BRASÍLIA - A proposta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para o Perse, o programa que concede benefícios tributários ao setor de eventos, prevê limitar em R$ 8 bilhões a perda de arrecadação do governo neste ano com a medida.
O valor é praticamente a metade do que o governo deixou de arrecadar no ano passado com o programa (R$ 13,18 bilhões) e também menos do que em 2022 (R$ 10,83 bilhões), segundo documento elaborado pelo Ministério da Fazenda para fundamentar o debate com os deputados, ao qual o Estadão teve acesso. Nos últimos dois anos, segundo a pasta, o Perse consumiu R$ 24,01 bilhões em renúncias tributárias.
O programa se transformou no mais novo cabo de guerra entre Haddad e a Câmara dos Deputados, em razão da iniciativa da Fazenda de extingui-lo sem negociar previamente com o Parlamento.
Por meio de uma medida provisória editada na véspera do Ano-Novo, o governo anunciou o encerramento da iniciativa, alegando que a renúncia tributária superou, e muito, o previsto. Na ocasião, Haddad afirmou que a previsão era que a renúncia girasse em torno de R$ 4 bilhões por ano durante os cinco anos de vigência do Perse (até 2027); mas que, em apenas dois anos, já tinha chegado ao montante total de abatimento de impostos.
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Pequenas empresas que fazem parte do Simples não puderam usufruir do benefício. Dessa forma, segundo a Fazenda, a redução no pagamento de impostos acabou beneficiando as grandes empresas.
Haddad também chegou a afirmar que a Receita Federal suspeitava que o programa estava abrindo a porta para a possibilidade de desvios, como lavagem de dinheiro.
Com a extinção, a Fazenda estimava arrecadar R$ 8 bilhões neste ano, valor que seria usado para compensar parte da renúncia com a desoneração da folha de pagamentos. As falas, no entanto, não ajudaram na negociação política e, na terça-feira, 5, Haddad foi levado a recuar após reunião com líderes da Câmara na residência oficial de Arthur Lira (PP-AL).
O ministro afirmou que deverá redesenhar a proposta e enviar um projeto de lei para o Congresso. Segundo ele, o PL irá propor uma versão “mais focada nos setores que mais precisam”.
Assim, a Fazenda estuda limitar o custo do Perse aos R$ 8 bilhões que estavam previstos de renúncia com a MP, mas o valor ainda está sendo negociado, segundo apurou o Estadão. Em última instância, será decidido pelo Congresso.
O Perse foi criado em 2021 com o propósito de compensar empresas de eventos que ficaram fechadas ou foram afetadas pela pandemia da covid.
O entendimento da Fazenda é que as atividades já recuperaram o faturamento pré-pandemia em 2022. Em relação a 2019, ano anterior ao fechamento de atividades, o setor de hotéis registrou um aumento de 35% na receita bruta; bares e restaurantes, de 35%; e eventos, como feiras e musicais, de 47%.
No ano passado, foram 11.258 as empresas beneficiadas pelo Perse. Elas deixaram de recolher R$ 6,071 bilhões em Imposto de Renda e R$ 7,112 bilhões em PIS e Cofins.
Apesar do impasse, a MP continua valendo; mas, efetivamente, a cobrança só começará em abril, uma vez que há noventena para as contribuições e anterioridade anual para o Imposto de Renda — as empresas só poderiam começar a ser taxadas no próximo ano. Deputados esperam até lá fechar um acordo ou fixando uma carência de dois anos para a manutenção do Perse ou um desmame gradual do benefício.
No documento em que detalha os números que levaram a extinguir o programa, a Fazenda afirma que as empresas poderão deduzir o prejuízo apurado durante a pandemia pelos próximos anos, ao limite de 30% por ano. Além disso, as multinacionais que atuam no setor serão tributadas, senão no Brasil, nos seus países de origem, em razão da tributação em bases universais.
“Deixar de tributar o ganho de renda no Brasil, significa mais exportar tributo do que isentar propriamente de taxação”, afirma o documento.