NIIGATA (JAPÃO) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pediu ajuda à secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, no socorro à Argentina. Em reunião bilateral em Niigata, no Japão, na véspera da reunião do G7 Financeiro, Haddad disse à americana que se trata de uma questão humanitária. Ele ainda destacou que uma união entre Brasil e Estados Unidos nesse tema seria um facilitador para as negociações.
“Estamos muito preocupados com o que está acontecendo com a nossa vizinha Argentina. E uma das coisas que me traz ao G7, por recomendação do presidente Lula, é sensibilizar o G7 e o G20 para as condições específicas da Argentina nesse momento. Nós trazemos essa preocupação por uma questão humanitária bastante evidente”, declarou o ministro da Fazenda a Yellen, em parte da reunião que pôde ser acompanhada pela imprensa.
“Uma das razões pelas quais o presidente Lula está vindo ao G7 é para tratar desse assunto. Para nós, é uma questão fundamental que esse problema seja endereçado. E o presidente Lula virá na próxima semana com a mesma preocupação, estou antecipando o que ele próprio, de viva voz, vai trazer”, afirmou o ministro a jornalistas em Niigata, Japão, após se encontrar com Yellen. O Brasil tem mobilizado esforços no socorro à nação vizinha.
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Haddad está em Niigata para o G7 Financeiro, marcado para esta sexta, 12, e retorna ao Brasil no sábado. Lula, por sua vez, irá a Hiroshima na semana que vem para o G7 presidencial. O Grupo dos Sete é formado por Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Itália, Alemanha e Japão. O Brasil participa dos encontros na condição de convidado.
O ministro da Fazenda relatou à secretária do Tesouro americano a falta de divisas na Argentina “por razões históricas que vinham se acumulando” e as secas recentes, que afetaram as exportações. Também destacou que é ano eleitoral no país vizinho. “Estamos preocupados com o destino político na Argentina”, afirmou o ministro a Yellen, ao citar a postura violenta de grupos de extrema-direita na América do Sul.
Após o encontro, que durou das 15h47 às 16h23, pelo horário do Japão, Haddad afirmou a jornalistas que Yellen “se surpreendeu” com o tema abordado na bilateral, a Argentina, e se comprometeu a analisar as considerações.
A intercessão brasileira em nome da economia argentina acontece semanas após o presidente da Argentina, Alberto Fernández, visitar o presidente Lula no Palácio da Alvorada. Na ocasião, o petista se comprometeu a trabalhar para convencer o Fundo Monetário Internacional (FMI) a “tirar a faca do pescoço” da Argentina. “A solução para Argentina passa pelo FMI”, destacou Haddad.
Para além da identificação ideológica, o governo brasileiro quer ajudar a Argentina no campo da economia em ano eleitoral para evitar uma queda nas exportações ao país vizinho que leve ao enfraquecimento da atividade nacional. Os dois países estudam formas de financiar as exportações à Argentina, mas esbarram na garantia à política creditícia.
No encontro com Yellen, Haddad disse ter manifestado a ela o desejo do Brasil de se aproximar mais dos Estados Unidos.
Em conversa com jornalistas após o encontro, Haddad destacou que Yellen não faz “objeções” à aproximação do Brasil com a China, apesar das tensões sino-americanas.
“Uma das coisas que a secretária deixou claro é que ela não faz nenhuma objeção aos acordos comerciais que o Brasil faz, com a aproximação do Brasil com a China, em relação às parcerias estabelecidas. Mas eu manifestei nosso desejo de nos aproximarmos mais dos Estados Unidos”, disse o ministro. “Deveríamos estar preocupados com a integração das Américas”, acrescentou.
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Ao comentar a relação do Brasil com a China, Haddad voltou a defender a ideia do presidente Lula de se incrementar o uso de moedas locais em trocas comerciais, sem que seja preciso recorrer a uma terceira divisa - no caso, o dólar.
Questionado por jornalistas americanos se o Brasil tem alguma preocupação com a possibilidade de o governo americano dar um calote na dívida, Haddad negou. “Os Estados Unidos são a maior economia do mundo e a questão da dívida será devidamente endereçada”, destacou.
A tensão em torno da dívida americana se dá diante da dificuldade de Casa Branca e Congresso chegarem a um acordo sobre a elevação do teto da dívida.
Na véspera de sua participação no G7 financeiro, Haddad afirmou que a “sintonia” do G7 e do G20 é importante para “a continuidade dos trabalhos”. No ano que vem, o Brasil vai presidir o G20.
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