BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira, 21, que o projeto de lei enviado pelo governo federal que amplia a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil vai ser aprovado pelo Congresso. Ele reconheceu que o problema não é a medida em si, mas a forma de compensar a perda de arrecadação com a proposta - o governo propôs a criação de um imposto mínimo para alta renda.
“(O projeto) Vai passar (no Congresso). O problema não é da medida em si. Tanto é que todo mundo prometeu. O presidente Lula está cumprindo. O antecessor dele (Jair Bolsonaro) prometeu e não mandou. Por quê? A dificuldade é fazer quem não paga pagar para compensar, que é a contrapartida. É aí que pega”, disse em entrevista ao podcast Inteligência Ltda.

Ele disse que, como a ampliação da isenção do IR também foi promessa de campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), será difícil que seu partido vote contra a proposta.
“O que a gente combinou que não vai poder é dar o benefício sem compensação. Senão, pode dar inflação, pode dar tudo”, disse. Ele afirmou que se o Congresso apresentar outra alternativa para compensação, a Receita Federal fará as contas para atestar os valores da proposta. Ele reforçou ainda que o governo chamará o Tribunal de Contas da União (TCU) para o debate, assim como foi feito na reforma tributária.
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O ministro reiterou ainda seu compromisso com o ajuste de contas e disse que este é o trabalho que tem sido feito na sua gestão à frente da Fazenda.
Novo consignado privado
Haddad disse que há uma expectativa de que a concorrência entre os bancos promova uma redução dos juros no novo consignado privado, além do maior acesso aos dados sobre a vida financeira dos trabalhadores.
“Você imagina se a gente for promovendo uma maior conhecimento por parte do sistema financeiro da vida do trabalhador, ele olhando o histórico da pessoa, ele vai falar, ‘esse cara tem toda a condição de pagar esse empréstimo’. Não tem porquê eu cobrar 5% dele, cobrar 6% ao mês, eu tenho confiança no histórico dele e vou jogar essa taxa lá pra baixo”, disse.
Preço dos alimentos
O ministro disse acreditar que os preços dos alimentos irão cair, apesar de ter admitido que alguns itens inspiram mais cuidados, como o café e o ovo. Já o ciclo do boi, segundo ele, pode chegar ao fim mais rapidamente.
“O preço do alimento, eu acredito que vai cair. Alguns itens eu tenho maior preocupação. Tem alguns itens que estão me inspirando mais cuidado. Por exemplo, o aumento da demanda mundial por café inspira cuidado. Porque, por exemplo, a Ásia é um continente onde se toma muito chá. E se você migra para o café, se começa a aumentar muito como parece estar acontecendo. Eu devo receber uma análise disso nas próximas semanas, você pode ter um impacto nos preços mais duradouro”, disse.
Ele disse ainda que o ovo é outra preocupação. “Nós exportamos pouco ovo. A nossa exportação de ovo é muito pequena. Mas pode estar havendo concentração de mercado. Pode estar tendo especulação com o preço”, disse. Ele afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu aos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário para entenderem o que tem ocorrido com os preços dos ovos.
Ele disse, por outro lado, que outros itens terão seus preços acomodados. A safra deste mês e a queda no dólar vão contribuir neste quadro, segundo o ministro.
Pix e ‘taxa das blusinhas’
Durante o podcast, Haddad voltou a dizer que o governo não irá taxar o Pix. A discussão gerou polêmica após a Receita Federal editar uma portaria que ampliava o monitoramento sobre transações financeiras, incluindo o Pix.
A medida foi revogada diante da onda de circulação de informações falsas e distorcidas sobre o tema - entre elas, a de que o meio de pagamento seria taxado. O governo publicou posteriormente uma Medida Provisória (MP) para reforçar a gratuidade e o sigilo do Pix.
“Eu penso que a extrema-direita tem um domínio das redes sociais muito superior ao nosso. Eu vivi isso em 2018. Eu vi a operação acontecer de um jeito que... Você veja que o (Donald) Trump estava lá com todas as big techs na primeira fila da posse dele. Ou seja, isso aí virou uma questão importante”, disse.
Haddad também comentou sobre a polêmica surgida em 2023 sobre a proposta do governo de “taxar as blusinhas”. Ele admitiu que sugeriu elevar o imposto de importação sobre produtos importados, mas reforçou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não autorizou a medida.
Ele disse ainda que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem proposto “taxar tudo” para proteger o emprego no país, mas avaliou que as medidas têm gerado uma “sobretaxa”.
Inflação na meta?
O ministro disse que o governo federal tem condições de trazer a inflação para a meta – de 3% –, apesar de ter dito que, desde a criação do Plano Real, em apenas três anos a inflação ficou abaixo de 4%.
“O ideal é trazer o mais perto possível de 3%, como já aconteceu. Poucas vezes, é verdade. Eu vou te dizer uma coisa, desde que existe o Plano Real, em apenas três anos a inflação ficou abaixo de 4%. Nos 26 anos de Plano Real, em apenas três, a inflação ficou abaixo de 4%, não de 3, de 4%. Os países todos estão com dificuldade em trazer a inflação para a meta. Mas nós temos condição de apertar para a inflação cair”, disse.
Ele reconheceu ainda que o cenário externo e inflação fora da meta prejudicam a retomada do grau de investimento. “O mundo precisa ajudar um pouquinho, porque a economia internacional não está legal, a taxa de juros nos Estados Unidos ainda está muito alta, nós ainda temos aqui um trabalho a fazer para ajustar as contas públicas que foram herdadas. Depois de 10 anos de muito déficit, a gente está tentando recuperar as contas públicas”, avaliou.
Ele repetiu ainda que o cenário indica que o Brasil terá uma super safra este ano, o que contribuirá para a queda do dólar que, segundo ele, já está em processo de melhora. Ele também reforçou que o Banco Central tem feito sua parte , com aumento de juros, para amenizar a pressão da demanda agregada sobre os preços.