No dia 22, a Argentina terá uma das eleições presidenciais mais importantes da sua história recente. Terá de escolher entre o candidato populista, Javier Milei, o governista Sergio Massa e a direitista Patricia Bullrich em meio a uma monumental crise econômica e social, com hiperinflação e aumento da pobreza.
Até agora, nenhum dos três candidatos se mostrou em condições para lidar com o problema e apontar as soluções necessárias. Existe alguma similaridade, apesar das comparações não serem exatas, com a eleição de 2018 no Brasil, quando fui candidato a presidente.
Assim como fazia o candidato Jair Bolsonaro, Milei é o favorito ao se apresentar como o candidato antipolítica, que propõe uma série de rupturas radicais e, assim, capta o interesse de pessoas cansadas de quase 30 anos de retrocesso econômico e decepcionadas com a política.
Em um aspecto diferente do brasileiro, no entanto, o governista Sergio Massa tem dificuldades porque é ministro da Fazenda de um governo que enfrenta uma crise gravíssima: a hiperinflação está em mais de 130% ao ano e o país não tem reservas internacionais para pagar o que deve. Ao emitir dinheiro para se financiar, o Banco Central argentino retroalimenta a inflação. A pobreza nunca cresceu tanto no país como nos últimos anos.
A situação argentina lembra a do Brasil das décadas de 1970 e 1980. Na época, o Brasil também tinha inflação de mais e reservas em dólar de menos — estava quebrado, vivia de empréstimo em empréstimo. Entre 1985 e 1994, o Brasil teve seis planos econômicos baseados no fim da inflação por decreto, alguns com congelamento de preços — só que a inflação não concordava e sempre voltava, até o próximo plano que não atacava o cerne da questão. A Argentina também tentou diversos congelamentos de preços, sem resultados.
O quadro começou a mudar com o plano Real, que criou uma âncora para a inflação em 1994. Mais tarde, em 2003, quando assumi o Banco Central, iniciamos um programa de acúmulo de reservas, que já contei aqui como foi — e é — fundamental para o Brasil resistir às mais graves crises.
Uma diferença entre os dois países é que a Argentina ainda não teve força política para atacar os gastos públicos, romper a inércia da inflação e criar condições para reduzir a pobreza.
A Argentina precisa abandonar os planos mágicos, atacar o problema da inflação alimentada pelo gasto público e ter um Banco Central realmente independente. A saída não me parece estar no que o Brasil fez em 2018, mas no que fez nos anos 1990 e 2000. Espero que os eleitores argentinos façam uma boa escolha para o seu futuro.
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