Expansão do Bolsa Família ajudou a segurar desigualdade no Brasil, aponta IBGE

Segundo os dados do instituto, em 2023, Índice de Gini, que mede a desigualdade de renda, ficou igual à do ano anterior; proporção de domicílios com algum beneficiário do programa bateu recorde

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Atualização:

RIO - A ampliação de programas sociais, como o Bolsa Família, ajudou a segurar a desigualdade no Brasil, segundo dados divulgados nesta sexta-feira, 19, pelo IBGE, que em 2023 mostrou estabilidade - mas no nível mais alto da série histórica. Os dados constam da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) 2023: Rendimento de todas as fontes.

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O índice de Gini - indicador que mede a desigualdade de renda, numa escala de 0 a 1, em que, quanto mais perto de 1 o resultado, maior é a concentração de riqueza -, ficou em 0,518 em 2023, o mesmo valor registrado no ano anterior. Isso foi conseguido principalmente por conta do Bolsa Família. O levantamento mostra que a proporção de domicílios do País com algum beneficiário do programa saltou de 16,9% em 2022 para 19% em 2023, um novo recorde.

Porém, considerando apenas a renda de todos os trabalhos, sem outros rendimentos – rubrica onde entram os benefícios sociais -, o índice de Gini aponta um crescimento da desigualdade: subiu 0,486 para 0,494.

“O Gini subiu na questão do trabalho, mas se levar em conta todos os rendimentos, ficou igual, porque o Bolsa Família compensou esse aumento”, explicou o analista do IBGE, Gustavo Fontes.

Bolsa Família ajudou a segurar o aumento da desigualdade Foto: Rafael Zart/ASCOM/MDSA

A pesquisa mostra também que houve um aumento da renda de trabalhadores com nível superior. O rendimento dos 10% mais ricos saltou 10,4%, enquanto a fatia dos 10% com menor rendimento na população teve avanço de 1,8% frente ao ano anterior.

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“Principalmente na comparação com 2022, houve uma recuperação do rendimento da população com nível superior completo e dos empregadores. Observamos que o mercado de trabalho, nesse último ano, de certa forma, favoreceu a população com nível superior completo”, explicou Fontes.

Segundo o pesquisador, a camada da população de nível superior teve queda de rendimento no período da pandemia, mas no ano passado se beneficiou com a recuperação geral do mercado de trabalho, sendo que o setor que mais cresceu foi o de serviços mais sofisticados, como financeiro, comunicação, informação e administrativo, cujo rendimento médio do trabalho é maior.

Índice de Gini por Estados

Segundo os dados do IBGE, as regiões Norte e Nordeste foram as que tiveram redução mais expressiva na concentração de renda na comparação com os últimos dois anos. A região Norte teve queda de 1,7% em relação ao ano passado, enquanto o Nordeste apresentou um recuo foi de 1,5% na comparação com 2022. Mesmo assim, o Nordeste segue liderando o ranking, com a Paraíba no topo da escala de desigualdade. .

“Essa melhora importante que a gente vê no Norte e Nordeste nesse período são os que recebem os programas sociais. Contribuíram o aumento do valor dos benefícios e também a expansão do mercado de trabalho”

A região Sul voltou a registrar na pesquisa a menor a taxa de concentração de renda. A região também apurou uma melhor, porém mais tímida, de 0,8% entre 2022 e 2023, puxada por Santa Catarina. O estado é o menor em desigualdade de renda no País. Já a região Sudeste subiu 0,5% de um ano para outro, enquanto o Centro-Oeste permaneceu estável.

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Patamar recorde de renda

A pesquisa do IBGE mostra também que as famílias brasileiras conseguiram em 2023 ultrapassar o patamar de renda perdido durante o período de covid-19 e registrar um novo recorde. Com a retomada da economia e os programas de transferência de renda, a massa de renda domiciliar per capita do brasileiro foi a maior da série histórica e ultrapassou em R$ 49 bilhões o nível registrado em 2019, antes da pandemia.

A massa de rendimento mensal real domiciliar per capita - soma de toda a remuneração das famílias, do trabalho, de fontes formais e informais, incluindo apoios pagos pelo governo, como bolsas e aposentadoria - totalizou R$ 398,3 bilhões, o que corresponde a um aumento de 12,2% frente ao ano anterior e de 9,1% na comparação com 2019.

“Em todas as grandes regiões, observamos a expansão do porcentual da população com alguma fonte de rendimento, sendo que a região Sul apresentou a melhor estimativa de todos os anos da série (68,8%), e as regiões Norte e Nordeste, os menores (57,8%)”, informou Gustavo Fontes.

A pesquisa mostra que, tanto pelo trabalho como por outras fontes de renda, 64,9% da população - ou cerca de 140 milhões de pessoas - tinha algum rendimento no ano passado, ante 62,6% em 2022, de uma população total de 215,6 milhões.

A ocupação por trabalho subiu para 46% em 2023, ante 44,5% em 2022 e 44,3% em 2019. Também o rendimento por outras fontes avançou no ano passado, para 26%, depois de registrar 24,4% no ano anterior e 23,6% em 2019. Nos dois casos, o rendimento superou o patamar anterior à pandemia. São consideradas outras fontes, segundo o IBGE, como aposentadoria, pensões, aluguel, arrendamento, programas sociais, aplicações financeiras, entre outras.

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“Houve crescimento tanto no trabalho como em outras fontes. Já se observa um porcentual acima do que ocorreu em 2019, ano que antecedeu a pandemia”, disse Fontes.

Segundo o estudo, o destaque de rendimento por outras fontes são as aposentadorias e pensões, somando 13,4% do total, seguidas por “outros rendimentos”, onde se incluem os programas sociais, com 10,1% em 2023, ante 8,9% em 2022 e 7,8% em 2019.

Efeito dos programas sociais

Os programas sociais do governo fizeram a diferença em 2023 para a camada mais pobre da população, de acordo com a pesquisa do IBGE. O rendimento médio mensal real per capita dos 40% da população com menores rendimentos cresceu 12,6% de um ano para outro, atingindo o maior valor da série histórica.

Mesmo assim, o rendimento dessa camada de brasileiros ainda é baixo. Por dia, em média, o rendimento ficou em R$ 17,50 no ano passado, ante R$ 15,60 em 2022. A maior cifra foi registrada no Sul, de R$ 26 por dia, enquanto a menor foi no Nordeste, de R$ 11,4 por dia. Segundo o IBGE, contribuíram para o aumento de renda o valor maior do programa Bolsa Família ao longo do ano, a melhora no mercado de trabalho e o aumento real do salário mínimo.

“Além do reajuste do Bolsa Família, houve maior expansão do número de domicílios que receberam o benefício, e também uma melhoria no mercado de trabalho, com 4 milhões de pessoas a mais. Por fim, o aumento real do salário mínimo, que tem um efeito menor, mas impacta também”, explicou Gustavo Fontes.

Levando em conta os valores pagos aos trabalhadores por todas as fontes - trabalho e outros rendimentos -, a renda média mensal no Brasil ficou em R$ 2.846, crescimento de 7,5% em relação a 2022, e de 0,4% contra 2019, se aproximando do valor máximo da série histórica, em 2014, de R$ 2.850,00.