e a luta contra a pobreza. Ele qualifica a ideia como “muito sensível” e diz que só poderia ter sucesso no longo prazo, considerando-a “um extraordinário passo adiante em nível global”.

Também disse que o apoio do governo francês no caso é “muito importante”, e acrescenta que outros países também demonstraram apoio à ideia, como a Espanha. O ministro diz que gostaria de ver um comunicado da China ou da Índia apoiando a proposta brasileira.

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