Haddad manda recado para o BC com pacote e critica juros altos: ‘70 milhões de CPFs negativados’

Ministro diz que medidas anunciadas são ‘resposta’ ao risco apontado pelo Banco Central para manter os juros básicos altos e disse que o governo está aprendendo a ‘coreografia’ com o BC autônomo

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BRASÍLIA - Mexendo com um papel na mão, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as medidas econômicas que tinha acabado de anunciar, com potencial de R$ 242,7 bilhões de ajuste entre receitas e despesas, eram “uma carta” para o Banco Central.

Com essa fala, Haddad quis mostrar que as medidas eram uma resposta ao risco fiscal que o Banco Central embute nas decisões sobre a Taxa Selic, os juros básicos da economia. Ele criticou o patamar atual da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 13,75% ao ano. “São 70 milhões de CPFs negativados no Brasil em razão do lado monetário da economia, em razão da taxa de juros”, afirmou.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresenta o pacote de medidas fiscais para reduzir o rombo nas contas públicas Foto: Wilton Junior

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A referência à carta e aos juros altos foi mais “round” das críticas veladas que o ministro vem fazendo à política de juros altos num cenário de desaceleração da economia em meio aos seguidos alertas sobre as incertezas do cenário das contas públicas feitos pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Nessa semana, Haddad recebeu uma carta de Campos Neto explicando as razões pela inflação de 2022 ter estourado e fechado o ano fora do intervalo da meta. “Eu recebi uma carta do Banco Central, e agora essa (o pacote de medidas) é uma carta para o Banco Central. Nós vamos trocando cartas”, disse.

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A uma pergunta do Estadão, se estaria insatisfeito com o BC, Haddad disse que não tem que estar satisfeito ou insatisfeito mas respeitar a autonomia da autoridade monetária.

Ele disse que não “controla” o BC e voltou a falar da necessidade de se “harmonizar” as políticas fiscal e monetária. Chamou esse processo de uma “coreografia” que o governo está aprendendo a fazer, já que a autonomia da autarquia é relativamente recente, aprovada em 2021.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Foto: Adriano Machado/Reuter

Haddad fez questão de dizer que a decisão do governo sobre a desoneração de PIS/Cofins sobre combustíveis, prorrogada por 60 dias no caso da gasolina, é um exemplo de medida que depende da leitura da carta do BC que justifica o estouro da meta de inflação no ano passado.

“Também tem a ver com a conversa com a autoridade monetária, à luz também da carta de descumprimento da meta [de inflação] pelo segundo ano consecutivo. Queremos entender o que a autoridade monetária, que tem autonomia, está considerando para essa questão”, afirmou o ministro.

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Haddad pareceu incomodado com as matérias dele falando sobre o BC. “Tem gente que se incomoda quando eu falo de fatos da política monetária, mas são fatos. Eu não tenho que estar satisfeito ou insatisfeito com o Banco Central, eu tenho que trabalhar com o Banco Central, respeitar a institucionalidade, a autonomia do Banco Central”, disse Haddad. “E volto a dizer, como falei no meu discurso de posse: Não existe política fiscal e política monetária. Existe política econômica”, disse.

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