Qual o impacto da taxa de importação de veículos imposta por Trump para o Brasil?

Indústrias de autopeças serão o segmento mais prejudicado, enquanto montadoras locais não têm exportações de carros completos para os Estados Unidos

Foto do author Cleide Silva
Atualização:

Segmento mais prejudicado pela taxação extra de 25% nas importações dos Estados Unidos, anunciada pelo presidente Donald Trump, as fabricantes de autopeças instaladas no Brasil declararam nesta quinta-feira, 27, “preocupação” com a medida, mas aguardam mais detalhes para avaliar os efeitos. Hoje, as taxas de importação americanas variam de zero a 2,5%.

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A taxação inclui também os veículos, mas as montadoras locais não têm exportações de carros completos para os EUA. O setor, porém, prevê impactos nos negócios em razão de mudanças que devem ocorrer no mercado automotivo global.

O mercado americano é o segundo maior para as autopeças brasileiras, que enviam seus produtos para mais de 200 países. Fica atrás da Argentina e representa 17,5% das exportações do setor. Ainda assim, o Brasil é deficitário na balança comercial com os EUA há vários anos.

Em 2024, os EUA importaram US$ 1,37 bilhão em componentes do Brasil, e exportaram US$ 2,24 bilhões, uma diferença de US$ 870 milhões. Em janeiro deste ano, o déficit está em US$ 1,43 bilhão, com o envio de US$ 568,7 milhões em peças aos EUA.

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O mercado norte-americano é o segundo maior para as autopeças brasileiras; montadoras locais não têm exportações de carros completos para os EUA Foto: Werther Santana/Estadão

O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) aguarda a publicação do teor da legislação para analisar mais detalhadamente possíveis impactos, informou a entidade em nota.

Incertezas e equívoco

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) também avalia com suas associadas eventuais implicações da medida. Recentemente, o presidente da entidade, Márcio de Lima Leite, disse que o setor enfrenta desafios diários em relação às medidas que vêm sendo anunciadas por Trump, como a taxação para aço e alumínio em fevereiro e, agora, para carros e componentes.

“A pior palavra para o setor automotivo é incerteza, e é isso que estamos vivendo hoje”, disse. Segundo Leite, várias montadoras instaladas nos EUA estão revendo suas estratégias e podem surgir novas oportunidades para o Brasil, mas também ameaças. Uma delas é em relação ao desenvolvimento de tecnologias ou de veículos, hoje feitos em conjunto com outros mercados globais. “Isso pode se refletir no Brasil”.

Há temores também que as medidas restritivas anunciadas por Trump possam resultar em uma entrada maior de carros de outros países no mercado brasileiro, especialmente da China, comprometendo assim a competitividade do veículo nacional.

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A Anfavea ressalta que modelos a combustão importados pagam 35% de Imposto de Importação no País. Para elétricos, a taxa ficou zerada por alguns anos, mas, desde janeiro, começou a ser cobrada gradualmente e está prevista para chegar aos 35% em julho de 2026. Há meses a entidade vem pedindo ao governo a antecipação do retorno do imposto cheio.

O executivo lembrou que, ao ser questionado sobre suas expectativas com o governo americano, logo após a eleição de Trump, respondeu que, em razão do seu primeiro mandato, já conhecia e sabia mais ou menos a linha que ele iria seguir. “Mas eu estava completamente equivocado.”

Motor do Corolla feito no Brasil

Entre as montadoras, a Toyota do Brasil é uma exceção, pois desde setembro de 2022 exporta para a subsidiária dos Estados Unidos motores 2.0 Dynamic Force, usados no Corolla. É a única montadora nacional que fornece componentes para o mercado americano.

Na ocasião, para atender a demanda − inicialmente de 45,6 mil motores ao ano −, a fábrica de Porto Feliz (SP) ampliou a produção mensal de 13 mil para 17 mil unidades ao mês e contratou cerca de 150 funcionários. Hoje emprega mais de 600 pessoas. O grupo não informou se o número previsto de motores foi exportado e nem o volume atual.

Na decisão divulgada ontem, Trump assinala que a medida visa atrair mais fabricantes para os EUA, gerando renda e empregos locais. Estão envolvidos na sobretaxa sedãs, utilitários esportivos, SUVs, minivans e vans de carga). Entre as autopeças já estão relacionados motores, transmissões, peças de trem de força e componentes elétricos, mas a lista pode aumentar.