O mercado precifica uma elevação de 0,75 ponto porcentual da Selic na reunião desta semana do Copom. Houve uma piora nas expectativas, que tornará o início do mandato de Gabriel Galípolo mais difícil do que parecia de início. Como todo novo presidente do Banco Central, ele terá de demonstrar independência em relação ao governo que o indicou, sob risco de não exercer autoridade sobre o mercado.
Comentando a gestão do Paul Volker, presidente do Fed na década de 1980, que controlou uma inflação muito alta para o histórico dos EUA, um importante analista disse que a maior qualidade de um presidente de banco central é a coragem.
Quando assumi o BC, em 2003, enfrentei os que pensavam que uma diretoria nomeada por um governo do PT não seria firme no controle da inflação. Por outro lado, integrantes do governo queriam um BC cordato. Fiz o que era necessário para trazer a inflação para a meta, que é o melhor para o Brasil. Galípolo assumirá num momento em que o governo critica a ação do BC e terá de fazer o melhor para o País, que é o controle da inflação.
O País colheu bons números na semana passada. O PIB do terceiro trimestre avançou 0,9% em relação ao período anterior e 4% em relação ao mesmo período de 2023. O IBGE mostrou que houve queda no índice de pobreza. O desemprego está em 6,2%, um excelente resultado, compatível com uma economia aquecida. Uma das principais razões para este alto índice de emprego está na reforma trabalhista de 2017, que flexibilizou o mercado de trabalho.
Políticos acusam o mercado de jogar contra, pois o dólar ficou perto dos R$ 6 e os juros futuros subiram. Mas o olhar do mercado está na dívida pública, que está em 78% do PIB e em trajetória de crescimento devido ao ritmo das despesas. A reação dos agentes econômicos foi de que o pacote de cortes de gastos apresentado pelo governo ficou aquém do necessário e incluiu uma medida que reduz a arrecadação – a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais.
A redução da pobreza tem de ser comemorada. O crescimento da economia é positivo. O problema está no aumento do gasto público, que leva ao aumento da dívida pública.
O mercado enxerga que o pacote do governo é insuficiente para conter o crescimento da dívida. Isso tem consequências negativas, pois a subida do dólar impulsiona a inflação e o aumento dos juros impacta o custo da dívida. Cabe ao Banco Central controlar a inflação baseado em dados técnicos. Uma inflação controlada leva a uma melhora nos juros de mercado e ajuda a estabilizar a cotação do dólar.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.