Vencedor do Nobel demonstrou na prática que salvar um banco evita uma crise econômica maior

Ben Bernanke teve a ‘sorte’ de confirmar sua teoria ao lidar com a crise de 2008, quando era presidente do Fed; governo Bush gastou bilhões de dólares e isso salvou os EUA de uma depressão

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Foto do author Henrique  Meirelles
Atualização:

O Prêmio Nobel de Economia de 2022 foi concedido na semana passada aos economistas Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig. Em conjunto, seus trabalhos foram fundamentais para o entendimento de crises financeiras, conhecimento que foi essencial para enfrentar a crise de 2008 – e continua importante. Bernanke foi presidente do Federal Reserve entre 2006 e 2014. Teve a “sorte” de comprovar sua teoria ao lidar com aquela crise.

A causa da crise foi a elevação explosiva da inadimplência em financiamentos imobiliários concedidos sem análise de crédito adequada. Bancos que estavam muito alavancados por meio de títulos derivados desses financiamentos sofreram prejuízos enormes, o que deu início a uma reação em cadeia, gerou pânico e levou o sistema financeiro americano ao colapso.

Ben Bernanke, ex-presidente do Federal Reserve e um dos vencedores do Nobel de Economia de 2022 Foto: Ken Cedeno/Reuters

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Após a quebra do Lehman Brothers, a resposta de Bernanke no Fed, em conjunto com o Departamento do Tesouro, foi usar recursos públicos para salvar outros bancos. É justamente o que advertia seu trabalho de 1983, que rendeu o Nobel agora: a falência de um banco pode levar a uma crise em cadeia. Portanto, a única solução era evitar que outros bancos quebrassem. O governo Bush gastou centenas de bilhões de dólares sob críticas do Congresso em um ano eleitoral. Isso salvou os Estados Unidos e o mundo de uma depressão.

A crise de 2008 atingiu o Brasil na forma de um colapso das linhas de crédito externo, que levou a uma crise de crédito doméstico. Eu estava na presidência do Banco Central e já conhecia os riscos no mercado imobiliário americano, que levaram à crise. Superamos o problema porque havíamos acumulado reservas nos anos anteriores, e as usamos de forma eficaz e no momento certo. Já contei aqui que, durante uma corrida de investidores na compra de dólares para entrega futura, anunciei que o BC venderia quanto fosse necessário e poderia chegar a até US$ 50 bilhões. Além disso, usamos as reservas para conceder linhas de crédito aos bancos, substituindo as linhas externas. O dólar, que estava subindo fortemente, caiu; o mercado se acalmou; e quem especulava contra o Brasil perdeu muito dinheiro.

O Brasil foi o país a sair mais rápido da crise de 2008, fez isso em três meses. Quando estive na reunião dos bancos centrais, na Basileia (Suíça), fui aplaudido de pé pelo trabalho que tínhamos feito para enfrentar a crise. Tínhamos reservas que usamos de forma eficaz para acalmar os investidores e recuperar a confiança do mercado. Como eu disse recentemente, confiança é um ativo essencial em tempos difíceis – como os que viveremos em 2023.

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