BRASÍLIA - Após o primeiro embate com a ala política do governo em torno da prorrogação da isenção de impostos federais dos combustíveis, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que aceita o papel de “patinho feio” da Esplanada.
“Vocês sabem o quanto isolada a equipe econômica fica. É o patinho feio. Aceitamos esse encargo, mas para fazer o bem para a população, o País”, afirmou. O ministro acrescentou que é a “instância política” da Presidência da República que define o ritmo e os rumos das decisões do governo.
Para convidados que participaram da cerimônia de posse, ouvidos pelo Estadão, ao se autodenominar de “patinho feio”, Haddad sinalizou que assumirá a tarefa que sempre coube ao ministro da Fazenda: de dizer “não” para medidas que possam prejudicar as contas do governo, mesmo que depois passe a percepção de que foi derrotado, como ocorreu agora com os combustíveis.
A fala do “patinho feio” foi introduzida de improviso no seu discurso de posse e caiu como uma luva para este momento do início do governo em que Lula optou, ouvindo a ala política, em prorrogar até o fim do ano a isenção dos impostos federais sobre combustíveis, exceto gasolina e álcool cuja desoneração foi estendida por dois meses.
Haddad e sua equipe econômica queriam fazer o desmonte dessa desoneração para aumentar a arrecadação do governo. Prevaleceu, no entanto, a posição dos ministros e parlamentares do partido que alertaram para o risco de manifestações no governo e paralisações de caminhoneiros, capitaneadas pela oposição bolsonarista.
Aguenta o tranco, Guilherme
Pressionado na largada da sua gestão, Haddad também, num momento de improviso, defendeu a sua equipe das críticas. “Não tenho nenhuma dúvida que estou ladeado das melhores cabeças para ajudar nessa tarefa para apresentar o presidente um plano de sustentabilidade social, ambiental e econômica de longo prazo para a nossa nação”.
Atenção especial foi dada a Guilherme Mello, economista do PT que assumiu a Secretaria de Política Econômica (SPE), responsável por formulação de políticas economistas, recebido com desconfiança por preocupação por economistas do mercado financeiro que veem nele risco de o governo seguir politicas heterodoxas, mais desenvolvimentistas.
“Aguenta o tranco, Guilherme! A turma está batendo duro”, disse Haddad, que fez questão de lembrar a atuação de Mello na campanha presidencial de 2018, quando o economista o defendeu nos debates econômicos.
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