NOVA YORK - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira, 23, que a equipe econômica vai acelerar o passo em busca de retomar o grau de investimento para o Brasil, perdido em 2015. Nesta manhã, Haddad e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversaram com representantes das agências S&P Global Ratings e Moody’s em Nova York, em paralelo a compromissos por conta da Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU).
“A convicção que eu tenho, ouvindo tudo o que eu ouvi, é que nós estamos no caminho. E vamos tentar acelerar o passo o mais rápido possível (para recuperar o grau de investimento)”, disse a jornalistas, após a reunião.
Na percepção do ministro, o Brasil deve ter nova melhora de rating no próximo ano, o que pode fazer com que o País fique em “uma ou duas” classificadoras a um passo de recuperar o selo de bom pagador. Haddad contou que disse a Lula que é “muito desafiador” conseguir o grau de investimento até o fim do seu mandato, em 2026.
A classificação de risco (rating) soberano, também chamada de nota de crédito, é a nota dada por instituições especializadas em análise de crédito, chamadas agências classificadoras de risco, a um país emissor de dívida. Essas agências avaliam a capacidade e a disposição de um país em honrar, pontual e integralmente, os pagamentos de sua dívida — ou seja, se há chance de dar um calote. O rating é um instrumento relevante para os investidores, uma vez que fornece uma opinião independente a respeito do risco de crédito da dívida do país analisado. O grau de investimento, por sua vez, é uma espécie de selo de bom pagador.
“Nós vamos trabalhar. Não tem muito cabimento o Brasil não ter grau de investimento. O Brasil é credor internacional, tem US$ 100 bilhões de superávit comercial, é o segundo ou terceiro destino de investimentos privados e estrangeiros”, disse o ministro.
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Ele disse que o País está sendo procurado por todos os países e fundos soberanos para apresentar seus investimentos de infraestrutura, da transformação ecológica e de reindustrialização. “Nem para eles faz muito sentido (o Brasil não ter grau de investimento).”
Pedido de Lula
Haddad afirmou que as conversas com as agências de classificação de risco foram um pedido do presidente. “Ele (Lula) quis conversar um pouco com as agências de risco para entender a opinião que estão tendo das políticas implementadas no Brasil, do esforço que estamos fazendo depois de dez anos de rebaixamento, em que as contas públicas foram muito desorganizadas”, disse.
O ministro contou que Lula o indagou sobre o cronograma para a reaver do selo do grau de investimento. “E eu disse para ele que nós aguardávamos uma nova rodada de aumento da nota para o ano que vem.” Haddad afirmou que a decisão de melhora de rating do Brasil cabe às agências, mas que os prognósticos da Fazenda são “muito bons”.
“E isso (melhora da nota) nos deixaria, não sei se em todas, mas em pelo menos uma das agências de risco, a um passo do grau de investimentos”, projetou Haddad, lembrando que, no início da gestão de Lula, o Brasil estava a três degraus do selo de bom pagador.
Atualmente, o Brasil está a dois patamares de distância de recuperar o selo de bom pagador nas três maiores classificadoras do mundo. Pela Moody’s, o rating do País é o Ba2, e a perspectiva da nota foi melhorada de estável para positiva neste ano. Já pela S&P, o Brasil tem BB, com perspectiva estável. Além delas, a Fitch Ratings reafirmou a classificação do Brasil em BB, com perspectiva estável, em junho último.
Avanços
O ministro da Fazenda disse que as conversas com as agências tiveram foco nas agendas econômica e institucional do Brasil. Segundo ele, as classificadoras se manifestaram em relação aos avanços, e não aos retrocessos do País.
“Todos se manifestarem em relação aos avanços do Brasil. Ninguém falou em retrocesso. De fato, os avanços são muito grandes, sobretudo na relação com o Congresso, do Judiciário”, disse.
Segundo o ministro, as agências de risco ainda não processaram algumas medidas positivas para o Brasil. Como exemplo, ele citou a questão das emendas parlamentares, que devem ficar dentro do arcabouço, e a questão da lei de responsabilidade fiscal, que passa a valer também para todas as decisões tomadas pelo Congresso.
“Ou seja, se abrirmos mão de alguma receita, nós temos que compensar com outra. Isso dá uma estabilidade para o País, que é muito valorizada pelas agências de risco”, afirmou Haddad.
De acordo com ele, as agências de classificação de risco estão preocupadas mais no médio e longo prazo e não com o dia a dia de Brasília. No cenário doméstico, por sua vez, a visão é diferente e, conforme o ministro, não há ainda a real dimensão do que essas medidas em relação ao Congresso significam em termos de equilíbrio fiscal.
“Esse tipo de coisa é muito valorizada pelas agências. Nós não vemos no Brasil, internamente, nós não vemos esse debate acontecer”, afirmou. Haddad disse que o governo está revertendo a armadilha de dez anos que colocou o Brasil na situação fiscal atual com “muita ênfase”.
Reunião com a Fitch
Após se reunir com duas das maiores agências de classificação de risco, a S&P Global Ratings e a Moody’s, Haddad disse que também terá um encontro com representantes da Fitch Ratings, durante passagem por Nova York, nos Estados Unidos.
Pessoas a par da agenda do ministro disseram, na condição de anonimato, que há uma reunião agendada com o presidente global da Fitch Ratings, Paul Taylor, nesta terça, 24, a partir das 14h30 no horário do Brasil (13h30 local). Haddad e Lula devem participar.
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