Incerteza externa domina reunião do BC com economistas às vésperas de novas tarifas de Trump

Único consenso entre os participantes do encontro com os diretores do Banco Central é que a incerteza aumentou e que ainda não é possível cravar qual será o efeito do tarifaço no Brasil

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Foto do author Cícero Cotrim
Atualização:

BRASÍLIA - Dois dias antes de uma onda histórica de tarifas dos Estados Unidos sobre importações nesta quarta-feira, 2, que o presidente Donald Trump vem chamando de “Liberation Day”, a incerteza sobre o cenário externo dominou a reunião entre economistas e diretores do Banco Central nesta segunda-feira, 31.

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Participantes do encontro relataram ao Estadão/Broadcast, sob a condição de anonimato, que o debate acerca dos impactos das tarifas tomou a maior parte do tempo. O único consenso dos economistas, disseram esses participantes, é que a incerteza aumentou e que ainda não é possível cravar qual será o efeito do tarifaço.

Em linhas gerais, a avaliação dos analistas é que a mudança na política comercial americana vai levar a uma desaceleração da economia do país e, consequentemente, a um cenário de juros mais baixos. Isso, teoricamente, seria positivo para o real — mas o aumento da aversão ao risco pode enfraquecer a moeda brasileira e pressionar o IPCA.

Atualmente, taxa básica está em 14,25% ao ano, e BC já indicou que fará uma nova elevação  Foto: Dida Sampaio/Estadão

O debate ecoa os dois riscos decorrentes dos EUA para a inflação brasileira detalhados pelo Banco Central no Relatório de Política Monetária (RPM) da semana passada. Na entrevista à imprensa para comentar o documento, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, disse que os riscos não são excludentes.

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Sobre o cenário doméstico, a maioria dos analistas concluiu que o crescimento da economia deve ser maior do que se esperava este ano, devido a medidas como o novo consignado privado. Esse quadro acaba implicando em uma inflação alta por mais tempo, exigindo que o BC mantenha os juros em nível restritivo.

Esse cenário de juro alto por mais tempo não deve ter impacto relevante para as grandes empresas, que estão capitalizadas. Mas pode resultar em uma consolidação do mercado, já que pequenas e médias empresas têm menos estofo para evitar os efeitos.

A maioria das projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2025 ficou entre 1,8% e 2,3%, enquanto as estimativas para a inflação estiveram entre 5% e 6%. Para a Selic, os economistas esperam um nível de 15,0% a 15,5% no fim do ciclo. Atualmente, a taxa básica está em 14,25% ao ano, e o BC já indicou que fará uma nova elevação, menor do que 1 ponto porcentual, em maio.

A reunião aconteceu na manhã desta segunda-feira, na sede do BC em São Paulo, na Avenida Paulista. Pela autoridade monetária, participaram do encontro Guillen e o diretor de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos, Paulo Picchetti. Os encontros servem para que a autarquia possa acompanhar a percepção dos agentes sobre a economia.

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