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Importações de diesel russo dispararam no Brasil após sanções da União Europeia; entenda

Mudança no destino do combustível fabricado na Rússia se intensificou em fevereiro, quando o embargo aos derivados de petróleo russos começou oficialmente

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Atualização:

RIO - As importações de diesel russo dispararam no Brasil em 2023. Levantamento da consultoria de preços Argus, obtido pelo Estadão/Broadcast, aponta que mais de um quarto, 25,6%, dos cerca de 1,5 bilhão de litros de diesel trazidos em março para o País tinham origem russa.

E a previsão de analistas e agentes de mercado ouvidos pela reportagem é que esse fluxo se intensifique nos próximos meses devido aos descontos praticados pelos fornecedores russos. Esses descontos têm chegado a US$ 0,20 por galão (cerca de 3,8 litros) em cima do diferencial praticado pelo mercado, que tem como base os preços dos contratos futuros negociados na Bolsa de Nova York (NYSE). Em média, o galão custa por volta de US$ 2,44. “Isso (a diferença) dá quase R$ 25,00 por metro cúbico ou R$ 0,25 por litro”, diz Sérgio Araújo, da Associação Brasileira de Importadores de Combustível (Abicom), que vê a diferença como “muito expressiva”.

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Os russos tentam ganhar novos mercados em função das sanções de seu cliente mais tradicional, a União Europeia, no contexto da guerra na Ucrânia.

O redirecionamento das cargas do combustível fabricadas na Rússia para outras partes do mundo já acontecia desde meados de 2022, explica o especialista de combustíveis da Argus, Amance Boutin. Mas se intensificou a partir de fevereiro, quando o embargo aos derivados de petróleo da Rússia teve início oficialmente. O diesel russo, que no passado servia quase totalmente à Europa, passou a atender à Turquia e países da Ásia, África e América Latina, entre os quais o Brasil.

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Dados oficiais subdimensionados

Mais conservadores, os dados oficiais do Ministério da Indústria e Comércio (MDIC) para março, compilados pelo Estadão/Broadcast, apontam 18,53% de diesel da Rússia no total das importações brasileiras do produto. Em fevereiro, essa parcela foi de 13,9%. Seja como for, tanto os porcentuais do governo quanto da Argus dão conta de uma explosão na importação do combustível russo para o Brasil. Isso porque, até pouco tempo atrás, esse fluxo era irrelevante ou mesmo inexistente.

A diferença entre os dados da consultoria e os do governo, explica Boutin, se deve aos transbordos de volumes durante o trajeto. Parte do combustível refinado na Rússia acaba internalizada por outros países que não têm parque de refino, o que muda sua origem oficial no caminho até a costa brasileira. Alguns desses países intermediários estão na costa atlântica da África, no Golfo da Guiné, como Togo e Benin. Para monitorar o mercado, a Argus usa a plataforma britânica Vortexa, que acompanha em tempo real os navios de carga de commodities energéticas pelo mundo.

Trabalhador caminha por campo de petróleo em Ufa, na Rússia Foto: Andrey Rudakov/Bloomberg/The Washington Post - 5/3/2016

Segundo Boutin, a maior parte do diesel russo tem entrado no Brasil pelo porto de Paranaguá, no Paraná, em função de um déficit temporário de produto nacional relacionado à uma parada para manutenção na refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), da Petrobras.

Localizada em Araucária, também no Paraná, a unidade é responsável por 12% da produção nacional de combustíveis, e atende os mercados do Paraná, Santa Catarina, além do sul de São Paulo e do Mato Grosso do Sul. É justamente nessas regiões que mais tem sido consumido o diesel russo importado. Mas, segundo Boutin, as cargas daquele País já estão ganhando todo o território e, em março, chegaram ao porto de Suape, em Pernambuco, para atender também ao Norte e Nordeste do País.

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O efeito “diesel russo”

Historicamente, o Brasil importa até 30% de todo o diesel que consome. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 2022, essa parcela importada foi de 27,86% do total consumido ou 15,8 bilhões de litros de diesel.

A maior parte dessa importação relativa a 2022, 57,5% ou 9,1 bilhões de litros, veio dos Estados Unidos, em geral de produtores instalados no Golfo do México. No mesmo período, somente 0,7% (121 milhões de litros) veio da Rússia, participação que deve saltar esse ano. Para efeito de comparação, em março, segundo o MDIC, a parcela do diesel trazido ao País de origem russa (18,5%) ainda ficou atrás, mas já se aproximou do volume embarcado dos Estados Unidos e da Índia, que responderam por 28% e 27% respectivamente das compras nacionais do combustível.

A ANP ainda não divulgou dados de importação de combustíveis relativos a 2023. Mas dados do MDIC levantados pelo Estadão/Broadcast dão uma dimensão do impacto do diesel russo nas importações do País: a categoria “óleos combustíveis de petróleo ou minerais betuminosos exceto óleos brutos”, na qual se insere o diesel, já ocupa 34% da pauta de produtos importados da Rússia pelo Brasil esse ano, ante 14% em todo 2022. Isso equivale, no primeiro trimestre, a US$ 600 milhões em importações, montante 2.876% superior ao registrado no mesmo período do ano passado (US$ 20,2 milhões).

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