O Brasil das desigualdades é ainda mais desigual para pretos e pardos do que para pessoas brancas. É o que comprova um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta sexta-feira, 11. Ainda que mais da metade da força de trabalho no País seja formada por pretos e pardos, o vencimento médio dos brancos foi quase 70% maior em 2021. E, quando se consideram os índices de pobreza, a proporção praticamente dobra.
Os números fazem parte da segunda edição do estudo “Desigualdades por Cor ou Raça”, que dá continuidade à primeira análise, feita em 2019. Os resultados se baseiam em diferentes pesquisas feitas pelo IBGE nos últimos cinco anos, como o Censo Agropecuário (2017), a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2021 e a Pnad Covid-19 do ano anterior, entre outras.
De acordo com o IBGE, no ano passado a proporção de pobres no Brasil era de 18,6% entre os brancos, de 34,5% entre os pretos e de 38,4% entre os pardos – os dados consideraram a linha de pobreza estabelecida pelo Banco Mundial, de US$ 5,50 dólares por dia (cerca de R$ 29,30 na cotação atual).
Além disso, em 2021 o rendimento médio dos trabalhadores brancos foi de R$ 3.099, valor superior à média recebida por pretos (R$ 1.764) e pardos (R$ 1.814). E, ainda que a maior parte da força de trabalho brasileira seja formada por esses dois últimos grupos, a participação deles em posições de chefia é muito menor. No ano passado, 69% dos cargos gerenciais foram ocupados por brancos.
Ao mesmo tempo, os brancos têm taxa de informalidade menor quando se considera o universo da população ocupada. Entre eles, 32,7% eram informais, número que chegava a 43,4% no caso dos pretos e a 47% entre os pardos.
Moradia e ensino superior
O estudo mostrou ainda que cerca de um quinto da população de pretos e pardos com residência própria não têm documentos que atestem a propriedade. Entre os brancos, a proporção é de um a cada dez.
O levantamento mostrou que oito em cada dez (79,1%) dos grandes estabelecimentos agropecuários – grupo que considera áreas com mais de 10 mil hectares – estavam sob controle de brancos, com base no Censo Agro de 2017. Entre os demais, 17,4% eram de pardos, enquanto apenas 1,6%, de pretos.
No ensino superior, as matrículas nos cursos mais concorridos em instituições de ensino com graduação presencial eram majoritariamente feitas por brancos. Enquanto apenas 3,2% dos estudantes pretos e 21,8% dos pardos estavam matriculados nos cursos de medicina, 11,6% de pretos e 36,2% de pardos faziam pedagogia.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.