As incorporadoras que atuam no segmento de média e alta renda mostraram balanços no segundo trimestre mais resilientes do que o esperado pelos analistas do setor. A previsão era de vendas e lucratividade pressionados pelos juros altos, que aumentam as despesas financeiras e dificultam a concessão de crédito para a compra da casa própria. Mesmo assim, o desempenho das empresas, em geral, foi positivo e com uma perspectiva mais animadora após o início do ciclo de cortes da Selic.
O lucro líquido de oito incorporadoras do segmento listadas na Bolsa - Cyrela, Even, Eztec, Gafisa, Lavvi, Mitre, Trisul e Tecnisa - atingiu R$ 478 milhões no segundo trimestre de 2023, alta de 53% em relação ao mesmo período de 2022. A receita líquida totalizou R$ 3,7 bilhões, aumento de 23%. Já a margem bruta média baixou de 28,4% para 27,3%. Os lançamentos totais cresceram 24%, para R$ 5,9 bilhões, enquanto as vendas líquidas avançaram 33%, para R$ 4,1 bilhões.
“A performance de vendas das incorporadoras surpreendeu, dado os juros elevados e o poder de compra apertado. Os resultados financeiros não foram ótimos, mas foram muito bons”, comenta a analista de mercado imobiliário do Santander, Fanny Oreng.
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Uma pesquisa realizada pelo Santander mostra que 50% das empresas encerraram o trimestre com planos de expandir os lançamentos nos próximos 12 meses. Trata-se de uma melhora, já que eram apenas 40% no trimestre anterior.
“A grande causa disso é o corte nos juros. As empresas do médio alto estão mais animadas com o cenário macroeconômico”, avalia Oreng. “Mas acredito que isso ainda vai ter de ser seletivo porque o mercado ainda não está uma maravilha”, complementa a analista do Santander, referindo-se aos juros altos dos financiamentos.
O analista do Citi, Andre Mazini, também estima um cenário mais promissor. “A tendência, indubitavelmente, é de melhora. Mesmo com as condições super restritivas de juros a 13,75%, o mercado de média-alta segurou um bom volume de lançamentos. Com juros caindo, as condições melhoram”, diz.
Segundo Mazini, o efeito do juro menor deve ajudar a reduzir as despesas financeiras das incorporadoras com as suas dívidas corporativas e engrossar o lucro líquido. Já uma redução do juro do crédito para a compra da moradia ainda deve demorar um pouco. Isso porque o momento é de escassez de recursos das cadernetas de poupança, que servem de fonte de recursos para essa categoria de financiamento. “Ainda demora talvez um ano para chegar na ponta para o comprador do imóvel, pois depende de voltar a haver maior captação de poupança”, prevê Mazini.
Por sua vez, o sócio e presidente da consultoria Brain Inteligência Estratégia, Fábio Tadeu Araújo, acredita que o segmento de alto padrão deve ficar estável em termos de lançamentos ou até mostrar uma leve queda. “Tem pouco espaço para crescimento porque este setor já vem de um patamar muito elevado de lançamentos nos últimos dois anos. Foi o setor que mais cresceu desde a pandemia”, pondera.
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