Haddad diz que melhora na perspectiva de rating é vitória dos Três Poderes e cobra harmonia do BC

‘Está faltando o BC se somar a esse esforço, mas quero crer que estamos prestes a ver isso acontecer’, afirmou o ministro; reunião do Copom ocorrerá na próxima semana

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Atualização:

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a mudança na perspectiva de estável para positiva no rating BB- da S&P Global para o Brasil é um “passo importante” e uma “vitória a ser compartilhada” com Congresso e Judiciário. Ele voltou a cobrar do Banco Central a redução da Selic, atualmente em 13,75% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne na próxima semana.

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“Gostaria de compartilhar com o Congresso e o Judiciário as iniciativas que estão sendo tomadas na direção correta de arrumar as contas do Brasil e permitir que a gente possa avançar para uma geração de emprego e desenvolvimento. Isso não é possível apenas a partir do Executivo”, afirmou.

Segundo o ministro, a equipe econômica tem a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas sem a compreensão do presidente da Câmara, Arthur Lira, do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e do STJ e STF, em se sensibilizar com agenda da Fazenda, “não teríamos essa sinalização”, disse.

Haddad destacou que o comunicado da S&P mencionava medidas tomadas pelo País, como o novo arcabouço fiscal, a reforma tributária e medidas de reoneração.

“É importante que uma agência externa consiga observar os avanços do Brasil. Temos muito trabalho pela frente, esse é só o começo. Se mantivermos o ritmo de trabalho das duas Casas, vamos atingir nossos objetivos. O Brasil precisa voltar a crescer. Não há solução para esse País sem crescimento”, disse.

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Segundo Haddad, o Brasil vai retomar o grau de investimento. “Não tem cabimento esse País não ter grau de investimento pelas riquezas que tem, começando pelo seu povo, que tem mais de US$ 300 bilhões de reservas cambiais, não deve um dólar no exterior, é credor internacional, tem inflação menor que a da Europa e Estados Unidos. Como é que esse País não vai ter grau de investimento? É um processo”, disse.

Para ele, a mudança na perspectiva de rating é o início desse processo, que tende a se consolidar com a reforma tributária. “Com a aprovação da reforma tributária vai vir uma mudança de degrau, vamos subir um degrau. O absurdo é nós não termos. Um País como o Brasil tem de ter. Compare a economia brasileira com a de qualquer país da América Latina. Tem três ou quatro países latino-americanos com grau de investimento em uma situação que eu não desejaria estar. E o Brasil, com tudo que tem, vai deixar de ter?”, ponderou.

O ministro disse que o processo de degradação política do País nos últimos dez anos influenciou a avaliação de risco do Brasil. “A crise econômica é consequência dessa deterioração política. Nossa última crise econômica foi nos anos 1980. De lá para cá, é de outra natureza. Não é uma crise econômica. Vivemos por dez anos uma desarmonia entre os Poderes, que resultou nesse embaraço do qual nós estamos saindo”, disse.

Harmonia entro os Poderes

Ele reiterou que a harmonia entre os Poderes é fundamental para esse resultado e cobrou o Banco Central. “Penso que a harmonia entre os Poderes tem contribuído para os resultados. Está faltando o BC se somar a esse esforço, mas quero crer que estamos prestes a ver isso acontecer”, afirmou, na portaria da sede do ministério.

Haddad disse que países da Europa e Estados Unidos estão muito mais longe da meta de inflação que o Brasil, mas as taxas de juros são muito mais modesta Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

Haddad se pronunciou ao lado de seus principais secretários, incluindo o secretário-executivo da Pasta, Gabriel Galípolo, indicado para a diretoria de Política Monetária do BC.

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“Acredito na harmonia entre as políticas fiscal e monetária. Tudo concorre agora para que essa harmonização ocorra mais rapidamente do que previsto. Há seis meses ninguém diria que estaríamos nessa situação. Temos uma oportunidade de ouro”, disse o ministro.

Mais uma vez, Haddad comparou o alto nível dos juros brasileiros com os juros dos Estados Unidos e da Europa.

“Eles estão muito mais longe da meta de inflação que nós, muito mais. No entanto, as taxas de juros são muito mais modestas”, enfatizou. “Todos nós somos contra a inflação. Temos um sistema de metas que foi criado há mais de 20 anos. Ninguém pensa em mudar o regime de metas, podemos aperfeiçoá-lo, mas o seu arcabouço está consolidado”, completou.

O ministro foi perguntado ainda sobre a entrevista do diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC, Renato Dias Gomes, ao Estadão/Broadcast nesta semana, na qual considerou que o Copom não deve ter pressa na redução dos juros.

“Não cabe a mim comentar a declaração do diretor do BC, respeito a institucionalidade. Pode haver divergência de opinião. As autoridades podem se manifestar, não pode haver mordaça sobre esse assunto. No mundo inteiro é assim”, avaliou. “Divergir faz parte da democracia, o debate é saudável”, disse.

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Ele relatou ainda que 70% da reunião desta quarta-feira entre o presidente Lula e empresários do Instituto para Desenvolvimento do Varejo foi sobre crédito e juros. Os executivos estiveram nesta semana com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e também o pressionaram pela redução da Selic.

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