RIO - A indústria brasileira iniciou o segundo trimestre do ano no vermelho. A produção encolheu 0,6% em abril ante março, eliminando parte do avanço de 1,0% registrado no mês anterior, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física divulgados nesta sexta-feira, 2, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A perda de abril foi duas vezes maior do que o previsto por analistas consultados pelo Estadão/Broadcast, que estimavam uma redução mediana de 0,3%.
“A queda da indústria já era esperada, mas ela veio maior que a projetada, reforçando a visão de que a indústria segue como o elo fraco da atividade econômica e que terá um desempenho fraco no ano”, opinou João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da gestora de recursos Kínitro Capital, em comentário.
O ano não tem sido favorável ao setor industrial até aqui: a produção registrou retração em três dos quatro primeiros meses de 2023.
“É o setor mais impactado pelo aperto monetário. No início do ano até vimos a indústria extrativa, que é menos suscetível ao ciclo monetário (aumento da taxa básica de juros), performando melhor, principalmente impulsionada pela China, mas que agora começou a patinar”, avaliou Rafael Rondinelli, economista-chefe do Banco Modal.
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Rondinelli prevê que a indústria possa responder positivamente aos estímulos fiscais do governo federal para a produção de automóveis populares. “Mas deve ser algo bem limitado, transitório. Deve trazer algum fôlego à produção, mas a demanda segue muito ligada ao crédito, que responde pelos juros altos”, ponderou.
Na passagem de março para abril, houve redução em 16 dos 25 ramos industriais pesquisados. O resultado difere do perfil negativo exibido pelo setor industrial nas perdas registradas em janeiro (-0,3%) e fevereiro (-0,2%), quando a queda na produção ficou mais concentrada, havia predomínio de atividades em campo positivo.
“Desde outubro de 2022 não se observava um espalhamento tão grande de atividades em queda”, observou André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE. “Temos abril bem marcado pelo menor dinamismo.”
A taxa de juros mais elevada encarece o crédito e dificulta novas concessões, ao mesmo tempo em que o endividamento das famílias se mantém alto, o que também atrapalha a demanda, corroborou Macedo. Segundo o pesquisador, a inflação permanece presente como um entrave à melhora no orçamento das famílias, mas já não influencia como no ano passado. “O mercado de trabalho tem melhora, mas ainda tem um contingente importante (de pessoas) fora dele”, acrescentou.
Pelo lado da oferta, alguns setores enfrentam dificuldade de acesso a matérias-primas e componentes, como a atividade de veículos automotores. O desempenho da indústria automobilística ainda é afetado por reduções de jornada de trabalho e paralisações. Automóveis e caminhões tiveram queda na produção em abril ante março, ajudando também no mau desempenho das categorias de bens de capital (onde entram os caminhões) e bens duráveis (onde são contabilizados os automóveis).
A fabricação de bens de consumo duráveis encolheu 6,9% em abril ante março, queda mais acentuada desde julho de 2022, quando tinha recuado 7,9%. Já a produção de bens de capital, que indica investimentos, despencou 11,5%, maior tombo desde abril de 2020, quando diminuiu 34,5% devido ao choque provocado pela pandemia de covid-19.
“Esses dois grupamentos, que têm relação importante com crédito e taxa de juros, são duas categorias econômicas com perdas intensas não só nesse mês, mas também nos meses recentes”, apontou Macedo. “Claro que a política monetária mais restritiva tem um papel importante para entender o motivo pelo qual segmentos industriais têm perda importante nos últimos meses”, completou.
A indústria brasileira chegou a abril operando 2,0% aquém do patamar de fevereiro de 2020: apenas oito das 25 atividades investigadas estão operando em nível superior ao pré-crise sanitária. Os níveis mais elevados em relação ao patamar de fevereiro de 2020 foram os registrados pelas atividades de outros equipamentos de transporte (15,2%), impressão e reprodução de gravações (7,5%) e produtos farmacêuticos (6,8%). No extremo oposto, os segmentos mais distantes do pré-pandemia são móveis (-27,0%), artigos de vestuário e acessórios (-23,6%) e máquinas e materiais elétricos (-21,0%).
Em abril, a indústria operava 18,5% aquém do pico alcançado em maio de 2011. Na categoria de bens de capital, a produção estava 34,5% abaixo do pico registrado em abril de 2013, enquanto os bens de consumo duráveis operavam 42,7% aquém do ápice de março de 2011. Os bens intermediários estavam 15,3% abaixo do auge de maio de 2011, e os bens semiduráveis e não duráveis operavam em nível 14,6% inferior ao pico de junho de 2013./Colaborou Daniel Tozzi Mendes
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