Os produtos importados estão se aproximando (alguns dados já mostram uma ultrapassagem) de um quarto do consumo nacional de produtos fabricados pela indústria. Mesmo com um câmbio não tão favorável para comprar do exterior, as importações responderam por 23,4% do consumo nos últimos dois anos, uma participação recorde numa série estatística da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) iniciada em 2004. Nove anos atrás, essa fatia estava em 15,4% (veja abaixo os porcentuais de cada ano).
O dado, que considera bens de consumo e intermediários, como peças e insumos industriais, corrobora uma tendência também apontada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que, na análise de números de 2022, já via a participação dos importados no maior patamar em duas décadas de estatísticas. Na conta da CNI, o coeficiente das importações, isto é, a parcela dos importados no consumo, chegou a 25,9%. Antes da pandemia - ou seja, em 2019 -, estava em 23,4%.
Individualmente, as associações setoriais também relatam avanço das importações em seus mercados. De acordo com a Abit, que representa a indústria têxtil, os importados, embalados pelas plataformas de e-commerce da China, já são 20% das compras de vestuário. No consumo de aço, as importações chegaram no ano passado a 18,6% do total, maior porcentual em 13 anos. Nos últimos dois anos, as importações de pneus deram um salto: aumento de 72% em quantidade.
A causa apontada por entidades industriais é a desindustrialização do País, com a substituição da produção nacional por importações em decorrência de distorções no sistema tributário, do custo de capital elevado e das deficiências em infraestrutura. Porém, a situação também se deve à adoção de tecnologias que a China vem tornando mais acessíveis, mas que ainda engatinham no Brasil, caso dos carros elétricos.
Conforme dados da CNI, o déficit comercial de produtos da indústria de transformação - ou seja, o quanto o Brasil importa mais do que exporta - oscilou entre US$ 32 bilhões e US$ 61 bilhões nos últimos cinco anos. No mesmo período, produtos da agropecuária e da indústria extrativa ampliaram os seus superávits nas trocas com o exterior.
Segundo o economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha, a indústria brasileira perdeu densidade em setores de média tecnologia, abrindo espaço para a entrada de concorrentes internacionais numa economia mais globalizada.
“Seja na questão tributária, seja no acesso a custo de capital, o Brasil avançou lentamente. Então, perdemos espaço. A indústria brasileira, devido a dificuldades, foi maltratada ao logo das últimas três décadas, carregando uma maior carga tributária entre todos os setores, o que teve impacto na competitividade”, frisa o economista da Fiesp.
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“As políticas industriais voltaram com muita força, mas só vão ser efetivas com os pilares de custo de capital e tributação ajustados”, acrescenta Rocha.
Segundo a Abal, que representa a indústria de alumínio, um produto no qual 12% do consumo vem do exterior, as diferenças tributárias entre produtos nacionais e importados alimentam preocupações sobre a exposição do Brasil tanto aos desvios de comércio quanto às práticas anticompetitivas.
Enquanto os produtos nacionais usados na metalurgia do alumínio suportam uma carga de 35,2%, o custo tributário dos mesmos produtos importados é de 22,4%, aponta a Abal. Para os produtos transformados de alumínio, a diferença é ainda maior: 34,3% contra 15,3% dos importados.
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