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Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central

Opinião|Situação da inflação no Brasil requer mais cautela do que acontece em outros países

Quanto menos a política fiscal for expansionista, mais ajudará a política monetária na definição dos juros; expectativas no País ainda não estão devidamente ancoradas

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Foto do author Henrique  Meirelles

A ata da última reunião do Copom, que será divulgada nesta terça-feira, 6, nos dará mais detalhes sobre a decisão de manter a Selic em 10,5% ao ano, mas o cenário está claro. A situação da inflação no Brasil requer mais cautela do que acontece em outros países — o Fed indica que pode começar a reduzir os juros nos Estados Unidos em setembro e o Banco da Inglaterra já o fez, depois de um ano.

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Com uma taxa de câmbio em torno de R$ 5,70, resultado tanto de uma depreciação das moedas de países emergentes quanto de preocupações internas devido à política fiscal expansionista, o risco para a inflação aumenta. As expectativas ainda não estão devidamente ancoradas.

Nos próximos meses, a cautela será fundamental não só do Copom, mas também na condução da política fiscal. O bloqueio de R$ 11,5 bilhões e o contingenciamento de R$ 3,5 bilhões nos gastos deste ano ajudam, mas ainda há preocupação do mercado em relação à política fiscal.

Nos próximos meses, governo terá de lidar pela primeira vez com a sucessão em um Banco Central independente por lei Foto: André Dusek/Estadão

Quanto menos expansionista ela for, mais ajudará a política monetária na definição dos juros, evitando não só a necessidade de um aumento — o cenário mais provável no momento —, mas mesmo uma redução no futuro.

Para isso, o governo pode fazer mais do que bloqueios de despesas. Pode promover revisões em programas sociais, como o Benefício de Prestação Continuada, que têm crescido acima do esperado e merecem atenção. No ano passado, economizou quase R$ 11 bilhões com uma revisão no cadastro do Bolsa Família.

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É necessária também a redução do ruído que aumenta a incerteza. Críticas ao Banco Central e às decisões do Copom rendem apoio político, pois condenar os juros é um discurso que tem apoio público, mas geram ruídos no mercado, com altos custos. Convivi durante oito anos com críticas de todos os tipos à política monetária, portanto sei dos benefícios delas para os políticos e dos problemas para o país.

Nos próximos meses, o governo terá de lidar pela primeira vez com a sucessão em um Banco Central independente por lei. Durante minha gestão, o BC foi independente por um acordo meu com o presidente Lula. As críticas eram pesadas, mas apesar do presidente ter a prerrogativa de demitir o presidente do BC, fiquei oito anos. Controlamos a inflação, que foi consistente com a meta, e o País cresceu, em média, 4% ao ano.

Hoje, devido à blindagem amparada em lei, o presidente do BC só pode ser removido em casos gravíssimos, mas as críticas geram tanto nervosismo quanto antes, pois o mercado teme um futuro presidente do BC mais leniente com a inflação e menos comprometido com a estabilidade econômica.

Opinião por Henrique Meirelles

Ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda

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