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Bolsa fecha em queda de 2,29%, abaixo de 98 mil pontos, em meio a críticas de Lula à taxa de juros

Ibovespa tem a pior marca desde julho do ano passado e dólar sobe a R$ 5,29, com risco fiscal e inflação no radar do mercado

Por Maria Regina Silva
Atualização:

O embate entre o governo e o Banco Central em torno da taxa de juros provocou incertezas no mercado. O resultado foi que o Ibovespa, principal índice da B3, perdeu o patamar dos 100 mil pontos. No fechamento do dia, o indicador recuou 2,29%, para 97.926, o menor nível desde 18 de julho. Já o dólar subiu para R$ 5,29, com alta de 1,01%.

No começo da tarde desta quinta-feira, 23, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a manutenção da taxa Selic a 13,75% ao ano, em decisão anunciada pelo órgão na quarta-feira. Segundo ele, a história julgará a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). O petista disse que a medida “não tem explicação nenhuma no mundo” e que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, “tem que cumprir a lei”.

Mesa da BM&F Bovespa Foto: Rafael Matsunaga/Estadão

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“Não tem explicação nenhuma no mundo a taxa de juros estar a 13,75% ao ano. Quem tem que cuidar do Campos Neto é o Senado que o indicou. Ele (Roberto Campos Neto) não foi eleito pelo povo. Não foi indicado pelo presidente. Foi indicado pelo Senado”, disse o presidente.

O recuo destoa da valorização superior a 1% na maioria dos índices de ações de Nova York. O embate entre o governo e o Banco Central segue no radar. Nesta quinta-feira, o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse que o Copom não pode ficar longe da meta de inflação. Segundo ele, o Copom não pode fazer análise com base em texto que nem foi apresentado, ao se referir ao arcabouço fiscal.

“Aqui, não tem entusiasmo, sem fato novo. Era importante que saísse o arcabouço fiscal, mas pelo jeito ainda não encontraram uma proposta. O governo quer produzir superávit primário de 1% do PIB, mas é difícil cortar [gastos]. Quer chegar a uma situação de crescimento. Tem uma agenda imediatista. Isso contamina. Não dá para cortar juros com essa inflação”, avalia Pedro Paulo Silveira, gestor da Nova Futura.

Após as falas de Lira, o índice piorou. “O mercado estressou com o risco de os Poderes estarem em conflito. Um sinal desse começa a levar à ideia de que não passa nada: MP, arcabouço fiscal, nem LDO. O presidente Lula vai ter de atacar de bombeiro”, avalia o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.

Dólar em alta

O economista-chefe da J.F. Trust, Eduardo Velho, atribui a valorização da moeda americana frente o real a um movimento de correção de prêmio de risco inflacionário no curto prazo no País, destacado pelo Banco Central em seu comunicado na quarta-feira, e pelo risco ainda de algum ajuste de alta da taxa Selic.

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“O risco de inflação interna é alto, o risco fiscal é elevado também, mesmo após a reoneração de combustíveis pelo governo, que não eliminou a desconfiança sobre a eficácia da nova regra fiscal ainda desconhecida pelo mercado”, afirma.

A entrada de fluxo estrangeiro está retraída porque, mesmo com o diferencial de juro interno atrativo ante as taxas externas negativas, o juro real não é suficiente para os investidores estrangeiros, que reagem também ao aumento do prêmio de risco do País em meio a perspectivas de ampliação de gastos, indefinição da nova regra fiscal, tentativa de revogar a lei das estatais e perspectivas de crescimento econômico interno baixo, aponta.

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