A executiva Sandra Chayo, sócia-diretora e herdeira do Grupo Hope, saiu em defesa, em suas redes sociais, do presidente do G4 Educação, Tallis Gomes. Segundo ela, a declaração do empresário não reflete a conduta dele. Na quinta-feira, 19, executivas e empresárias reagiram criticamente à fala de Gomes sobre mulheres usarem melhor a “energia feminina” ao destiná-la para o lar e para a família, e não para liderar uma empresa.
Em publicação no Instagram, Chayo disse: “Realmente, o Tallis foi infeliz com as palavras, já reconheceu e pediu desculpas”, escreveu a executiva. Ela continua: “Trabalho com ele há muitos anos e sei que o story que ele postou não representa a pessoa que ele é. Além disso, ele sempre busca aprender e evoluir. E tenho certeza de que vai crescer com essa história”, disse Sandra Chayo, uma das herdeiras do grupo Hope.
Em nota encaminhada por meio de sua assessoria de imprensa, Chayo afirma que a fala de Gomes “não representa os princípios da companhia” e que “não reflete a conduta dele no conselho”. “Tallis é um membro externo do conselho consultivo, a declaração dele não representa os princípios da companhia. Me surpreendi ao ler o post, pois não reflete a conduta dele no conselho, sempre respeitou e valorizou a liderança feminina em nossa marca. Nós, como empresárias, sempre acreditamos no nosso papel de protagonistas e na liberdade em escolher nossos caminhos pessoais e profissionais”, afirmou Chayo na nota oficial, um dia depois da publicação em sua rede social.
Em seu perfil no LinkedIn, Gomes diz ser integrante do conselho de administração do Grupo Hope, que tem marcas voltadas para o público feminino. A Hope, no entanto, informa que ele é membro externo de um conselho consultivo, e não do conselho de administração. “Para manter e preservar a cultura da sustentabilidade e, ao mesmo tempo, se reinventar, o Grupo Hope implantou no ano de 2018 seu primeiro conselho consultivo, que tem, entre os conselheiros externos, Tallis Gomes”, disse a marca, em publicação no seu site.
O comentário publicado no Instagram pelo presidente do G4 Educação, Tallis Gomes, no qual ele diz “Deus me livre de mulher CEO”, desencadeou uma série de publicações na rede social LinkedIn feitas por executivas que criticaram a fala e reforçavam o orgulho de serem mulheres executivas.
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Entenda o caso
Em publicação no Instagram na quarta-feira, 18, Tallis Gomes havia escrito que “salvo raras exceções, essa mulher (CEO) vai passar por um processo de masculinização que vai colocar meu lar em quarto plano, eu em terceiro plano e os meus filhos em segundo plano”. Ele também diz que posições como a dele exigem que o CEO seja “muito cascudo para suportar” e que “o mundo começou a desabar exatamente quando o movimento feminista começou a obrigar a mulher a fazer papel de homem” e que a mulher deve usar “a energia feminina nos lugares certos, lar e família”.
Depois da primeira postagem, quando o tema havia repercutido em grupos de WhatsApp que incluem advogadas e mulheres do setor empresarial, Gomes fez nova publicação, na qual pediu desculpas pelo “erro” e disse ter sido “infeliz ao dizer qual tipo de mulher eu gostaria para a minha vida”. Antes da retratação, ele também recebeu comentários, nas redes sociais, de mulheres ex-alunas do G4 que diziam ter se arrependido de ter pago pelos cursos da empresa.
Por meio de nota, o G4 Educação afirmou que Gomes errou e que o posicionamento do presidente “não representa a empresa nem sua trajetória” (veja abaixo a íntegra da manifestação).
“Em momento algum no meu texto eu quis questionar a capacidade de uma mulher ser CEO, disse única e exclusivamente, com as palavras erradas e com o tom errado, quem eu gostaria do meu lado como minha mulher”, disse Gomes, na retratação.
Não é a primeira vez que suas falas ganham repercussão. Neste ano, em um podcast, ele já afirmou que não contrata “esquerdista” e que seus funcionários trabalham “80 horas por semana”.
Por meio de nota, o G4 Educação afirmou:
“O Tallis Gomes, nosso CEO, errou num texto ontem no Instagram sobre as mulheres executivas. Ele entendeu o erro e pediu desculpas hoje. O G4 Educação não concorda com aquela primeira fala. Ela não representa a empresa nem sua trajetória. O G4 conta com a força e a competência de 135 mulheres, em todos os níveis da empresa. Nos nossos cursos, apoiamos a formação de centenas de mulheres de sucesso. Testemunhamos de perto a força e o talento de cada uma. Entendemos que o Tallis errou e estamos aqui para reforçar que tanto ele quanto o G4 não tem compromisso com o erro. Queremos nos desculpar pela fala do Tallis, ainda que tenha sido algo pessoal e não representar o G4. Mas entendemos que é nosso papel como empresa apontar que discordamos. E nossa prática é de respeito.”
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